postado em 12/06/2010 07:57
A inflação não dá trégua ao brasileiro. Enquanto os alimentos começam a apresentar recuo nos preços, os serviços seguem na direção contrária. Consertar o carro, cortar o cabelo ou frequentar uma academia de ginástica ficou, em média, 3,5% mais caro. Alguns itens chegam a acumular alta de quase 7% no ano. Nessa gangorra, impulsionados pela demanda intensa do consumidor, os serviços têm pesado mais e elevado fortemente os índices. A primeira prévia do mês do Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M) disparou. Passou de 0,47% em maio para 2,21% em junho. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) segue na mesma trajetória e acumula alta de 3% apenas nos cinco primeiros meses do ano.Para especialistas, a culpa dessa disparada está no consumo desenfreado dos brasileiros, que além de terem obtido muitos ganhos salariais estão se fartando de crédito. ;Aumento de preço é a consequência mais natural de se estar crescendo mais do que é possível;, avaliou Ricardo Denadai, economista do do Santander, ao fazer referência aos fortes avanços do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) neste início de ano. ;Tem mais gente demandando do que está sendo ofertado. Algumas coisas se resolvem com importação, mas o problema está na mão de obra e nos serviços, que não têm como se comprar de fora. Diante de um mercado tão apertado, o primeiro impacto é aumento de salário e do custo dos serviços;, acrescentou.
Em contraponto, o preço dos alimentos, que vinham corroendo o bolso do consumidor, começaram a dar um alívio. O tomate, que no primeiro bimestre do ano era encontrado a até R$ 6 o quilo nos supermercados, hoje é vendido a R$ 1,99 em Brasília. Na média nacional, o desconto foi menor. Em maio, a fruta ficou 25,74% mais barata e segue em tendência de desaceleração. ;Depois de uma subida muito intensa desses alimentos, agora entramos em um período de acomodação e até de retração dos preços. O clima parou de afetar a produção e o mercado especulativo está puxando as commodities para baixo;, explicou Salomão Quadros, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Sobe e desce
O aposentado Luiz João da Silva, 84 anos, reclama do custo de vida no país. Para ele, os preços chegaram a um patamar abusivo. ;As coisas estão subindo muito. O serviço de mecânico, o aluguel, a conta de energia, tudo está mais caro;, queixou-se. ;Eu faço compras mensais, para encher a dispensa, enquanto a comida deu uma diminuída, alguns produtos de limpeza subiram. É sempre assim. Quando um desce, o outro sobe e a minha conta fica cada vez mais cara;, explicou.
Lava a jato
Um levantamento sobre o IPCA mostra os dois lados da inflação que aflige o brasileiro (veja quadro). Enquanto o custo de vida ficou 3% mais caro no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, alguns serviços subiram quase 7%. Em função da explosão na venda de carros, os custos relacionados aos veículos se tornaram os mais onerosos em consequência da demanda aquecida. Pagar uma pessoa para lavar o carro, por exemplo, encareceu 6,76% neste ano. Uma lavagem simples da lataria e do interior do veículo já chega a custar mais de R$ 30. Consertar o automóvel em um mecânico aumentou 3,52%.
Toda essa procura por serviços abriu o mercado de trabalho para um batalhão de mecânicos, que ainda não conseguem dar conta de atender a todos os consumidores. Dono de uma micro-empresa, Antônio Silva Carvalho, 38 anos, diz que, com o sócio, chega a atender até dez clientes por dia. ;Tem muita batida de carro com esse trânsito todo. Então, temos muito serviços de lataria. Época de chuva que é bom: tem muito alinhamento, balanceamento e conserto de motor de carro que entra em enxurrada;, relatou o mecânico.
Elcio Ribeiro, 55 anos, trabalhava apenas com a venda de carros, mas em função do aquecimento do setor, decidiu investir em serviços. ;Meus clientes reclamavam muito da falta de mecânico. Por causa dessa carência, resolvi montar uma loja. Surpreendeu o volume de clientes. Agora, quero ampliar para atender a todos;, disse o empresário.