Economia

G-20 não concorda sobre fim dos incentivos à economia, luta contra o desemprego e tributação financeira

postado em 27/06/2010 08:50
Toronto, Canadá ; O comunicado do G-20, que será divulgado hoje ao fim da reunião de líderes, deverá demonstrar o firme compromisso dos países em reduzir, pela metade, os deficits orçamentários até 2013 e estabilizar a dívida a um percentual do Produto Interno Bruto (PIB) até 2016. Como a agenda oficial da reunião mudou para discussões econômicas e políticas, questões como a redução da dívida pública, regulação bancária e o valor da moeda chinesa ganharam prioridade.

Dentro desse contexto, no entanto, fontes do G-20 garantiram que não haverá nenhuma recomendação específica a qualquer país no comunicado oficial que será divulgado. Os líderes mundiais irão deixar que cada um decida a melhor forma de reparar os comprometidos orçamentos fiscais sem minar o crescimento. ;Há necessidade de todos os países se unirem em planos bem estruturados, respaldados e propícios ao crescimento para se obter a sustentabilidade fiscal diferenciada e adaptada para as circunstâncias nacionais;, diz um trecho que vazou do documento final em elaboração.

Nem mesmo um elogio à flexibilização do iuan, a moeda chinesa, está garantido no documento. A saudação, segundo uma fonte, poderá gerar mal-estar com Pequim, que tem insistido que sua taxa de câmbio é uma questão de soberania e não teria lugar na agenda do G-20.

Polêmicas
O grupo também deverá permitir que os países adotem ou não a cobrança de uma taxa sobre os bancos para recuperar os custos dos resgates. Os Estados Unidos e a Europa têm pressionado pela criação do imposto, mas outros países, incluindo o Canadá, contestam a medida. Eles alegam que os seus bancos agiram de forma conservadora durante o boom de crédito e não devem ser punidos pela recente crise financeira.

O que se vê até o momento é que não existe uma unidade de pensamento no G-20. Os líderes discordam sobre a melhor forma de garantir a recuperação das economias. O desemprego continua alto na maioria dos países e o crescimento vem desacelerando desde o fim do ano passado. Angel Gurria, secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com sede em Paris, disse que ignorar o peso da dívida poderia aumentar os custos de empréstimo, mas um corte demasiado cedo pode piorar o desemprego. ;Conseguir o equilíbrio é fundamental;, exortou.

O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, disse que os líderes foram unânimes em reconhecer que a recuperação global é ainda frágil. Daí, segundo ele, a necessidade de se adotar uma ação coletiva para evitar riscos de uma eventual crise de dívida soberana se transformar em outro ;evento cataclísmico; como a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

Obama quer taxa para bancos

O presidente norte-americano, Barack Obama, após obter uma importante vitória em relação à reforma do sistema financeiro, com uma nova regulação para Wall Street, pediu ao Congresso de seu país que aprove sua proposta para uma taxação sobre os bancos de US$ 90 bilhões em 10 anos.

Obama, que está no Canadá na cúpula do G-8 e do G-20, quer uma taxação de 0,15% sobre os passivos das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, a fim de recuperar os recursos públicos injetados no socorro financeiro durante a crise global. ;Precisamos impor uma taxa sobre os bancos que foram os grandes beneficiários da assistência pública durante a crise financeira, de modo que possamos recuperar cada centavo do dinheiro do contribuinte;, afirmou durante seu programa semanal no rádio e na Internet.

No encontro do G-8, a ministra da Economia da França, Christine Lagarde, sugeriu que as instituições financeiras guardem reservas adicionais para protegê-las de problemas futuros, abrindo caminho para um possível acordo sobre uma tarifa global para os bancos. ;Precisamos dessa rede de segurança formada por meio de uma taxa;.


O número
0,15%
Tributo sobre os passivos das maiores instituições financeiras dos EUA


Prosperar sem desequilíbrios

Toronto, Canadá ; O presidente da Comissão Europeia no G-8 e no G-20 ; grupos que reúnem as maiores economias do mundo e as emergentes ;, o português José Manuel Barroso chamou a atenção dos líderes dos países ricos para a necessidade de se cumprir as promessas com os mais pobres, mesmo num momento ;desafiador; para todas as economias do mundo.

;O mundo não pode prosperar em desequilíbrios, sejam macroeconômicos ou não;, ponderou. Segundo Barroso, deve haver um consenso em busca do fortalecimento mútuo e do apoio aos países mais pobres. ;Não devemos permitir que a determinação de uma ação coordenada global possa nos enfraquecer. Precisamos restabelecer a confiança e as condições de crescimento sustentável. E nós temos que cumprir as nossas promessas para com os pobres do mundo;, sustentou.

Barroso também defendeu que a ação de solidariedade seja contínua para que as ;nações mais pobres e vulneráveis; tenham condições de superar as dificuldades. Ele ressaltou que a União Europeia está em primeiro lugar como doadora, fornecendo 58% da ajuda ao desenvolvimento em todo o mundo ; cerca de 49 bilhões de euros, ou seja, aproximadamente 100 euros por cidadão europeu.

Pelas contas do presidente da Comissão Europeia, esse apoio já gerou 222 projetos beneficiando 50 milhões de pessoas nos países mais pobres. Mais de 500 milhões de euros já foram pagos. ;Também vamos honrar o compromisso de ajudar os outros. A União Europeia se comprometeu a disponibilizar mais recursos até 2012 para os países mais pobres;, disse.

Ajuste fiscal
Para Barroso, a Europa deve trabalhar pela reconstrução da confiança por meio de maior estabilidade e de esforços de consolidação fiscal combinado com as reformas estruturais. ; Esta não será uma mudança drástica da noite para o dia. Mas não há espaço para mais gastos deficitários;, lembrou. Ele também defendeu o aperto fiscal. ;Sem a consolidação orçamentária, nós abrimos caminho para uma nova crise. Mas o aperto fiscal não é um fim em si mesmo. É uma maneira de restaurar a confiança e o crescimento;.

Para as discussões que se encerram hoje, Barroso joga suas fichas na adoção de medidas que possam ser executadas no curto prazo. ;Quando lançamos este processo, os líderes do G-20 não tinham esperança. Espero que dessa vez nós consigamos regras em nível global para a regulação e a supervisão financeiras. Isso será muito importante para mostrar que este momento (da reunião) não vai ser perdido;, disse.

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