Agência France-Presse
postado em 26/06/2010 20:32
TORONTO - O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, instou a China, este sábado (26/6), a acelerar a valorização do yuan, para equilibrar o comércio mundial e aliviar a pressão sobre o real, durante coletiva celebrada em Toronto (Canadá), antes de uma cúpula do G20."As duas partes buscarão, agora, sincronizar datas para a visita", disse Jeff Bader, diretor americana para assuntos da Ásia, ao fim da reunião que Obama e Hu mantiveram à margem da cúpula do G20, de países ricos e economias emergentes, no Canadá.
Mantega estimou que a recente flexibilização da política cambial chinesa foi "um passo positivo, mas só um primeiro passo".
"Para o Brasil é importante que haja uma flexibilização da moeda chinesa, que esta possa se valorizar, porque isto dará maior equilíbrio ao comércio internacional e ao fluxo de capitais", explicou.
Mas "é preciso que esta valorização se dê em um prazo relativamente curto para que este equilibro ocorra", destacou.
"O Brasil vem sofrendo valorizações de sua moeda. O governo não vai permitir que isto aconteça, mas sempre há uma pressão que pode diminuir se, por exemplo, a China permitir a valorização de sua moeda", concluiu.
Quanto aos ajustes orçamentários dos países europeus, afirmou que os mesmos "devem ser realistas e não inibir o crescimento".
"Se (os ajustes) ocorrerem em países avançados, pior ainda, porque estes países, ao invés de estimular o crescimento, prestam mais atenção no ajuste fiscal, e se são exportadores, estarão fazendo o ajuste às nossas custas", sentenciou.
Os países desenvolvidos em crise apostam, assim, em "ocupar os mercados dos emergentes que estão crescendo mais", acrescentou.
"Os países avançados exportadores não devem fazer ajustes fiscais muito severos que não estimulem seu consumo doméstico", pois "isto joga nos ombros dos emergentes a responsabilidade da reativação" econômica mundial, insistiu Mantega, chefe da delegação brasileira.
Mantega lidera a delegação brasileira devido à ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na sexta-feira cancelou a viagem a Toronto por causa das inundações no Nordeste.
Os cortes orçamentários, o problema do déficit e os desequilíbrios na economia mundial são temas que serão abordados na quarta cúpula do G20 em Toronto (Canadá).
O ministro concordou que para se ter uma economia mundial "mais equilibrada", os emergentes têm que reduzir seu superávit comercial, "mas não podemos deixar que os emergentes tenham déficits de contas correntes (prolongados) que beneficiem os países avançados".
Os duros ajustes preconizados pelas maiores economias européias, começando pela Alemanha, o segundo maior exportador mundial, depois da China, criaram fortes dissensões nas estratégias de saída da crise. Os Estados Unidos, que optaram por manter políticas estatais expansionistas, foram dos críticos mais duros.
"Os Estados Unidos estão em uma posição similar à dos emergentes", afirmou Mantega.
No ano passado, o real se valorizou 32,7% com relação ao dólar, recuperando as perdas de 23,17% sofridas em 2008.
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao poder, em 2003, o real se valorizou quase 100%, passando de 3,533 por dólar para cerca de R$1,78 por US$ 1, atualmente.
Os empresários brasileiros costumam queixar-se da concorrência chinesa, tanto no mercado interno quanto no externo.
Os parceiros comerciais da China, particularmente os Estados Unidos, intensificaram nos últimos meses suas pressões por considerar que o yuan está subvalorizado e que isto atribui uma vantagem comercial indevida ao gigante asiático, que em 2009 desbancou a Alemanha como primeiro exportador mundial.
Um dos principais aliados do Brasil entre os países emergentes do G20, a China reiterou, antes do início da cúpula do grupo, que não aceitaria pressões externas sobre sua divisa.