Economia

Tentáculos do maior partido

Presença nesse setor do governo é marcada mais pelo pragmatismo do que por compromissos

Marcone Gonçalves
postado em 28/06/2010 07:53
Maior partido político do Brasil, o PMDB está presente em todos os principais ministérios, autarquias, empresas públicas e órgãos reguladores da área econômica do governo Lula. Dos 11 mais importantes ministérios, o partido domina seis: os de Minas e Energia, Defesa, Agricultura, Integração Nacional, Saúde e Comunicações. A presença do partido no poder, no entanto, é marcada mais pelo pragmatismo do que por compromissos com uma corrente de política econômica. A agremiação reúne lideranças de diferentes matizes ideológicas, da esquerda mais estatizante representada pelo governador do Paraná Roberto Requião aos mais liberalizantes como o próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Os cardeais da legenda reconhecem que exercem uma presença maior no consórcio político firmado com o PT. ;De fato, temos mais espaço agora do que nos governos anteriores;, afirma o ex-governador Wellington Moreira Franco, integrante da executiva do PMDB.

A falta de uma orientação ideológica e a participação nos últimos governos ; todos os últimos governos democráticos ; rendeu ao partido uma profusão de cargos e a pecha da mais fisiológica legenda brasileira.

Por onde os peemedebistas estão espalhados

O maior partido do país planeja os rumos, aprova as normas e executa as ações que afetam diretamente o desenvolvimento do país. Veja abaixo alguns exemplo da presença do partido no governo Lula:

Nelson JobimBanco Central do Brasil
; A instituição, que é responsável pela política de juros do país e pela solidez dos bancos e demais instituições financeiras, é presidida por Henrique Meirelles, hoje a autoridade chave da economia brasileira. A ele cabe combater a inflação, administrar os US$ 250 bilhões das reservas internacionais do país e a quantidade de dinheiro que circula na economia.

Ministério das Comunicações
; De chefe de gabinete, José Artur Filardi Leite assumiu o posto do ex-ministro Hélio Costa, que agora disputa o governo de Minas. Mais do que orçamento de R$ 1,8 bilhão, são as definições das políticas para o setor de telecomunicações e para a radiodifusão no Brasil que revelam o papel estratégico da pasta, cuja distribuição de concessões de rádio no início da redemocratização ajudou a assegurar mais um ano de mandato para o então presidente José Sarney.

Ministério da Integração Nacional
; No lugar de Geddel Vieira Lima, que saiu para disputar o governo da Bahia, assumiu o secretário-executivo, João Santana. Autorizado a gastar este ano R$ 8,8 bilhões, o ministério é mais que um péssimo distribuidor de fundos para situações de calamidades. É o responsável pela execução da transposição do rio São Francisco. As políticas de desenvolvimento regional passam por lá, assim como um manancial de benefícios concedidos pela Sudene e Sudam, além das obras do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e da Companhia dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

Henrique MeirellesMinistério da Defesa
; Assim como Romero Jucá no Parlamento, o ministro Nelson Jobim é egresso da era FHC e mantém-se no poder com papel de destaque na gestão Lula. À frente de um programa de R$ 6,1 bilhões só para o reaparelhamento das Forças Armadas, Jobim comanda o segundo maior orçamento da Esplanada: R$ 56,1 bilhões.

Ministério da Agricultura
; As acusações de loteamento de cargos contra o ex-deputado Wagner Rossi, também ex-presidente da Conab, não o impediram de assumir o ministério em março. Com R$ 8 bilhões de orçamento, a pasta que ele comanda tem uma função de peso no que diz respeito ao estímulo ao agronegócio no Brasil. De janeiro a maio, as exportações desse setor somaram US$ 28 bilhões.

Ministério de Minas e Energia
; Ao sair em março para tentar a reeleição para o senado, Edison Lobão (PMDB-MA) deixou a pasta nas mãos Márcio Zimmermann. Sem filiação partidária, o engenheiro catarinense foi adotado pelo PMDB e comanda um orçamento de cerca de R$ 7 bilhões. O futuro do setor elétrico, considerado um dos mais sérios desafios para o crescimento sustentado da economia, depende das políticas deste ministério.

