Economia

Presidente do BC está preparado para o pior

Marcone Gonçalves
postado em 11/06/2010 08:36
Um dia depois de comandar o aumento da taxa básica de juros (Selic), de 9,50% para 10,25% ao ano, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu que o Brasil está muito mais protegido para enfrentar a atual crise europeia. ;Nós nos preparamos para o pior;, disse. Ele ressaltou, porém, que está ;torcendo para o melhor; da Europa e do mundo.

Na opinião de Meirelles, o Brasil, que registrou crescimento de 9% no primeiro trimestre do ano na comparação com o mesmo período de 2009, aprendeu com as crises passadas. ;Buscamos políticas consistentes e o aperfeiçoamento das instituições;, assinalou. Isso ficou evidente, acrescentou ele, no auge da crise mundial provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana, em setembro de 2008, quando o governo tomou várias medidas anticíclicas, como a redução dos impostos e dos juros, que permitiram ao país sair rapidamente da crise.

Meirelles, do BC, diz que todos estão torcendo pela recuperação da EuropaMeirelles aproveitou ;o sucesso; para cutucar seu antecessor no BC, Armínio Fraga. Segundo ele, em 1999, quando o Brasil foi obrigado a abrir mão do câmbio fixo para adotar o sistema de taxas flutuantes, em vigor até hoje, o BC teve que aumentar a taxa Selic para 45% ao ano. ;Pela primeira vez, o governo pôde adotar políticas de estímulo (à economia);, disse.

Voz dos emergentes
O presidente do BC lembrou que a próxima cúpula do G-20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, discutirá questões relacionadas à crise mundial. Entre os temas principais, estará a regulação do sistema financeiro global. Ele lembrou que o papel do Brasil no grupo é distribuir a carga do ajuste pós-turbulência entre os países e garantir maior voz aos emergentes. O encontro de cúpula está marcado para este mês, em Toronto, Canadá. ;O G-20 apresentará um conjunto de sugestões para ações específicas, como redes de proteção financeira, para fortalecer a capacidade dos países de lidarem com a volatilidade dos fluxos de capital;, disse.

O grupo também pretende avançar no campo regulatório, tornando-o mais seguro e transparente, revisar os limites e padrões da liquidez dos bancos, fortalecer a supervisão dos fundos de hedge (altamente especulativos), controlar os negócios com derivativos e debater a questão da supervisão das instituições sistemicamente importantes. ;O Brasil tem, no G-20, o objetivo de promover a cooperação internacional e garantir a distribuição do esforço de ajuste das economias;, afirmou, em evento em São Paulo.

[SAIBAMAIS]Outro objetivo brasileiro no G-20 é realinhar a representatividados organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que o Brasil e outros emergentes participem deles de forma mais ativa. Ao concluir, Meirelles voltou a reiterar que a crise fiscal enfrentada pela Europa é séria e ;preocupa a todos;.

Inflação cai a 0,18%
A inflação medida entre as famílias de baixa renda registrou, em maio, o menor nível do ano: 0,18%. Na avaliação de André Bráz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), a queda deve ser atribuída aos alimentos, que respondem por 40% do orçamento mensal dos lares com renda de até 2,5 salários mínimos. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1) foi derrubado pelo açúcar refinado, que ficou 4,33% mais barato, pelas hortaliças e legumes, com baixa de 5,21%), pelas frutas (-1,30%), pescados frescos (-0,85%) e óleos e gorduras (-0,30%). ;Creio que, para junho, continuaremos a ter um IPC-C1 com taxa baixa;, afirmou.

Mas Bráz fez uma ressalva. Ao se calcular o núcleo da inflação excluindo os alimentos, pode-se perceber que há um avanço de preços persistente e em trajetória crescente. A taxa deste núcleo saltou de 0,12% em março, para 0,41% em abril e para 0,45% no mês passado, por causa do setor de serviços. ;Os preços dos serviços entre as famílias de baixa renda, assim como entre famílias com renda mais elevada, estão apresentando altas maiores;, frisou. Em 12 meses, por exemplo, os serviços de barbearia ficaram 7,35% mais caros e os do salão de beleza, 6,95%.

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