Agência France-Presse
postado em 27/06/2010 21:36
TORONTO - O G20 se comprometeu, este domingo (27/6), em Toronto (Canadá) a pôr todo o seu empenho na recuperação econômica, ainda "frágil", e alcançou consensos que permitem aos países europeus prosseguir com seus questionados ajustes e aplicar eventuais impostos bancários.Em uma declaração divulgada ao fim de uma cúpula de dois dias, o G20 defendeu, ainda, uma "maior flexibilidade na taxa de câmbio de alguns países emergentes", uma semana depois de a China anunciar que permitirá maior flutuação de sua moeda.
"A máxima prioridade para o G20 é proteger e reforçar a reativação e estabelecer as bases de um crescimento forte, duradouro e equilibrado, bem como reforçar nossos sistemas bancários contra os riscos", destaca o documento.
"O crescimento está voltando, mas a recuperação é desigual e frágil, o desemprego em alguns países se mantém em níveis inaceitáveis e o impacto social da crise ainda se sente amplamente", prossegue.
A inconformidade com esta situação ecoou nas ruas de Toronto, uma cidade às margens do lago Ontario, onde milhares de pessoas marcharam pacificamente este sábado em protesto contra o G20, antes que grupos de jovens provocassem violentos incidentes nos quais incendiaram pelo menos dois carros patrulha.
No domingo, novas marchas e a polícia deteve durante o fim de semana mais de 600 pessoas.
Enquanto isso, no Centro de Convenções de Toronto, os chefes de Estado e de governo do G20 tentavam chegar a consensos para sair da crise financeira global, a pior em oito décadas.
As discussões tiveram como pano de fundo o temor de que o bem para alguns acarretasse o mal para outros.
É o caso dos ajustes aplicados na Europa para recuperar a confiança dos mercados, depois da crise da dívida grega, mas questionados por Estados Unidos e grandes emergentes como o Brasil, por considerar que podem reduzir a demanda nestes países e criar uma nova recessão.
O presidente americano, Barack Obama, deixou claro que seu governo não está mais disposto a continuar endividando-se, como fez durante décadas, assegurando a demanda maciça de bens produzidos em todo o planeta.
"Depois de anos de endividamento excessivo, os americanos não podem se endividar - e não o faremos -, pedindo emprestado para assegurar a prosperidade do mundo", disse o presidente americano, durante entrevista coletiva.
Na declaração final do G20, estas preocupações se revelam em fórmulas conciliadoras.
Um parágrafo pede a todos os países para "avançarem mais no reequilíbrio da demanda mundial", estimulando-a ali onde é frágil, em alusão apenas velada à China, que está sob pressão para permitir que o yuan se valorize e para estimular seu mercado interno.
O G20 recomenda concretamente "reforçar as redes de proteção social, (...) intensificar o desenvolvimetno dos mercados financeiros e dos gastos de infra-estrutura e uma maior flexibilidade na taxa de câmbio de alguns países emergentes".
Por outro lado, admite que o descontrole orçamentário ou uma dívida pública desbragada representam riscos consideráveis.
O documento avaliza, por isso, o fato de que "as economias avançadas se comprometeram com programas orçamentários que reduzirão em pelo menos a metade seus déficits até 2013 e estabilizarão a relação da dívida pública com o PIB até 2016".
Também reconhece que o setor financeiro deve contribuir de forma substancial e equitativa para assumir a carga relacionada com as intervenções do governo (...) para restabelecer o sistema financeiro".
Muitos governos se mobilizaram para resgatar seus bancos, ameaçados de quebra, após o agravamento da crise financeira mundial, no fim de 2008. Mas alguns países, como o Brasil, se negam a generalizar esta medida, alegando entre outras coisas que seus bancos não cometeram os desmandos que causaram a crise.
O Brasil manifestou sua satisfação com estes compromissos.
"Os países emergentes foram plenamente contemplados no comunicado, nossas posições estão todas aí", dijsse o ministro da Fazenda e chefe da delegação brasileira, Guido Mantega, em entrevista coletiva ao fim da cúpula.
O G20 se tornou no ano passado o principal coordenador de políticas macroeconômicas. Seus membros representam aproximadamente 85% do PIB mundial.
Reúne Alemanha, Canadá, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia (países do G8), a União Europeia e onze economias emergentes: África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México e Turquia.
A próxima cúpula do G20 será celebrada em novembro, em Seul.