Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 24/06/2010 07:16
O peso do arrocho monetário ainda não se fez notar no mercado de crédito. Indiferente ao aumento das taxas de juros da maioria dos empréstimos, registrada pelo Banco Central em maio, o consumidor está indo às compras e se endividando como nunca. O estoque de crédito cresceu 2,1% no mês, batendo em R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 45,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). Desse total, R$ 685,9 bilhões estão nas mãos das famílias. A julgar pelo recuo de 2,1% no endividamento divulgado ontem pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro se sente mais confortável para gastar.De acordo com dados do BC, para acomodar o aumento dos juros ; a taxa média cobrada de pessoas físicas subiu de 41,1% ao ano em abril para 41,5% em maio ;, os bancos estão ampliando o prazo de pagamento para os clientes. Isso faz com que a prestação seja diluída ao longo de um período maior e caiba no orçamento doméstico. Na opinião do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, essa elasticidade tem limite. ;Vai chegar um momento em que esse instrumento (aumento de prazo) não será mais possível porque a instituição financeira não vai querer correr o risco de ver o bem financiado sofrer uma depreciação excessiva;, ponderou.
Cartão
A demanda forte por crédito, resultado de mais emprego e renda, não se restringe ao financiamento bancário. Pesquisa mensal realizada pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro mostra que os cartões de crédito vêm ganhando espaço, enquanto que o financiamento direto na loja registra quedas. No ano passado, 56% dos entrevistados parcelavam suas compras nas lojas, enquanto 26% dividiam no cartão. Neste ano, a forma de pagamento a prazo se inverteu. A loja é a opção de 37% dos consumidores e o cartão, de 44%. O empréstimo pessoal em banco aparece em terceiro lugar, com 16% da preferência.
O crédito consignado, que subiu 0,3 ponto percentual de um mês para o outro, é o mais barato entre as opções de crédito pessoal. A taxa do consignado passou de 26,9% ao ano em abril para 27,2% ao ano em maio. Os juros do cheque especial, que são excessivamente altos, até caíram, mas a diferença é pouca: de 161,3% ao ano em abril, recuaram para 160,3% ao ano em maio. A taxa para o financiamento de veículos, que também está em alta, ainda está em conta. Em média, ela passou de 23,5% para 24,8% ao ano de um mês para o outro.
Do ponto de vista da quitação das dívidas, Altamir disse que não há motivo para preocupação. ;A inadimplência está estabilizada e não esperamos alterações significativas este ano;, disse. Pelos dados do BC, o nível de calote do sistema ( operações com atraso superior a 90 dias) está em 5,1%.