Economia

Negocie ação de políticos

Bolsa de valores virtual criada para treinar investidores iniciantes permite aos eleitores comprar e vender papéis de candidatos em ambiente semelhante ao da Bovespa

Vera Batista
postado em 16/06/2010 07:34

Ao contrário do nervosismo habitual do mercado financeiro em momentos de troca de governo no Brasil, este ano o cenário mudou. Pelo menos virtualmente, é possível dizer que eleições combinam com bolsas de valores, em especial, com a Bolsa de Valores de Políticos (Bovap(1)). Trata-se de uma ideia inovadora, fruto do senso de oportunidade do próprio sistema financeiro para se aproximar daqueles que não têm intimidade com o mundo das ações. Na Bovap, cada político listado no pregão é visto como uma empresa. E o investidor eleitor pode acompanhar o desempenho de seus papéis e dar lances.

A ideia, lançada pela Corretora Souza Barros, foi aproveitar a acirrada disputa para a Presidência da República e governos estaduais e levar ao público a sensação de participar do ambiente da Bolsa de Valores de São Paulo (BM), a terceira maior do mundo. Na dos políticos, o simpatizante do candidato pode comprar e vender ações na hora certa e, mesmo com os riscos do mercado de renda variável, aprender como garantir os ganhos, que, no futuro, poderão se transformar na casa própria ou na aposentadoria.

No sistema virtual para apostas em políticos, cada candidato passou por um processo de abertura de capital e suas ações foram colocadas em negociação. Cada papel representa uma Unidade de Valor Político (UVP), moeda virtual criada para movimentar os investimentos. Ao todo, 40 políticos têm suas cotações ; uma forma de também medir as intenções de votos ; fixadas de acordo com os interesses do mercado. Entre eles, disputam o interesse dos investidores eleitores os três principais presidenciáveis: Dilma Rouseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

Regularidade
Nos três meses de operação na Bovap ; já são cinco mil participantes ativos negociando com regularidade ;, a presidenciável petista registrou a maior valorização. Desde 17 de março, quando entrou no pregão, Dilma se valorizou 1.200%. Seu papel pulou de 15 para R$ 180 UVPs. Já o tucano José Serra, que começou a ser negociado em 24 de março, computou alta de 1.041%, saindo de 18,25 para 190 UVPs.

Como investir em ações é uma decisão que, obrigatoriamente, exige domínio de temas econômicos e de fatos relevantes das companhias listadas no pregão, entrar na Bovap requer igualmente do investidor conhecimentos sobre o comportamento rotineiro dos seus preferidos. Assim, o cidadão é levado a se envolver também com a educação política ; o sistema tem um canal de notícias com informações abrangentes sobre o tema. ;Em ano eleitoral, as pessoas têm participação política ativa. Por isso, decidimos fazer disso um mercado de ações virtual;, explicou Eduardo Lobo Fonseca, diretor da Souza Barros.

De casa
Os estudos para o projeto vinham sendo feitos desde setembro de 2009 e os técnicos tomaram o cuidado especial de evitar, por exemplo, ataques especulativos de partidos políticos com intenção de puxar para cima os preços das ações de seus filiados. Segundo os responsáveis pela Bovap, esse é o primeiro sistema no Brasil que funciona exatamente como home broker (tecnologia que permite acesso a negociações em renda variável pela rede mundial de computadores). Como na vida real, o investidor pode, sozinho, de casa ou do trabalho, comprar ou vender UVPs com a ajuda de um técnico da corretora.

1 - Rede social
A Bovap pode ser acessada pelo endereço www.bovap.com.br. Em vez de ações, oferece políticos como se fossem uma empresa registrada e com ações cotadas no mercado. Para entrar, basta clicar em ;quero participar;, inserir nome, sobrenome, e-mail, data de nascimento e estado civil, criar código e senha e começar a operar. O sistema funciona como uma rede social. O usuário pode também associá-la a outras redes, como o Facebook, blogs e Twitter. Os cadastrados são imediatamente capitalizados com 50 mil UVPs (dinheiro virtual) para comprar as cotas (equivalentes às ações).

DF listado em junho

A Bolsa de Valores de Políticos (Bovap) experimentou situação inédita depois que abriu o capital dos políticos de Brasília. As dificuldades no Planalto Central foram maiores do que as experimentadas em outras unidades da Federação por conta dos escândalos envolvendo a cúpula do governo e das indefinições dos concorrentes. ;Primeiro, Cristovam Buarque dizia que não ia se candidatar. Joaquim Roriz, queiram ou não, é expressivo, mas não se sabia sobre seu destino. Da mesma forma, havia dúvidas se Durval Barbosa faria novas denúncias. Enfim, tivemos que esperar;, relatou Eduardo Lobo Fonseca, diretor da empresa Corretora Souza Barros, criadora da iniciativa.

Tão logo o cenário se definiu no Distrito Federal, a Bovap concluiu as pesquisas e seis políticos surgiram em destaque: Gim Argello, Roriz, Paulo Octávio, Agnelo Queiróz, Cristovam e Alberto Fraga. A surpresa foi o extraordinário avanço da empresa Cristovam Buarque. Em oito dias, as ações subiram 144,7%. Saltaram de 19,35 para 28,00 UVPS. No período, a companhia Agnelo Queiróz subiu 0,11% e as demais continuaram estáveis. Fonseca evita fazer prognósticos. ;Se já é difícil no plano econômico, imagine quando entra a questão política?;

Para ele, se os investidores do Distrito Federal continuarem negociando os papéis na Bovap, eles terão muito mais facilidade para negociar ações reais na Bolsa de Valores de São Paulo. A única diferença, lembra Fonseca, é que na bolsa real, além do home broker (sistema de operação pela internet), é possível comprar e vender ações por meio de uma corretora. (VB)

Escolha do candidato

Para entrar na Bolsa de Valores de Políticos (Bovap), o candidato é minuciosamente selecionado. Os organizadores pesquisam os ;elegíveis; em todos os estados do país. Até agora, participam políticos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal ; inscrito desde 9 de junho. Os políticos pernambucanos serão os próximos. A precificação (valor inicial) do candidato é feita com base na ética, no seu histórico como político e nas realizações ; principalmente o cumprimento de promessas feitas durante as campanhas.

A soma desses três itens define o preço e as informações são relatadas em um prospecto sobre a nova empresa, a ser lançada no mercado por meio de um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Os interessados entram no negócio no prazo-limite. Se a quantidade de pedidos ultrapassar o volume de UVPs colocados à venda, o lote é dividido proporcionalmente. Encerram-se as reservas, a operação é efetivada e os políticos são colocados em negociação no mercado. Daí para frente, os investidores decidem. Toda semana, a Souza Barros divulga as maiores altas e baixas para orientar os participantes.

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