Agência France-Presse
postado em 27/05/2010 10:09
Os deputados espanhois aprovaram nesta quinta-feira (27/5) por um único voto de diferença o impopular plano de austeridade do governo socialista, depois de um debate que revela o profundo isolamento do presidente de Governo, José Luis Rodriguez Zapatero.Apenas um voto de diferença (169 votos a favor, 168 contra e 13 abstenções) permitiu a adoção do decreto lei do governo que inclui uma redução salarial do funcionalismo a partir de junho e o congelamento das pensões em 2011 para acelerar a redução do déficit público do país.
O governo socialista, que havia jurado jamais tocar nas conquistais sociais, se viu obrigado a anunciar esta medidas sob pressão dos mercados e de seus sócios europeus.
A intenção é economizar 15 bilhões de euros em 2010 e 2011 para acelerar a redução do déficit público, que chegou a 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 e que quer baixar para 3% em 2013.
Um resultado negativo teria provavelmente provocado a queda de Zapatero e teria repercussões desastrosas para a Espanha e a Eurozona por parte de mercados financeiros já extremadamente nervosos.
O influente jornal El Pais (centro-esquerda) descreveu a votação como tão importante que "uma derrota do governo implicará no final abrupto da legislatura", enquanto o jornal de direita ABC mencionou na primeira página a "necessidade nacional" das eleições antecipadas.
"Estas medidas são dolorosas, mas indispensáveis", declarou, antes da votação, a ministra da Economia e Finanças, Elena Salgado, ante um parlamento completo.
Somente os deputados socialistas, que não têm maioria absoluta, aprovaram o texto.
Os demais grupos parlamentares votaram contra - como o Partido Popular (PP, direita), hostil ao congelamento das pensões, ou os ecologistas comunistas, que protestam contra a redução dos salários dos funcionários - ou se abstiveram.
De fato, o texto passou graças à abstenção dos 10 deputados nacionalistas catalães da Convergencia i Unio (CiU), que citaram o "senso de responsabilidade" como justificativa.
"Todo mundo sabe o que aconteceria se o governo não tivesse a capacidade de aprovar esse decreto de lei. Os mercados provocariam uma queda importante de nossa bolsa, os mercados castigariam nossa dívida e seria mais difícil emitir a dívida pública. Nossa responsabilidade é que a Espanha não caia num poço mais profundo. Não quero que a Espanha sofra intervenção como a Grécia", afirmou o secretário-geral do CiU, Duran i Leda.
Entre os maus presságios reservados para Zapatero agora se destaca o fato de que os deputados do Partido Nacionalista Basco (PNV) votaram contra seu decreto de lei, quando foi essa força que permitiu ao governo aprovar seus orçamentos anteriores.
Em queda livre na opinião pública, segundo uma pesquisa recente, Zapatero se focará agora na reestruturação das caixas econômicas em má situação pela explosão da bolha imobiliária e em uma delicada reforma do mercado trabalhista, que o levou a cancelar a visita que tinha previsto ao Brasil para participar no Fórum das Alianças das Civilizações.
Um novo momento de tensão já se vislumbra no horizonte próximo porque os sindicatos convocaram greve no funcionalismo para 8 de junho e não descartam a possibilidade de greve geral.