postado em 20/06/2010 08:24
A parcela da população brasileira de baixa renda deixou de figurar como consumidora improvável para o empresariado nacional e se transformou no combustível da economia. Grandes companhias têm travado uma batalha por esses clientes de recursos escassos, de olho nos R$ 700 bilhões que o público C, D e E vão desembolsar em 2010. Em um mundo pós-crise que precisa descobrir novos mercados para crescer de forma sustentável, até os que vivem no limiar da miséria entraram na alça de mira ; todos querem uma fatia dos R$ 117,9 bilhões que serão gastos pelas famílias de baixíssima renda neste ano. Os dados são da consultoria IPC-Target.Há 45 anos, Alaci Corrêa percebeu que poderia ganhar dinheiro atendendo a esse público. Nascido em Igarapé-Miri, cidade ribeirinha distante 78 quilômetros de Belém (PA), deixou de estudar para trabalhar com o pai em um barco. A cidade não tinha estradas ou energia, mas gerava renda em função da colheita de açaí. Hoje, ela tem um Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas da região) de R$ 126,9 milhões. ;Não tinha quem atendesse os ribeirinhos. Eu supri essa necessidade;, explica Corrêa. ;Com 14 anos, larguei a escola para ser o contador do meu pai. A gente pegava caça, madeira e peixe, vendia em Belém e voltava com remédio, açúcar, sal e roupas. Com 18 anos, já tinha o meu próprio barco;, relembra.
Regatão
Entre 1965 e 1970, Alaci Corrêa fez o que as comunidades paraenses chamam de regatão, um mercado flutuante que leva produtos industrializados até as comunidades distantes. Nesse período, passou de varejista para atacadista e de barqueiro para um dos maiores empresários de Belém. Hoje, tem a rede de lojas Nazaré, que fatura R$ 350 milhões anualmente. ;Era um público que tinha renda mas não onde gastar. Hoje, com os programas sociais, essas pessoas estão ainda mais dispostas a comprar e isso tem atraído muitas empresas. É um Brasil onde o comércio cresce a taxas chinesas;, afirma o pesquisador Marcos Pazzini, diretor da IPC-Target.