Marcone Gonçalves
postado em 23/05/2010 11:26
Com as mudanças no padrão de consumo, as companhias terão mais oportunidades pela frente, mas também novos desafios. Isso porque elas vão encontrar clientes mais exigentes, atentos às mensagens publicitárias, mais dispostos a experimentar e inovar e, portanto, menos previsíveis e menos fiéis às marcas. Segundo Paulo Carramenha, coordenador do Instituto GfK e responsável no Brasil pela aplicação da pesquisa mundial sobre tendências de consumo, uma das oportunidades mais óbvias para os empresários é a ascensão social de milhões de pessoas.No Brasil, os chamados emergentes ; 30 milhões que emergiram nos últimos seis anos ; injetaram na economia pelo menos mais R$ 140 bilhões por ano, favorecidos pelo controle da inflação, pelo aumento da renda e também pelos programas governamentais como o Bolsa-Família. As classes C, D e E representam agora 71% do consumo total e já estimularam lançamentos de marcas e produtos voltados para esse segmento.
A corretora de imóveis Ana Lúcia Batista, 37 anos, exemplifica essa tendência. Filha de uma costureira e de um lavrador de Imperatriz, no Maranhão, ela chegou a Brasília com 12 anos, casou-se aos 18 e aos 20 já tinha tido seus três filhos. Divorciada há quatro anos, ela tem um carro zero na garagem e mantém, sozinha, sua casa e o consumo dos três filhos. ;Não tenho empregada, eu mesmo faço a faxina de casa de madrugada, até porque não abro mão de viajar para a praia duas vezes ao ano;, afirma.
Ricos
Outra onda igualmente forte de consumo está relacionada com a presença dos idosos no mercado de consumo. Eles são mais ricos: essa faixa etária corresponde a 43% da classe de renda mais alta (acima de dez salários mínimos). As empresas já fizeram as contas e notaram a importância desse segmento. A Fiat calcula que hoje 12% dos compradores de seus carros têm mais de 50 anos. Em 2030, eles serão 20%. A operadora de turismo CVC estima que o total de clientes de seus pacotes de viagens com mais de 50 anos de idade passará de 750 mil atualmente para, pelo menos, 1,4 milhão em 2011.
Para Carmem Fraga, 58 anos, servidora pública aposentada, a entrada na terceira idade será muito melhor do que imaginava. Ela ocupa o seu tempo como voluntária no Hospital Universitário de Brasília mas, principalmente, como professora de artes plásticas, uma vocação que ficou reprimida nos anos em que teve que sustentar sua casa e cuidar de duas filhas gêmeas. O resultado foi uma renda maior do que a que tinha quando trabalhava no setor público. ;Hoje, eu e meu marido frequentamos academia, vamos a um bom restaurante pelo menos uma vez na semana e viajamos uma vez por ano para a Europa. E não pretendemos parar de fazer isso;, conta.
A psicóloga Fernanda Pelosi e a servidora Dulce Maria da Silva também integram uma outra tendência de mercado que é o aumento do número de pessoas que vivem sozinhas, os singles, entre os quais também se incluem casais sem filhos. Eles estão entres os consumidores mais preocupados com uma alimentação saudável. A evolução desse grupo é reveladora. De acordo com o IBGE, as famílias com até dois integrantes passaram de 22% do total em 1996 para 31% em 2008. E a explicação para isso está no fato de as pessoas casarem cada vez mais tarde e viverem relacionamentos cada vez menos duradouros.
Boca a boca
As tendências do consumo revelam ainda que produtos e serviços que podem ser experimentados, valorizam a individualidade e são impulsionados pela propaganda boca a boca levam vantagem sobre os demais. É o que explica o sucesso da loja da Sony aberta em novembro de 2008 no Parkshopping. No local, o consumidor testa os equipamentos conectados à internet, utiliza os aparelhos em instalações especiais. Com isso, o faturamento aumentou em torno de 10% ao mês, sem que a loja fizesse qualquer publicidade.
A gerente Alessandra Souza, 29 anos, e a consultora de vendas da Sony, Nikolle Nunes, 22, observaram as características diferenciadas das pessoas. ;Os homens consomem mais computadores, as mulheres lideram as compras de câmaras fotográficas;, assinala Nikolle, para quem parte do movimento da loja é puxado por solteiros e casais gays. ;Eles são os que mais consomem tecnologia de ponta, compram os produtos melhores e mais caros;, frisa.
Discurso correto
De acordo com a pesquisadora Camila Jorge Haddad, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (Gvces), o maior obstáculo para o consumo sustentável é a falta de transparência das empresas, a dificuldade de obter e de entender informações. ;As palavras ;verde;, ;ecológico; e ;sustentável; inundam as prateleiras, mas poucas vezes o consumidores entendem do que se trata. Como saber o que é ;maquiagem; e o que é real? Mesmo para os mais esclarecidos, as respostas não vêm de pronto;, explica Camila.