Economia

Mercado cogita aperto menor

Apesar da expectativa de alta de 0,75 ponto percentual nos juros, na próxima semana, analistas apontam sinais para frear arrocho

Marcone Gonçalves
postado em 05/06/2010 07:00
A paulada dos juros para conter o risco de inflação deverá ser repetida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na próxima quarta-feira, com a elevação dos juros básicos da economia, a chamada taxa Selic, dos atuais 9,5% para 10,25% ao ano. Mas, desta vez, o arrocho inevitável já não assusta. Os sinais de que tanto a inflação como o ritmo de crescimento econômico vêm diminuindo praticamente descartaram a possibilidade de os juros fecharem o ano próximo dos 13%. Se confirmado, este será o segundo de uma série de aumentos esperados pelo mercado, que estima que os juros deverão chegar a 11,75% até o final de dezembro.

Embora haja quem aposte em elevação um pouco acima ou abaixo do 0,75 ponto percentual da última reunião do Copom, realizada em abril, até mesmo os economistas mais críticos do BC concordam que a escalada dos juros está definida e não poderia ser diferente. Isso porque a economia brasileira vem crescendo a taxas anualizadas acima de 10% ao ano, índice considerado incompatível com a capacidade do país e, portanto, gerador de inflação. E a decisão do Copom sobre os juros sairá no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgará o avanço do Produto Interno Bruto, a soma da riqueza gerada pelo país, no primeiro trimestre.

;Não há nada que o BC possa fazer de diferente neste momento. Tem que desacelerar o crescimento exagerado da economia;, disse José Luiz Oreiro, professor da UnB e economista da linha desenvolvimentista. ;Até porque a política fiscal não deve mudar, pois o governo vai fazer de tudo para eleger sua candidata;, completou, referindo-se à campanha de Dilma Rousseff (PT). Segundo o ex-presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), René Garcia, o mercado já entendeu, precificou e acolheu os argumentos do BC em favor do aumento de 0,75 ponto percentual. ;Estamos em céu de brigadeiro. Podem fechar as portas das consultorias econômicas e reabrir no ano que vem, pois não teremos novidades daqui para frente;, exagerou o economista.

Garcia sustenta ainda que os fluxos de investimentos para o Brasil estão definidos, com projetos de longo prazo na área de energia que não poderão ser mais afetados. ;A crise europeia até fortalece o Brasil, que se torna mais atrativo por causa da trajetória de crescimento.;

Arrefecimento

Parte dos analistas acredita que o aumento forte dos juros deve ocorrer agora e ainda mais uma vez em julho, quando então deverá dar lugar a elevações mais suaves, o que permitirá manter a taxa selic abaixo de 12% ao ano até o final do ano. ;O Banco Central deverá manter o ritmo de aperto, mas, ao mesmo tempo, dar sinais de que os riscos inflacionários estão se reduzindo, contribuindo para coordenar as expectativas e abrir espaço para um ciclo de alta menor;, sustentou Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB. O economista-chefe da consultoria LatinLink, Rui Coutinho, faz aposta semelhante. Ele argumentou que há sinais de arrefecimento tanto da atividade econômica como da inflação. ;Com isso, o BC vai encerrar em agosto o ativismo monetário e evitar, assim, os saltos dos juros;, afirmou. Para ele, o governo Lula deverá legar ao seu sucessor uma taxa de juros de 11,5% ao ano.

Para Eduardo Velho, economista da Proper Corretora, há, inclusive, chances de se registrar alguma deflação em junho, situação que combina com o cenário externo de aversão ao risco e queda dos preços das commodities. ;Isso reforça o ambiente de queda dos juros futuros na curva longa;, assinalou. O economista Carlos Thadeu Filho, da Personalle Investimentos, também estima o aumento de 0,75 ponto percentual, mas também crê que eles serão atenuados mais à frente. ;Penso que a grande surpresa, dessa vez, é que o BC vai dar um peso maior ao balanço de risco da crise externa;, disse.

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