postado em 26/05/2010 07:28
São Paulo ; O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse em São Paulo que a economia brasileira não corre riscos por causa da crise na Europa provocada pelos desequilíbrios nas contas públicas, apesar de o deficit brasileiro também ter crescido em função da crise mundial. ;No Brasil, não há os riscos que existem em outros países. (...) Gostaria de ver outras das 86 economias do FMI se saindo tão bem quanto o Brasil;, disse Strauss-Kahn no fórum A economia global no mundo pós-crise.Na avaliação do executivo, a dívida pública de todos os países aumentou durante a crise mundial, mas esse comportamento não se deve aos pacotes de estímulo. ;A crise decorre do declínio econômico;, sentenciou. Segundo ele, a maior vantagem do Brasil é ter entrado na crise com um nível de dívida muito baixo em relação aos países avançados. ;Lá fora, o Brasil passa a imagem de que existem boas perspectivas para a economia. Eu não vejo nenhuma ameaça à economia brasileira;, ressaltou Strauss-Kahn. E completou: ;Todos os países do mundo devem estar gratos pela parcela de crescimento que provém dos países emergentes como o Brasil;.
O executivo do FMI classificou como uma ;realidade; o crescimento de 7% da economia brasileira no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva; e fez uma ressalva: ;É claro que há risco de superaquecimento. Mas acho que o governo está perfeitamente consciente disso e tomando medidas corretas. (...) Nossa previsão para 2011 é que a economia voltará a crescer entre 4,5% ou 5%;, previu. Segundo o Boletim Focus, divulgado esta semana pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve fechar o ano com um crescimento de 6,46%.
Europa
Segundo Strauss-Kahn, a crise financeira ensinou ao mundo que não há como fugir da globalização e que é preciso haver cooperação geral para a solução dos problemas. ;Evitamos um problema tão grave quanto a Grande Depressão principalmente porque a comunidade internacional somou esforços. É mais fácil fazer todos trabalharem juntos quando se tem medo;, disse. Para ele, parte da instabilidade dos mercados financeiros causada pela crise fiscal(1) em alguns países da Europa vai reduzir até o fim do ano. Mas ele não acredita que a crise na Grécia, que respinga no mundo todo, seja resolvida em médio prazo. ;O problema da Grécia é complicado e resolvível em longo prazo, bem como o plano de recuperação estabelecido pelas autoridades europeias;, ressaltou.
O executivo explicou que a crise da dívida grega não será resolvida apenas com a reestruturação da dívida. ;A Grécia tem dois problemas: o tamanho do deficit e a competitividade, já que, nos últimos cinco anos, 25% da competitividade em relação aos países médios foram perdidos;, ressaltou. Strauss-Kahn disse ainda que o esforço mais penoso para os gregos será reconstruir a sua capacidade de disputar mercado com outras nações.
1 - Recuperação econômica
James Bullard, um dos diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), minimizou a ameaça representada pela crise grega na reativação da economia mundial. ;Há muitas razões pelas quais esta nova ameaça à recuperação mundial provavelmente não se transformará em um choque de recessão planetário;, afirmou ele. ;Uma delas é que se trata de uma dívida de Estado e tivemos crise de dívida há muitos anos;, disse, referindo-se ao calote da dívida da Rússia em 1988, lembrando que isso não levou a uma recessão mundial.
O número
24 bilhões de euros
Valor que o governo italiano vai cortar em suas despesas nos anos de 2011 e 2012
É a vez da Itália
O governo italiano aprovou na noite de ontem uma série de medidas para cortar 24 bilhões de euros (US$ 29 bilhões) de suas despesas em 2011 e 2012. Com isso, a Itália passa a ser o mais recente dos países da Zona do Euro a anunciar um pacote de austeridade. Mais cedo, ainda nesta semana, Inglaterra e Dinamarca também adotaram ações para conter os gastos governamentais.
[SAIBAMAIS]O pacote inclui o congelamento de três anos dos salários no setor público e uma redução nos pagamentos para importantes funcionários do governo, informou em comunicado oficial o gabinete do primeiro-ministro. No total, as medidas equivalem a cerca de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
;Os cortes orçamentários estão centralizados em uma redução das despesas estatais, a diminuição no custo das administrações pública e política. Com relação às receitas, as medidas focam a evasão fiscal;, diz o documento. O decreto emergencial também abrange a redução de fraude em propriedade por requerentes não autorizados e atrasa aposentadorias previstas para o próximo ano, mas não inclui aumento de impostos, segundo o comunicado.
A intenção do governo é reduzir o seu deficit para menos de 3% do PIB em 2012. Hoje, o rombo nas contas públicas italianas é de 5,3% do PIB.
UE alerta a Grécia
A União Europeia enviou à Grécia uma carta para lembrá-la de cumprir os termos do acordo de resgate de 110 bilhões de euros, disseram autoridades, dias antes de negociações sobre a reforma da aposentadoria. A carta foi enviada depois de o ministro do Trabalho grego ter dito no início da semana que a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estavam pedindo o endurecimento da reforma da aposentadoria, que é exigida pelo acordo multibilionário de resgate feito neste mês.
A reforma da aposentadoria é uma importante medida do desempenho da Grécia no programa de resgate de três anos. Qualquer dificuldade pode gerar dúvidas sobre a disposição do governo de implantar o programa. Pela proposta, os pensionistas teriam benefícios completos após 37 anos de contribuição, três anos mais cedo do que o acertado com a UE.
;Nós estamos discutindo com a Grécia como fazer a reforma da aposentadoria compatível com o memorando do acordo;, disse Marco Buti, diretor-geral para Assuntos Econômicos e Monetários da Comissão Europeia à Reuters.