Economia

Crise internacional: Desafio é crescer e ter ajuste

Líderes das grandes potências mundiais se reúnem no Canadá para discutir a crise. EUA pedem mais gastos e Alemanha defende a onda europeia de rigor em contas públicas

postado em 26/06/2010 08:55
Os líderes das oito potências mais industrializadas do planeta (G-8) se reuniram em Huntsville, uma localidade turística no interior do Canadá, para discutir a economia mundial. O presidente norte-americano, Barack Obama, não perdeu a oportunidade de pressionar os europeus a fazer mais para a retomada econômica ainda incipiente. Mas, no fim do dia, o discurso da chanceler alemã, Angela Merkel, era de que todos chegaram a ;uma compreensão mútua; sobre a economia global.

Enquanto os líderes das grandes potências buscavam entendimento em Huntsville, os protestos(1) ganhavam corpo em Toronto, onde ocorre a cúpula do G-20 (os países industrializados mais os emergentes) hoje e amanhã. No centro da cidade, manifestantes fizeram uma marcha em defesa da soberania indígena. Em outra manifestação, ativistas canadenses mostraram cartão amarelo aos líderes do G-8 por não honrarem suas promessas de ajuda, dizendo que é o momento de transformar compromissos em ações. ;Agora é o momento de agir;, disse Gerry Barr, chefe do Conselho Canadense de Cooperação Internacional, que reúne cerca de 100 organizações não governamentais daquele país.

Discussão
Esses encontros devem evidenciar novas divisões entre americanos e europeus em relação a estratégias da retomada econômica, com planos de austeridade fiscal. ;Devemos agir em harmonia por uma simples razão: esta crise provou ; e os elementos continuam a demonstrar ; que nossas economias nacionais são inextrincavelmente ligadas;, afirmou o presidente americano ao chegar ao Canadá. E advertiu: ;A tormenta econômica pode facilmente se propagar;.

Na reunião, os Estados Unidos expressaram preocupação pelas iniciativas europeias, lideradas pela Alemanha, de reduzir o gasto público e os deficits dos países. Em oposição, os EUA defendem medidas que estimulem o crescimento econômico.

;A discussão não foi controversa, houve muita compreensão mútua;, afirmou Angela Merkel na saída da cúpula. ;Deixei claro que precisamos de um crescimento sustentável e que este crescimento e algumas medidas de austeridade inteligentes não têm por que serem contraditórios;.

Ontem, o secretário americano do Tesouro, Timothy Geithner, fez um apelo à Europa para ;escolher entre reformas e políticas suscetíveis de garantir taxas de crescimento mais elevadas no futuro;. O mundo, disse ele, ;não poderá depender dos Estados Unidos tanto quanto no passado;, preveniu, num momento em que as cifras do crescimento americano no 1; trimestre foram revistas para menos.

Antes da cúpula do G-8, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reforçou o discurso de Merkel e também declarou que não diverge dos Estados Unidos sobre os planos de reduzir deficits, afirmando que o G8 concluiria que os países com grandes problemas fiscais precisariam agir. ;O risco para nós, e os americanos e outros que reconhecem isso, é não agir;, disse Cameron. ;Eu acho que o G-8 realmente vai concluir que aqueles países com os piores problemas precisam acelerar sua ação, que é o que nós fizemos.;

1 - Italianos em greve contra arrocho
O maior sindicato da Itália promoveu uma greve geral interrompendo serviços de transporte e governamentais. Era um protesto contra as medidas de austeridade do governo de centro-direita do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, no valor de 25 bilhões de euros. ;Ninguém nega que precisamos realizar cortes, mas eles têm de ser cortes justos e que olhem para o futuro;, disse Susanna Camusso, que liderou a marcha no reduto esquerdista de Bolonha.

Sai a reforma do sistema financeiro

Washington ; Os legisladores americanos chegaram a um acordo ontem, após uma última negociação sobre a versão final da mais ampla reforma de regulamentação do sistema financeiro desde os anos 30, que visa impedir a repetição da catástrofe financeira de 2007-2009.

Após uma maratona de vinte horas, 43 legisladores das duas câmaras do Congresso reunidas em conferência acertaram um texto de compromisso nas primeiras horas desta sexta.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comemorou o avanço, afirmando que a reforma fará com que Wall Strett seja mais responsável. ;Temos observado o que ocorre quando Wall Street está mal regulada e não é suficientemente transparente;, afirmou.

O projeto de lei será aprovado na terça-feira, no Senado e na Câmara de Representantes, antes de ser enviado à Casa Branca para ser promulgado.

Diferença
O principal desacordo girava em torno da intenção de controlar mais severamente o imenso mercado de produtos derivativos, cujo valor nominal é estimado em cerca de US$ 6 trilhões. Esses complexos instrumentos especulativos estiveram no centro da última crise financeira, iniciada em 2007.

No novo texto, a reforma dos derivativos foi atenuada: os mais arriscados serão comercializados separadamente e nas entidades que não receberem dinheiro público, mas os bancos poderão continuar utilizando os derivativos vinculados aos mercados de câmbio, de ouro e de prata.

No mais, os legisladores chegaram a um acordo em uma medida batizada ;a regra de Volcker;, em homenagem ao assessor econômico do presidente Obama, Paul Volcker, cuja ideia é afastar os bancos comerciais da ;tentação; de assumir riscos e se concentrarem em suas atividades de crédito. Nesse ponto, os legisladores também autorizaram exceções, abrandando a versão original do texto. Assim, os bancos comerciais poderão continuar comercializando alguns produtos de investimento.

O projeto prevê, ainda, a criação de um organismo de proteção ao consumidor financeiro no âmbito do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e impede o resgate de grandes instituições financeiras com o dinheiro dos contribuintes.

Aprovada mudança na aposentadoria
O governo grego aprovou a lei de reforma do sistema de aposentadoria, um dos fundamentos do programa combinado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), disse um ministro que participou da reunião. ;O gabinete aprovou por unanimidade a lei de reforma da aposentadoria;, contou um ministro em troca de anonimato. Agora, o governo submeterá a lei ao Parlamento. Dos 300 assentos no Congresso grego, 157 são do governo, que deve obter a aprovação da lei, apesar das críticas.

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