Economia

Alívio nos mercados

Semana de nervosismo termina com dia tranquilo. Bovespa sobe 3,55% e supera 60 mil pontos. O dólar fecha a R$ 1,861

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 22/05/2010 11:06
Após uma semana marcada por fortes quedas nas principais bolsas de valores do mundo, ontem foi o dia da virada. Ainda é cedo para dizer se o bom humor mostrado pelos investidores vai durar. Mas, de qualquer maneira, os mercados tiveram um alívio em meio ao pânico generalizado pelos efeitos da crise europeia. O nervosismo com os problemas fiscais dos países da Zona do Euro diminuiu depois que o Parlamento alemão aprovou uma lei que autoriza o país a contribuir com o socorro financeiro à Grécia e outras nações atingidas pelo efeito cascata do elevado endividamento público.

Outro fator de calmaria foi a aprovação, no Senado norte-americano, do novo sistema de regulação financeira. Os investidores esperavam o pior, mas depois da divulgação das regras, o entendimento é que as mudanças não serão tão prejudiciais aos bancos como o esperado. ;Poderia ter sido pior;, afirmou Mace Blicksilver, de Marblehead Asset Management. Com novo fôlego depois dessas notícias, a Bolsa de Valores de São Paulo voltou a subir, depois de enfrentar seis sessões consecutivas no vermelho. O Ibovespa, principal índice, subiu 3,55%, voltando a ultrapassar a marca dos 60 mil pontos. Ele fechou aos 60.259 pontos. Mesmo assim, acumulou, na semana, baixa de 5%. No mês, o tombo já é de 10,8%.

A alta de ontem foi patrocinada pelo desempenho das ações da Vale e siderúrgicas. As compras vieram, sobretudo, de investidores domésticos. Em Nova York, as altas foram modestas.

O índice Dow Jones subiu 1,25% e o Nasdaq, 1,14%. Na avaliação de especialistas, o setor financeiro norte-americano ajudou a colocar as bolsas dos Estados Unidos e do Brasil no azul.

Restrições
As seguradoras, os fundos especulativos, as bolsas de derivativos e os administradores de recursos serão menos prejudicados do que os grandes bancos pelas restrições impostas na lei de reforma da regulação financeira aprovada pelo Senado dos EUA. As medidas, para virarem lei, terão de ser conciliadas com as propostas da Câmara dos Deputados aprovadas em dezembro.

Na Europa, ao contrário, as principais bolsas terminaram em baixa, mesmo depois de o Parlamento da Alemanha ter aprovado o pacote de contribuição do país: Londres (-0,20%), Paris (-0,05%), Frankfurt (-0,66%). Mas teve algum efeito o fato de os ministros de Finanças da União Europeia apoiarem os pedidos de sanções mais rígidas contra os países que quebrarem as regras orçamentárias do bloco.

Comentários feitos pelo presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, de que a moeda comum não está em perigo somaram-se ao tom positivo e deram pequeno fôlego ao euro, que caminhava para a primeira alta semanal ante o dólar em seis semanas (leia reportagem abaixo). No mercado doméstico, o dólar recuou em relação ao real depois de seis altas consecutivas, quando acumulou valorização de 4,90%. No fim do dia de negócios, a cotação foi de R$ 1,861, com queda de 0,05%.

Confiança em baixa
A confiança empresarial na Alemanha caiu de 101,6 pontos para 101,5, contrariando expectativas de alta para 102. O crescimento do setor privado desacelerou, com a crise da dívida da Zona do Euro obscurecendo as perspectivas para a maior economia da Europa. Temores de que os mercados da região entrem em colapso levaram uma grande dose de incerteza às companhias alemãs. Mas, ao exacerbar a queda do euro, essas mesmas preocupações estão impulsionando a competitividade das exportações do país para outros blocos econômicos.

Se as pessoas observarem que as medidas de austeridade estão sendo cumpridas, sem discrepâncias entre os países da Zona do Euro, isso ajudará muito;
Samarkit Shankar, analista do Banco BNY Mellon



Euro sobe 0,86%

ADepois de enfrentar um forte ataque especulativo e tombar ao nível mais baixo em quatro anos, o euro recuperou o fôlego e subiu ontem 0,86%, cotado a US$ 1,275. A alta foi sustentada pela decisão do Parlamento alemão de aprovar um megapacote de ajuda às nações mais endividadas da Zona do Euro. A moeda única também registrou valorização frente à divisa japonesa, passando a ser cotada a 113,03 ienes contra 111,88 do dia anterior. Os números deram um grande alívio às autoridades europeias, que acreditam ter controlado o processo de derretimento do euro.

O pacote aprovado pelo Parlamento alemão para o grande plano de resgate europeu chegou a 148 bilhões de euros (US$ 188,7 bilhões). ;Pelo menos a participação da Alemanha está garantida. E isso dá uma segurança maior ao socorro;, disse à agência Reuters Samarkit Shankar, analista do Banco BNY Mellon. ;As pessoas querem ver sinais concretos de avanço e a ratificação alemã é um grande passo nessa direção. Se, na próxima semana, observarem que as medidas de austeridade estão sendo cumpridas, que os poderes públicos têm uma só voz, sem discrepâncias entre os países da Zona do Euro, isso ajudará muito;, acrescentou.

Para analistas do Banco Commerzbak, no momento, o otimismo se instala (nos mercados), apoiado na ideia de que as políticas para dominar a situação serão ;bem-sucedidas;.


O número
pacote
Parlamento alemão aprova ajuda de 148 bilhões de euros
aos países em dificuldade

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