Economia

Vítimas rejeitam sentença branda para acidente industrial

postado em 08/06/2010 08:07
Foi preciso esperar mais de 25 anos por uma condenação de apenas dois anos de prisão para os responsáveis por aquele que é considerado o pior acidente industrial da história, ocorrido em 3 de dezembro de 1984 em Bhopal, na Índia. A multinacional americana Union Carbide e sete funcionários de sua fábrica na cidade indiana foram condenados por ;negligência; no vazamento de uma nuvem de gás que se desprendeu da usina de Bhopal e matou imediatamente cerca de 3,5 mil pessoas. Até 1994, segundo o Centro Público de Pesquisa Médica, aproximadamente 25 mil pessoas morreram em consequência das sequelas da intoxicação.

A empresa foi multada em 500 mil rúpias (R$19,6 mil), e os demais culpados terão de pagar 100 mil rúpias (R$ 3,9 mil), segundo uma fonte do tribunal. Os condenados ainda podem recorrer da sentença, considerada leve demais por sobreviventes e familiares de vítimas, além de ativistas dos direitos humanos. Do lado de fora do tribunal, alguns deles gritaram que a decisão do juiz Mohan P. Tiwari era ;um insulto;, enquanto outros pediam o enforcamento dos réus.

As autoridades locais haviam proibido reuniões com mais de quatro pessoas em um raio de 1km ao redor do tribunal. Elas temiam que ocorresse algum incidente, já que na véspera manifestantes tinham pedido pena de morte para os executivos. ;Não haverá justiça até que os indivíduos e as empresas responsáveis recebam uma pena exemplar;, protestou Rashida Bee, presidente de uma associação de mulheres empregadas no setor de gás da Union Carbide em Bhopal.

Foragido
O nome do ex-presidente da matriz norte-americana, Warren Anderson, figurava entre os acusados, mas não foi mencionado no veredicto: ele está foragido. R.B. Roychoudhury, um dos condenados, já morreu. Todos os réus haviam sido indiciados em 1987 por homicídio, mas em 1996 o Supremo Tribunal reclassificou as acusações para ;morte por negligência;, crime punível no máximo com dois anos de reclusão ; fato que provocou, na época, indignação entre as vítimas.

As estatísticas recolhidas pelo governo da Índia após 1994 mostram que 100 mil vizinhos da fábrica sofreram de doenças crônicas após o acidente. Desse total, mais de 30 mil viviam em áreas onde o solo e os lençóis freáticos haviam sido contaminados pelos dejetos químicos da usina. Em dezembro de 2009, o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, classificou o vazamento de gás de ;tragédia que corrói a consciência coletiva;, e afirmou que pretendia seguir com os esforços para descontaminar a área afetada.

Memória
100 mil doentes

Na manhã de 3 de dezembro de 1984, 40 toneladas do veneno isocianato de metila começaram a vazar da fábrica de pesticidas da companhia norte-americana Union Carbide, a menos de 5km da cidade indiana de Bhopal, cuja população era de 900 mil pessoas. O ventou espalhou rapidamente a nuvem de gás tóxico. Segundo ativistas dos direitos humanos, cerca de 100 mil sobreviventes expostos têm problemas de saúde até hoje. O veneno causa cegueira, câncer, problemas respiratórios e má formação congênita.

Ainda assim, a gigante do setor químico Dow Chemical, também americana, que comprou a Union Carbide em 1999, sustenta que as responsabilidades para com as vítimas do acidente ficaram para trás após um acordo fechado em 1989 com o governo indiano. O acerto previa o pagamento de US$ 470 mil (R$ 864,8 mil) em indenizações, com o abandono das investigações penais. Em um comunicado emitido por ocasião do 25; aniversário da tragédia, em dezembro último, a Dow Chemical considerou que esse acordo havia resolvido todas as reivindicações ;presentes e futuras; contra o grupo.

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