Economia

BC sinaliza mais alta de juros

Ata da última reunião do Copom mostra que autoridade monetária ainda enxerga riscos de elevação generalizada de preços

Marcone Gonçalves
postado em 18/06/2010 07:18

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) frustrou ontem quem aguardava por sinais do fim da escalada da taxa básica de juros (Selic), que pulou de 8,75% para 10,25% ao ano entre abril e junho. Os juros vão continuar subindo, segundo deu a entender a ata da reunião do comitê na semana passada. O BC ainda vê riscos de elevação generalizada dos preços, a despeito da melhoria das expectativas do mercado para a inflação e dos indicadores que mostram o arrefecimento da economia.

Para os analistas, a autoridade monetária justifica o aumento dos juros, mas esconde o que pode fazer daqui para a frente. O economista-chefe da corretora SLW Asset, Gustavo Gazeneo, acredita que o principal recado do Copom é que o ciclo do aumento dos juros no Brasil vai demorar. A ata não trouxe nenhum sinal de que o comitê pode parar para analisar o cenário. ;Trabalhamos agora com mais um aumento de 0,75 ponto percentual e com uma estimativa de Selic de 12,25% no fim do ano;, afirmou.

Para ele, a política monetária poderia ser menos drástica se os outros setores do governo ajudassem. Medidas anunciadas pela equipe econômica nesta semana atrapalham: o aumento de 7,7% para os aposentados e pensionistas e a prorrogação da redução do

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos pesados, caminhonetes e bens de capital, que implicará renúncia fiscal de R$ 750 milhões. ; Toda essa paulada anunciada dos juros poderia ser bem menor caso o Ministério da Fazenda e outros setores do governo colaborassem com o BC, que continua sendo obrigado a fazer o trabalho sujo;, assinalou Gazeneo.

Ignorância
;É uma ata dúbia para um momento dúbio;, sentenciou o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Segundo o ex-diretor do BC, o Copom não deu sinais concretos porque ainda não sabe se a economia está superaquecida. Tampouco consegue enxergar o que vem pela frente no cenário internacional, ainda pressionado pela crise fiscal nos países europeus.

Para Freitas, o recado evidente do Copom é que o ritmo de alta de juros não será elevado acima de 0,75 ponto percentual, podendo ser mantido ou diminuído, de acordo com a atividade econômica e o cenário externo. ;Como a ata não fala em combater a inflação a qualquer preço, minha opinião é que vem mais aumento nas próximas reuniões, talvez até menor, de 0,5 ponto percentual;, acrescentou.

A economista-chefe da Votorantim Corretora, Adriana Dupita, acredita que os riscos inflacionários apontados pelo BC são verdadeiros, especialmente o aquecimento do mercado de trabalho. ;Continuamos com a expectativa de aumento de 0,75 ponto para a próxima reunião, com o ciclo de alta encerrando em 11,75%;, previu.


EM ANO ELEITORAL, GASOLINA NÃO SOBE

Ao divulgar a ata do Copom, o Banco Central deixou claro que está muito mais preocupado com o aumento dos preços de produtos e serviços para o consumidor do que com o quadro de instabilidade no mercado internacional. A autoridade monetária refez os cálculos e aumentou a estimativa de reajuste na tarifa de energia elétrica de 0,7% para 1,5%. Já as contas de telefonia fixa devem ficar 1,6% mais caras. A boa notícia para os consumidores e eleitores é que o BC considera nula a possibilidade de elevação da gasolina e do botijão de gás ao longo de 2010. Isso deve ajudar a conter a inflação e, ao mesmo tempo, socorrer, com um argumento econômico de peso, os candidatos governistas que disputam a presidência, os governos estaduais e as vagas nos parlamentos.

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