postado em 18/06/2010 07:08
A Polícia Federal iniciou ontem investigações em torno dos concursos públicos para preenchimento de vagas na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A suspeita é de que houve fraudes nas provas ; os candidatos tiveram acesso aos testes antes de sua aplicação ;, a exemplo do ocorrido no exame da própria corporação que levou ao desligamento de seis aprovados inscritos no curso de formação para agente. As duas seleções, agora sob investigação, a exemplo dos processos seletivos da PF e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tiveram irregularidades confirmadas, foram organizadas pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe). Elas foram alvo de uma quadrilha desbaratada na quarta-feira pela Operação Tormenta.
O delegado responsável pela apuração do caso, Vitor Hugo Rodrigues Alves, começou a convocação das 120 pessoas suspeitas de terem recebido o caderno de respostas dos concursos da PF, da Receita Federal e do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Todas deverão ser indiciadas por estelionato e receptação. Com isso, a Polícia Federal espera abrir novos leques de investigações, principalmente depois da análise final do material apreendido. Nas seleções da Anac e da Abin, estão em jogo 190 postos de agentes e oficiais de inteligência e 365 para técnicos e analistas administrativos e técnicos e especialistas em regulação de aviação civil, cargos públicos com salários de até R$ 9.713,13.
Surpresa
A PF ainda não concluiu a análise do material apreendido durante as 34 buscas realizadas na região de Campinas, em municípios da Grande São Paulo, na baixada santista, e no Rio de Janeiro. Entretanto, investigadores afirmam que, entre os objetos coletados, foram surpreendidos com centenas de pontos eletrônicos ; usados para transmissão dos gabaritos das provas ;, grande quantidade de moeda estrangeira, principalmente dólares e reais. Com o material, também foram encontrados cheques de candidatos e uma relação de nomes de candidatos, que também serão chamados a depor. A Operação Tormenta provocou a prisão de 12 integrantes da quadrilha, entre eles um proprietário de universidade em São Paulo, chefe da quadrilha, e um policial rodoviário federal.
Procurada, a Anac disse que todas as questões que envolvem o concurso são de responsabilidade da empresa organizadora e, por isso, não se manifestaria. Já Agência Brasileira de Inteligência informou que não recebeu qualquer solicitação da Polícia Federal para fornecer dados que colaborem com a apuração e que aguarda um pedido oficial para se pronunciar a respeito.
O Cespe esclareceu, em nota, que investe continuamente em procedimentos de segurança. Explicou que a impressão e o empacotamento das provas são realizados em gráfica própria, em regime altamente sigiloso, e que o transporte é feito por seus funcionários em malotes lacrados tanto antes quanto depois da aplicação das provas. Segundo o diretor-geral da organizadora, Ricardo Carmona, a intenção é ;aproveitar a parceria com a Polícia Federal para aperfeiçoar as tecnologias usadas na investigação de tentativas de fraudes em futuros concursos;.
Crime organizado
Como trabalhava a quadrilha desbaratada pela PF
Líder
Responsável por pagar propina às pessoas com acesso ao caderno de questões. Revendia cópias dos cadernos aos clientes, direta ou indiretamente, por meio de distribuidores e aliciadores. Também providenciava os pontos eletrônicos
Responsáveis pelo desvio
Tinham acesso ao caderno de questões ou responsabilidade pela segurança, antes do dia do exame, e desviavam mediante pagamento de propina
Distribuidores
Adquiriam as provas do líder para revendê-las com lucro diretamente aos ;clientes; ou para aliciadores
Aliciadores
Ligados aos distribuidores, negociavam as provas com os candidatos. Ofereciam as provas orientando os clientes a se inscreverem ao concurso que tentavam fraudar
Clientes
Candidatos inscritos no concurso que compravam o gabarito ou o caderno de questões para ter acesso às perguntas antecipadamente
Falsificadores
Responsáveis por forjar diplomas e certificados para candidatos que não possuíam a formação necessária para concorrer. Também forneciam documentos falsos para um candidato fazer a prova no lugar do outro
Professores
Respondiam as questões que seriam entregues aos candidatos. No caso da OAB, deram aulas em cursos preparatórios com base na prova
Fonte: Polícia Federal