Economia

Queda do desemprego também tem lado negativo

Fato a ser comemorado, a queda da taxa de desocupação gera uma consequência desagradável: o aumento do consumo permite que empresas repassem a elevação de gastos para os preços de venda

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 19/06/2010 14:03
O desemprego em queda livre, muito comemorado pelos sindicatos, tem um lado perverso que pode se voltar contra os trabalhadores via aumento desenfreado dos preços. Economistas de várias tendências são unânimes em alertar para o estrago que um mercado de trabalho aquecido pode fazer sobre a inflação. ;Estamos perto de atingir o ponto em que o nível da taxa de desocupação deixa de ser benigno;, disse o economista-chefe da Prosper corretora, Eduardo Velho.

O professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Gonçalves acaba de concluir um estudo que mostra que o desemprego em baixa tem uma grande influência sobre a inflação, podendo até contar mais do que o nível de utilização da capacidade instalada da indústria. O economista não acredita que os índices de preços vão sair dos trilhos por causa disso, mas alerta que o controle será feito via aumento da taxa de juros até o fim do ano.

Segundo o economista José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, a pressão sobre a inflação acontece porque uma taxa de desemprego muito baixa aumenta o poder de barganha dos trabalhadores por melhores salários. ;Nesse caso, os salários podem crescer mais do que a produtividade, gerando um aumento de demanda que leva as empresas a repassarem as elevações de custos (inclusive salários) para os preços;, explicou.

Neutralidade
Segundo Camargo, a teoria econômica aponta um nível de desemprego que mantém a inflação constante. Estudo desenvolvido pelo próprio economista, há cerca de dois anos, estimou a taxa neutra, para o Brasil, entre 7,5% e 8%. Esse nível ficaria em torno de 5,5% nos Estados Unidos e de 9% na Europa. De acordo com a última pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego foi de 7,3% em abril.

Economistas do banco Santander esperam um número menor em maio, em torno de 7%. ;Com o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo a taxas chinesas, cresce o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais e a inflação avança;, alertaram em comunicado. O Santander estima que 85% das categorias, neste ano, obtenham reajustes acima da inflação, contra uma média histórica de 55%.

A preocupação com o emprego foi uma das variáveis que o Banco Central listou na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na quinta-feira. Segundo o BC, ;o mercado de trabalho continua a mostrar vigor, em processo claro de expansão do ciclo econômico;. Para o BC, é bastante real ;o risco de repasse de pressões de alta de custos para os preços no atacado e destes para os preços ao consumidor;. Na visão de Eduardo Velho, para que o mercado de trabalho seja neutro, a oferta de produtos deve responder positivamente, o que só será feito com mais investimentos.

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