Economia

PIB cresce até 3% no primeiro trimestre

Indústria, investimentos e famílias garantem expansão em ritmo chinês. Governo comemora dado oficial que sai hoje, mas assegura que a atividade esfriará nos próximos meses, tentando conter o aumento dos juros pelo BC

Marcone Gonçalves
postado em 08/06/2010 07:00
Há quase três décadas o país não dava uma arrancada tão espetacular. Puxado pelos robustos saltos da indústria, pelo aumento dos investimentos e pela manutenção do intenso ritmo do consumo das famílias, os números do Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao primeiro trimestre do ano mostram que o Brasil não só deixou a recessão para trás como deu o primeiro grande passo para consolidar em 2010 uma expansão próxima a 7%. O resultado acumulado pelo PIB entre janeiro e março será conhecido hoje ; quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fará a divulgação oficial dos dados consolidados. Mas o mercado aposta em uma performance histórica. ;O primeiro trimestre foi muito forte. Do lado da oferta, a indústria e o comércio serão os destaques. Do lado da demanda, os investimentos serão as estrelas, seguidos pela demanda dos lares brasileiros;, resume Rafael Bacciotti, analista da consultoria Tendência. Especialistas consultados pelo Correio acreditam em um incremento entre 2,5% e 3% em relação ao último trimestre de 2009, taxas que, anualizadas, apontam para expansão de até 12%, número comparável aos 11,95% apresentados pela China no mesmo período. Os incentivos fiscais concedidos pelo governo para estimular a corrida às lojas no auge da crise mundial foram decisivos para o bom desempenho do PIB trimestral. A indústria respondeu à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e retomou a produção de maneira vigorosa. As vendas de carros e de eletrodomésticos subiram como nunca. O indicador do IBGE que mede o fôlego das fábricas atingiu uma alta de 18% no primeiro trimestre de 2010, indicando forte recuperação do setor mais abalado pela crise internacional em 2009. O comércio também se beneficiou da mão amiga do governo e computou resultado expressivo nos três primeiros meses do ano ; alta de quase 13%. Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, a aceleração da atividade econômica foi favorecida ainda pelo efeito defasado da redução da taxa básica de juros (Selic), que caiu ao menor nível da história (8,75%), do aumento dos gastos públicos e da dinâmica dos investimentos no setor privado. ;Basicamente, a atividade foi puxada pela demanda doméstica generalizada e pelo forte crescimento dos investimentos;, reforça. O banco Santander endossa esse discurso e prevê ;um ritmo impressionante em qualquer comparação que se faça; do PIB. O Itaú Unibanco crava avanço trimestral de 3% e taxa anualizada de 12%. Gastos maiores O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne hoje e amanhã para definir a nova Selic. Pela primeira vez em muitos meses, a divulgação do PIB não coincidia com o encontro periódico dos diretores da autoridade monetária. A Selic está em 9,5% ao ano. O mercado avalia que a tendência de alta se manterá. Bancos e consultorias afirmam que a taxa subirá 0,75 ponto percentual, para 10,25% ao ano. O cenário positivo fotografado no primeiro trimestre, as previsões de acomodação do PIB nos próximos e a crise na Europa provocada por rombos fiscais em orçamentos de países como Hungria, Grécia, Portugal e Espanha deverão entrar nos cálculos do BC. A ordem dentro do governo é não comemorar demais os números do primeiro trimestre e manter de pé o discurso de contenção de gastos do governo. ;Se não tivesse ocorrido a crise europeia, talvez estaríamos falando em uma alta de um ponto ou até mais nos juros;, diz Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil. No relatório Focus divulgado ontem, as principais instituições financeiras do país reforçam as apostas de que a Selic saltará dos atuais 9,5% ao ano para 10,25% ao ano. Com a inflação preocupando menos por causa da queda dos preços dos alimentos, os analistas consultados pelo BC apostam que os juros deverão chegar a 12% ao ano em janeiro de 2011. O mercado financeiro reduziu a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), usado como referência para o sistema de metas de inflação, deste ano de 5,67% para 5,64%. Ouça entrevista com Rafael Bacciotti, sobre o PIB no primeiro semestre do ano

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