Um breve passeio pelas vias de Brasília ou pelas principais capitais do país é suficiente para observar que o brasileiro está trocando de carro. E mais, que aumentou o número dos que preferem os importados. Uma olhadela na balança comercial do mês passado ; registro das trocas comerciais entre o Brasil e outros países ; confirma tal constatação. Apenas no mês passado, a importação de automóveis cresceu 72,5% quando comparada ao mesmo período de 2009. O item figura na lista das mercadorias que mais impulsionaram as compras externas brasileiras, que vão de camisetas a eletrodomésticos sofisticadíssimos.
Nos primeiros cinco meses do ano, a compra de carros de países estrangeiros aumentou 75,1% e os países que mais estão mandando sua produção para cá são Argentina, México e Coreia do Sul. Os veículos puxaram as importações dos bens de consumo (produtos fabricados fora do país prontos para serem vendidos no mercado interno), que aumentaram 55% ante maio de 2009 e somaram US$ 2,4 bilhões no mês. O valor representa compras de US$ 116 milhões por dia. No ano, as importações na mesma categoria de produtos aumentaram 47,2%s sobre os primeiros cinco meses do ano passado, somando US$ 11,2 bilhões.
Para André Sacconato, economista da Consultoria Tendências, as importações não devem ser vistas como um fator negativo, mesmo que representem menor saldo comercial. ;O brasileiro está ficando relativamente mais rico do que os moradores de alguns países (em função da valorização do real) e é normal que se importe mais;, disse. Além disso, acrescentou o analista, as importações ajudam combater a inflação, evitando o desabastecimento, ao suprir os setores em que a produção nacional não está dando conta. Elas também contribuem, no limite, para aumentar o preço do dólar, o que, em tese, favorece o exportador.
Semestre forte
A balança comercial registrou superavit de US$ 3,4 bilhões em maio, maior saldo positivo desde junho de 2009 (US$ 4,6 bilhões), graças, principalmente, ao aumento de quase 100% do minério de ferro. O desempenho decorreu de exportações de US$ 17,7 bilhões e de importações de US$ 14,2 bilhões. No acumulado do ano, o saldo comercial caiu 40,2%, chegando a US$ 5,6 bilhões, resultado de US$ 72,1 bilhões em embarques para o exterior e US$ 66,4 bilhões em compras de outros países.
Apesar do avanço na demanda de bens de consumo, as importações caíram 2,1% em relação a abril, principalmente porque o ritmo de crescimento dos gastos nacionais com matérias-primas e produtos intermediários, como insumos utilizados na indústria e na agricultura, desacelerou entre os dois meses. De acordo com a avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o ritmo de aumento das aquisições desses produtos passou de 64,6% em abril para 45,6%.
As matérias-primas e os intermediários são os produtos que mais pesam ; representam 47,2% da pauta ; nas importações nacionais. Em contrapartida, as compras de bens de capital (maquinário) continuaram tomando impulso, com peso de 35,9%, maior percentual desde outubro de 2008, quando a crise internacional ainda não afetava diretamente o consumo de máquinas e equipamento. A aceleração desse tipo de gastos significa mais investimentos na ampliação dos parques produtivos do país.
A avaliação do secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, é de que é as importações tendem a se manter fortes, especialmente no segundo semestre, devido à festas de fim de ano.
A Ásia é o bloco que mais cresce entre os parceiros comerciais no que diz respeito às compras brasileiras. No mês passado, as importações vindas de lá aumentaram 79,2%, para US$ 4,5 bilhões. Só a China, isoladamente, aumentou as importações para o Brasil em 64,8% no mesmo período, para US$ 1,8 bilhão.