Em contagem regressiva para as eleições, trabalhadores, empresários, bancos, servidores e o agronegócio intensificam o lobby junto aos pré-candidatos à Presidência da República para tentar emplacar propostas em programas de governo que ainda estão no forno. Algumas plataformas convergem para temas universais, de interesse comum aos brasileiros, como pedidos de mudanças nas áreas tributária, fiscal e trabalhista. No geral, porém, as reivindicações são exageradamente específicas, transformando o conjunto de demandas em uma colcha de retalhos sem fim.
A lista encaminhada pela indústria a Marina Silva (PV), José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) é a mais longa e eclética entre todas. Os donos de fábricas elegeram como pontos principais de sua agenda a manutenção da estabilidade macroeconômica e o compromisso do próximo presidente com a redução gradativa da burocracia. Exigem também atenção especial ao elevado custo do capital de giro e sugerem maior segurança jurídica nos atuais e nos futuros marcos regulatórios.
No documento oficial entregue aos presidenciáveis(1), o segmento que representa quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do pais vai além: é preciso combater os riscos de desindustrialização e incentivar o desenvolvimento de ramos fabris nas regiões mais pobres do Brasil. ;Períodos de maior crescimento são liderados pelo desempenho da indústria e dos investimentos que ela realiza. Estimular a indústria brasileira a manter-se competitiva, diversificada e líder do crescimento econômico é o caminho para o crescimento sustentado;, justifica o relatório de 240 páginas elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Para as maiores centrais sindicais do país, manter as políticas de estímulo ao crescimento é importante, mas as prioridades do próximo ocupante do Palácio do Planalto devem ser a abertura de mais vagas, a ampliação da renda, a redução da jornada de trabalho semanal do brasileiro e a reforma de instâncias burocráticas, como o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Comitê de Política Monetária (Copom). João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, explica que o terreno está fértil para a apresentação de ideias que privilegiam a ;democratização; do sistema econômico. Segundo ele, os staffs de campanha estão mais abertos do que em anos anteriores.
O perfil dos concorrentes na corrida pelo Palácio do Planalto ajuda, reforça Juruna. ;Os três principais candidatos que estão aí não defendem retrocesso político, são todos democráticos. Queremos que eles incorporem na pauta o que a gente está propondo;, completa. O documento dos sindicatos foi aprovado no início do mês, em São Paulo, depois de um grande encontro entre as centrais.
Salário e terra
O funcionalismo também quer ocupar espaço. Ainda que durante a era Luiz Inácio Lula da Silva as contratações tenham crescido e os reajustes concedidos tenham sido bastante generosos, as entidades ligadas aos servidores públicos esperam dos presidenciáveis receptividade para as propostas que ;corrigem falhas estruturais; na política federal de recursos humanos. Pela ordem, os servidores pleiteiam a definição de uma política salarial de longo prazo, a continuidade nas negociações com as carreiras, a redução das terceirizações, mais concursos públicos e o direito irrestrito de fazer greve.
Josemilton Costa, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), entidade que representa o maior número de funcionários ativos e aposentados do Executivo, afirma que todas as urgências do setor público estão sendo colocadas no papel e chegarão em breve às mãos dos candidatos. ;Vamos pedir que eles se comprometam com as nossas propostas;, diz o representante dos servidores. De acordo com ele, as propostas são factíveis e estão dentro de uma perspectiva que coloca o Estado como indutor do crescimento.
O campo, outro pilar importante da economia, se articula para pressionar os candidatos à sucessão de Lula. E, se para o funcionalismo o que conta são mais dígitos no contracheque, para o agronegócio o fundamental é assegurar o direito de propriedade e o acesso ao crédito. Sem tais garantias, dizem os empresários do setor, fica impossível ao país dar novos saltos, abrir vagas de emprego e incrementar a base de consumidores. Quem planta ou cria ; assim como a maior parte dos setores produtivos ; ainda chama a atenção para o peso dos impostos sobre a produção e quer uma política externa mais atuante e marqueteira.
1 - Sob análise
Os comandos de campanha dos principais candidatos ao Palácio do Planalto recebem e encaminham para grupos técnicos todas as propostas que recebem dos setores. Consultados pelo Correio, auxiliares de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) informaram que, eventualmente, as sugestões podem ser incorporadas aos programas de governo.
Ouça áudio com o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna
Lista de ;presentes;
DEMANDAS DOS SETORES ENCAMINHADAS
Indústria
; Redução do custo Brasil
; Reforma tributária
; Simplificação da legislação trabalhista
; Investimento em infraestrutura
; Estabilidade macroeconômica
; Controle do gasto público e maior responsabilidade fiscal
Centrais Sindicais
; Políticas que ampliem a renda do trabalho
; Definição de metas para a geração de empregos
; Combate à informalidade
; Redução da jornada de 44 para 40 horas semanais
; Garantia do direito irrestrito de greve, inclusive para os servidores públicos
Exportadores
; Maior acesso ao crédito
; Mais acordos e políticas de promoção comercial
; Política cambial que garanta a competitividade do produto nacional
; Redução do custo Brasil
; Reforma tributária
; Investimento em infraestrutura
; Simplificação dos procedimentos aduaneiros
Bancos
; Combate à judicialização no sistema financeiro
; Fortalecimento das medidas de acesso ao crédito
; Políticas de universalização bancária
Agronegócio
; Assegurar o direito de propriedade
; Mais crédito
; Criação do fundo de catástrofe
; Política comercial internacional mais eficaz
; Mais investimento em infraestrutura e na defesa sanitária
Servidores
; Definição de uma política salarial de longo prazo
; Continuidade nas negociações em curso com as carreiras
; Redução das terceirizações
; Mais concursos públicos