Depois de uma invasão de mercadorias, as economias do Brasil e dos países vizinhos já começaram a ser invadidas por um tsunami de investimentos chineses, justamente no momento em que os Estados Unidos e a Europa, principais parceiros da América Latina, enfrentam dificuldades econômicas. Desde 2004, o ingresso de dólares provenientes da China na região não para de subir e totaliza US$ 24,6 bilhões somente na compra de indústrias, parcerias com governos e empréstimos para empresas nos setores de mineração, petróleo, siderurgia, financeiro e automobilístico (veja arte). No Brasil, em apenas três operações de compras de empresas, os chineses investiram quase US$ 10 bilhões desde o início do ano.
Um estudo produzido pelos economistas Márcio Holland e Fernando Barbi, professores da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV), revela a extensão do apetite da China. Os investimentos diretos daquele país, que durante os anos 90 não passavam de US$ 2,19 bilhões por ano, saltaram para US$ 52,15 bilhões em 2008. Segundo
Holland, essa política é considerada estratégica para garantir os 10% de crescimento anual do país asiático, que ocupa hoje o posto de terceira maior economia do planeta. Em 30 anos, de acordo com os especialistas, a economia chinesa poderá ultrapassar os Estados Unidos.
Com uma bem-sucedida estratégia comercial, os chineses passaram a ocupar o posto de maiores exportadores mundiais. Agora, eles usam os investimentos diretos, especialmente a aquisição de empresas, para obter fontes de matérias-primas, energia, e alimentos nos países em desenvolvimento e de tecnologia e inovação dos países desenvolvidos. ;O Brasil não passa de uma grande fazenda para os chineses, um lugar onde procuram garantir o abastecimento de minérios, de energia e de alimentos;, assinalou
Holland, ao apresentar a conclusão do trabalho durante seminário promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Comissão Econômica para América Latina (Cepal).
Petróleo
Nos cinco primeiros meses do ano, já foram anunciados uma série de investimentos chineses no Brasil, cujos valores superam US$ 9,2 bilhões. O mais recente, divulgado na última quinta-feira, informa que a empresa chinesa Pallas International pretende comprar até 250 mil hectares de terras no oeste da Bahia e no cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, confirmando a tese do economista. A companhia ainda não informou quanto pretende investir na produção de grãos para exportação.
Na sexta-feira da semana passada, a companhia chinesa Sinochem comprou por US$ 3,07 bilhões 40% do campo de petróleo Peregrino, na Bacia de Campos, até então sob a tutela da norueguesa Statoil. Em abril, outra empresa chinesa, a State Grids, anunciou a compra, de uma só vez, de sete transmissoras de energia elétrica por US$ 3,097 bilhões. É, até agora, o maior investimento na compra de empresas realizado no Brasil. Em março os chineses já haviam levado a mineradora Itaminas por US$ 2,2 bilhões.
Grécia honrará dívida
A Grécia não vai reestruturar sua dívida e pretende restaurar a confiança dos mercados, contando com investimentos estrangeiros para se recuperar, disse a ministra da Economia, Louka Katseli. A economia grega, a mais fraca da Zona do Euro, está implementando medidas rígidas, estipuladas no acordo de resgate com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para reduzir o enorme deficit e a elevada dívida em sua primeira recessão em 16 anos.
Ela disse em entrevista à Reuters que o ponto principal para impulsionar a economia é o investimento estrangeiro e que o ministério está trabalhando para obter o interesse de investidores ao redor do mundo, incluindo a China e o Oriente Médio. ;A locomotiva para o crescimento em 2011 e 2012 e mais adiante não será o consumo, como foi o caso no passado, especialmente em dinheiro emprestado. Nós antecipamos que serão o investimento privado e as exportações;, disse ela.
A ministra afirmou que os investidores serão convencidos da credibilidade do país com a mudança do clima corporativo e a melhora da competitividade. ;A Grécia não terá problemas para financiar sua dívida;, afirmou. ;Ela é uma sócia confiável.;
A ministra também negou que o governo tentaria renegociar o acordo de ajuda com a UE e o FMI, que exige cortes salariais, aumento de impostos e reforma do sistema de aposentadoria em troca de 110 bilhões de euros em empréstimos. ;Não há desejo nem possibilidade de renegociarmos;, disse.
ALEMANHA CONSIDERA AUMENTAR IMPOSTOS
; O governo da chanceler alemã, Angela Merkel, está cogitando aumentar certos impostos em busca de consolidação fiscal, divulgou o jornal alemão Handelsblatt, citando fontes do gabinete. O deficit da Alemanha, maior economia da Europa, deve crescer para mais de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, em parte devido a reduções de impostos que o governo Merkel concedeu no início de 2010. ;Nós não estamos discutindo a implementação de um novo imposto, como um imposto sobre riquezas, mas um peso maior sobre um pequeno grupo de contribuintes;, disse uma autoridade do governo ao jornal alemão. De acordo com outras fontes da coalizão, o governo está reconsiderando descontos para o imposto sobre valor agregado de certos produtos. Contudo, membros do Parlamento alemão continuam a descartar qualquer forma de aumento de impostos, preferindo cortar gastos.
Ajustar e crescer
Os países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) se comprometeram a reduzir seus deficits sem prejudicar o crescimento, segundo uma declaração publicada ao fim de uma reunião ministerial em Paris. ;É importante desenvolver planos de consolidação orçamentária de médio prazo concretos e transparentes;, afirmaram os 31 países democráticos mais ricos do mundo. ;Vamos aplicar isso de modo a não prejudicar o crescimento.;
A OCDE revisou para cima na quarta-feira suas estimativas de crescimento dos países desenvolvidos, que juntos deverão ter um aumento do PIB de 2,7% em 2010 e 2,8% em 2011, apesar de advertir que a dívida pública na Europa aumenta os riscos que existem sobre a economia mundial.
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse, durante encontro de representantes de ministérios das finanças das Américas, que é crucial a redução das vulnerabilidades fiscais nas economias avançadas. Já o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, afirmou que os países europeus com margens de manobra maiores que da Itália podem esperar até o ano que vem para a consolidação fiscal, mas não mais que isso.