A fila de desempregados no país cresceu. Não por causa de alguma onda de demissões ou pelos efeitos prejudiciais de uma crise. O fenômeno ocorre porque mais gente está procurando trabalho. A taxa de desocupação avançou de 7,3% em abril para 7,5% em maio. Por trás do indicador, está 1,8 milhão de brasileiros. Muitos deles, porém, estão bem mais otimistas em relação ao desempenho da economia. Antes, não apareciam nas estatísticas por desalento. Haviam desistido de conseguir uma vaga. Mas agora saíram da letargia e tentam se recolocar no mercado. Não querem deixar de embarcar no círculo virtuoso que está a todo vapor e deve fazer o Brasil crescer cerca de 7% em 2010.
De acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essas pessoas incrementaram a população economicamente ativa em 1,5% entre janeiro e maio deste ano e em 19,4% desde 2002. ;O mercado não está desaquecido. Aumenta a quantidade dos que estão procurando emprego. O desalento diminuiu;, garantiu Luiza Rodrigues, economista do Santander.
Mesmo com a leve alta registrada no indicador no mês passado, o resultado carrega o recorde de menor quantidade de desempregados para um mês de maio desde que a pesquisa começou a ser feita, há oito anos. A indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água foi um dos destaques no levantamento. Na comparação com os níveis de maio de 2009, ela foi a que mais contratou. Foram 215 mil postos criados nos últimos 12 meses. ;E há espaço para crescer mais. Ainda não foram recuperados todos os empregos perdidos na crise;, afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE.
Nas estatísticas, a construção civil mostrou mais uma vez que está em ritmo acelerado e registrou o maior crescimento percentual de postos de trabalho. As 175 mil vagas geradas nos últimos 12 meses representaram um incremento de 11,4% na quantidade de trabalhadores nos canteiros de obras. Os empresários querem mais. ;Mão de obra realmente é algo difícil para o setor;, queixou-se o diretor comercial da MRV Engenharia, José Lima Nunes Melo.
Rendimento
Do lado dos trabalhadores, não há lamentação. Entre abril e maio, o rendimento deles cresceu 2,1%. Desde o ano passado, o ganho salarial foi de 8%. Nenhum outro setor registrou tamanho avanço. ;Dá para viver bem como pedreiro;, garantiu José Ribamar Rodrigues, 49 anos. ;Eu ganho R$ 900 por mês. Gasto muito com pensão alimentícia e comida para me manter. Fora isso, sobra até pra tomar umas.;
Morador da pequena Barcarena, no interior do Pará, Rodrigues consegue ganhar um bom dinheiro com pequenos serviços na cidade. Quando falta trabalho, pega o barco para Belém com a certeza de encontrar rapidamente o que fazer. Do Rio Pará, é possível ver os prédios que cortam o céu da capital paraense, todos recém erguidos em meio às casas baixas e prédios históricos da cidade. ;Só não tenho carteira assinada. Prefiro trabalhar assim, mais livre, e posso dizer que a vida tem melhorado. Às vezes, dá para fazer um salário maior, às vezes não;, disse.
A despeito do aquecimento econômico e da acirrada disputa por mão de obra em alguns setores, a fragilidade ainda está na formação de profissionais. ;Não chegamos ao pleno emprego e o mercado está cada vez mais seletivo;, destacou Azeredo. ;Na área de ciências exatas, há uma procura muito forte por profissionais. No caso dos engenheiros, a oferta de mão de obra é bem menor do que a necessidade das empresas;, acrescentou Luiza Rodrigues.