postado em 28/05/2010 08:31
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu ontem, em Londres, que o Brasil não passará ileso à crise da Zona do Euro. Segundo ele, as exportações brasileiras para aquela região deverão diminuir, o que contribuirá para aumentar o deficit nas contas externas neste ano. Para Meirelles, mesmo que o Brasil esteja melhor preparado para enfrentar as turbulências externas, certamente sentirá algum impacto, sobretudo porque a Europa é o maior mercado para os produtos vendidos pelo país.;As exportações podem cair um pouco para a Europa e outros países que exportam para a Europa;, afirmou o presidente do BC. ;A crise da Zona do Euro está, definitivamente, tendo um impacto;, emendou. Ele ressaltou, porém, não ver a possibilidade de se repetir um quadro tão ruim como o visto em 2008, quando estourou a bolha imobiliária americana. ;Mas, mesmo se ficar tão ruim quanto em 2008, o Banco Central tem todos os instrumentos prontos para agir;, avisou.
Taxação
Em encontro com investidores, ele comentou sobre a proposta da União Europeia de criar um imposto sobre os bancos para inibir capitais especulativos e criar um fundo que seria acionado em tempos de crise. Esse tema, afirmou Meirelles, deverá ser discutido em Seul, na Coreia, na reunião de ministros das Finanças do G-20, o grupo das 20 nações mais ricas do mundo. A seu ver, será difícil o tributo de ser implantado globalmente. ;Eu acho que é algo complexo para se cobrar globalmente. Nacionalmente, é possível;, disse.
Meirelles lembrou que, no Brasil, já há um imposto sobre a entrada de capital para investidores que vão para o mercado financeiro. ;O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) corresponde à sua proposta, mas foi feito sob medida. Um imposto global é uma questão a ser discutida. Como se sabe, o diabo mora nos detalhes;, acrescentou. A Alemanha é a maior defensora do imposto sobre os bancos e a França, a maior opositora.
REVISÃO DO PIB
; O Banco Central vai aumentar a sua estimativa de crescimento para o Brasil neste ano no relatório de inflação que será divulgado no fim de junho. Foi o que indicou o presidente da instituição, Henrique Meirelles, em encontro com investidores em Londres. Hoje, a projeção do BC é de 5,8%, bem inferior aos 6,46% indicados no Boletim Focus (que agrega as opiniões de 100 analistas de mercado) e aos 7% admitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). ;Nossa projeção para 2010 é conservadora. Mas vamos atualizá-la no mês que vem;, afirmou. Sobre a possibilidade de o Brasil estar vivendo um superaquecimento, ele foi taxativo. ;Estamos comprometidos com a meta de inflação para manter uma economia equilibrada. Para isso, estamos tomando as medidas necessárias;.
Bolsas têm alta de mais de 3%
A declaração oficial da China de que não reduzirá suas aplicações em títulos de países da Zona do Euro, que estão mergulhados na recessão, foi fundamental ontem para os investidores manterem o bom humor. Praticamente, todas os mercados acionários fecharam o dia em alta. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) ainda contou com a ajuda dos papéis da Vale, que computaram valorização de mais 6%.
O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, subiu 3,16%, para os 62.091 pontos. Com esse resultado, as perdas acumuladas em maio diminuíram para 8,05%. No ano, a bolsa cede 9,47%. ;Não sei se dá para comemorar. Mas que o clima melhorou no mercado, não há dúvida;, disse um analista. Segundo ele, somente 10 papéis registraram baixa ontem. Dias atrás, os dados mostravam exatamente o contrário.
Além do desmentido da China sobre as suas reservas em euro, o corte no Orçamento da Espanha de 15 bilhões de euros (leia matéria na página 16) e os preços mais baixos das ações convidaram os investidores a voltarem ao mercado. Essa volta ficou evidente, sobretudo na Europa, onde a Bolsa de Frankfurt subiu 3,11% e a de Londres, 3,12%. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 2,85%, aos 10.258 pontos, e a Nasdaq, a bolsa eletrônica, deu um salto de 3,73%.
No mercado de câmbio, o dólar foi cotado a R$ 1,826, com baixa de 1,60%, a maior queda desde o dia 10 deste mês (de 4,11%). O tombo foi atribuído à forte entrada de recursos no país, movimento capitaneado pelos exportadores, que têm optado por deixar parte de suas receitas fora do Brasil, desestimulados pelos baixos preços da moeda norte-americana nos últimos meses. A entrada de dólares foi tão forte que nem as compras do Banco Central evitaram a retração. A divisa já abriu em baixa de 0,86% e foi ampliando a retração até a mínima de R$ 1,815.
;Sempre que eu vejo um dia como o de hoje (ontem), fico preocupado. Por isso, aconselho as pessoas a não se entusiasmarem muito, porque as incertezas são grande. A crise na Europa está muito longe do fim. Ainda veremos muita oscilação no mercado;, afirmou um consultor financeiro de um grande banco.