postado em 22/05/2010 10:57
A crise na Europa é seríssima e a única saída para a Espanha é deixar imediatamente a União Europeia, afirma o economista Decio Munhoz. Professor da Universidade de Brasília (UnB), Munhoz diz que, se a Espanha permanecer no bloco, será obrigada a ;engolir o remédio amargo; do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pode levar o desemprego e o empobrecimento ao país.Entre os países do Continente Europeu que a adotaram o euro como moeda comum, a situação é mais preocupante atualmente na Espanha, em Portugal e na Grécia.
A crise, que parecia ser passageira, tem abalado os mercados financeiros de todo o mundo, provocando queda nas bolsas de valores e aumentando a aversão dos investidores ao risco.
Para Munhoz, a crise está longe de ser resolvida, já que os países ricos da Europa só admitiram a Espanha, Portugal e a Grécia no bloco econômico ;porque não podiam conviver com nações pobres ao lado;, deixando de levar em consideração as diferenças culturais, políticas e econômicas.
;Pressionaram para que eles [Espanha, Portugal e Grécia] mudassem para o grupo dos países ricos, com um patamar de vida mais alto, mas agora dizem a eles que terão que tomar o remédio amargo do FMI e empobrecer. Que contradição!”
O professor lembrou que, com o fim da União Soviética, os países que estavam em sua órbita, foram atraídos para a zona da euro mais por questões políticas do que econômicas. Segundo ele, o objetivo foi muito mais de ocupar espaços e, estrategicamente, manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que reúne, entre outros, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a
Grã-Bretanha, nas ;barbas; da Rússia.
;Ou seja, ampliou-se o leque de nações completamente diferentes em tudo. E agora, o mínimo que poderá acontecer é ter um monte de países fora da zona do euro e um núcleo central muito pequeno na zona do euro;, afirmou Munhoz.
Para ele, o ;germe da desintegração; está ligado a esse problema da moeda ter paridades fixas e, paralelamente a isso, imaginar que se teria inflação e déficits orçamentários iguais, em torno de 3% em países tão desiguais. Ele explicou que, à medida que são realidades diferentes, quem tem mais problemas, como a inflação, começa a ficar mais fraco, passa a ter dificuldade para exportar e aí aumentam as importações, já que o câmbio também foi valorizado. Segundo o professor, foram impostas regras no sistema muito duras para um grupo grande de países com economias heterogêneas.
Munhoz ressaltou que o problema parece não ser tão localizado e tem consequências ;imprevisíveis, tendendo a se agravar;. Isso porque o atual crescimento da economia tem sido muito estimulado pela China, muito integrada à economia norte-americana. Mas a China, mesmo com o crescimento extraordinário, é uma grande economia exportadora que, por outro lado, convive com uma distorção interna brutal que é a distribuição de renda.
;É o país voltando a 1945, à Grande Caminhada de Mao Tsé-Tung [fundador e dirigente da República Popular da China, morto em 1976], em que muitos morrem de frio à noite e outros estão em apartamentos de luxo refrigerados.;
Para ele, no entanto, será muito difícil manter esse modelo na China e o país se integrar à economia americana, tendo-a como mercado. Os Estados Unidos terão dificuldade de encontrar na Europa parceiros comerciais como é a China na Ásia.
Munhoz acredita que se a China se abrir ao mercado haverá recuperação, com todos exportando bastante para aquele país, incluindo os Estados Unidos que conseguiriam ;colocar sua economia nos trilhos;. O nó, porém, que precisa ser desatado é: se a China abrir seu mercado perde a produção destinada à exportação, agrava o problema do emprego e aumenta as distorções internas.
;Então, a coisa não está definida e está muito difícil. Além do mais, a questão econômica tem transcendência política também. Os Estados Unidos, tudo indica, para saírem desta crise têm que reacender a guerra fria, exportar canhões, e não manteiga. Porque manteiga as pessoas não têm dinheiro para comprar.;
Nessa situação, o professor avalia que não há muita diferença entre o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o antecessor dele, George Bush. ;Se você colocar o corpo do Obama com a cara do Bush, não altera nada.;
Para o Brasil, a saída seria o fortalecimento interno. No entanto, diz Munhoz, o mercado financeiro não ajuda por querer concentrar renda e poder. Ele acredita que o país tem condições de se vacinar contra esse tipo de problema, mas existe uma armadilha preparada pelo próprio mercado financeiro, a tomada de decisões.
Munhoz lembrou que a entrada líquida de capital estrangeiro para aplicar em papéis no Brasil, desde o início do governo passado, ficou em cerca de US$ 40 bilhões (o que entrou e saiu). Foram trazidos aproximadamente de US$ 600 bilhões a US$ 700 bilhões, mas como houve forte remessa de lucros e dividendos, sobraram US$ 350 em papéis no Brasil. ;Nós estamos na mão deles e por isso jogam a bolsa para baixo, jogam o dólar para cima. Então, a nossa situação também é frágil.;