Correios
; O presidente Carlos Henrique Custódio e os diretores mais importantes da estatal são apadrinhados por dois dos mais poderosos peemedebistas: o candidato ao governo de Minas, Hélio Costa, e o senador Romero Juca (RR). Mesmo faturando cerca de R$ 11 bilhões ao ano, a estatal atravessa uma crise de gestão, com atrasos na entrega de correspondências e problemas com franqueados, o que já levou o próprio presidente Lula a demonstrar seu descontentamento em público. Apesar disto, o comando da empresa continua nas mãos do PMDB. A estatal é a maior empregadora do Brasil, contando no início de 2008 com mais de 109 mil empregados próprios, além dos terceirizados. É também a única empresa a estar presente em todos os municípios do país, com uma vasta rede de unidades próprias e franqueadas.

Petrobras
; A maior estatal do país, que pretende investir, em média, US$ 44,8 bilhões anuais até 2014, um total de US$ 224 bilhões, é comandada pelo PT, mas com a participação dos peemedebistas. Indicado pelo PMDB mineiro para ocupar a diretoria Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, técnico de carreira da estatal, lidera um programa de investimentos de cerca de US$ 11,5 bilhões. Já Paulo Roberto Costa, funcionário de carreira, é o diretor de Abastecimento da empresa.

José Antonio Muniz LopesEletrobras
; Ligado ao senador José Sarney, o engenheiro José Antonio Muniz Lopes preside a empresa que já foi uma das maiores da América Latina e vem tentando recuperar o desempenho perdido na década de 90. Em 2010, a companhia deverá investir R$ 9 bilhões. Uma das causas da derrocada da empresa, o loteamento político é comum em todo o sistema Eletrobras composto de 12 subsidiárias, uma empresa de participações (Eletrobras Eletropar), um centro de pesquisas (Eletrobras Cepel) e metade do capital de Itaipu Binacional. A holding é responsável por 37% do total da capacidade de geração do Brasil. São 30 usinas hidrelétricas, 139 termelétricas, sendo 126 nos Sistemas Isolados, e duas termonucleares. São responsáveis por mais de 59 mil quilômetros de linhas de transmissão, correspondentes a cerca de 56% do total do país. José Sarney, Jáder Barbalho e Edison Lobão são apontados como padrinhos de grande parte dos diretores das empresas do setor.

Caixa
; O consórcio PT-PMDB também funciona no segundo maior banco estatal brasileiro. Ao ocupar a vice-presidência de Fundos e Loterias, com o ex-governador do Rio de Janeiro, Wellington Moreira Franco, o partido está à frente das operações das loterias e de R$ 235 bilhões em ativos do FGTS, o principal fundo dos trabalhadores brasileiros e a maior fonte de recursos para os financiamento da casa própria ; inclusive do Minha Casa, Minha Vida. O FGTS também financia grandes obras de infraestrutura em todo o país. Outro ligado ao PMDB é o vice-presidente de Pessoa Jurídica, Carlos Brito, ex-administrador do Recanto das Emas.

Conab
; Com um orçamento de R$ 5,5 bilhões, a empresa encarregada de gerir as políticas agrícolas e de abastecimento, responsável por assegurar os estoques de alimentos, é presidida por Alexandre Magno Franco de Aguiar. Nesse caso, a indicação é fruto de joint venture entre o PTB e o PMDB, cujo acordo deu fim a uma disputa em torno da vaga que já era ocupada interinamente por Alexandre Aguiar.

Fundos de Pensão
; O partido comanda R$ 14,6 bilhões à frente de três grandes fundos de pensão de estatais ; Real Grandeza (Furnas), Postalis (Correios) e Eletros (Eletrobras) ;, setor no qual divide influência e cargos com o Partido dos Trabalhadores. O Real Grandeza, o quinto maior fundo das estatais federais, é presidido por Aristides Leite França, que comanda um orçamento de R$ 7,1 bilhões, superior à maioria dos ministérios. O Postalis, cujo patrimônio é de R$ 5,1 bilhões, é presidido por Alexej Predtechensky, apadrinhado do ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão. Ele tem estreitas relações com a família Sarney. Trata-se da maior entidade previdenciária do país em número de participantes, com 181,5 mil e o sétimo maior fundo de pensão entre as estatais federais. Já o Eletros, dos funcionários da Eletrobras, conta com um patrimônio de R$ 2,3 bilhões e é presidido por Marco Aurélio Orrego da Costa e Silva.

Agências reguladoras
; Desde a criação das agências reguladoras, consideradas essenciais para controlar a atividade de diferentes setores econômicos, o PMDB mostrou sua força dentro dessas autarquias. Mais recentemente, o partido emplacou como diretor da Agência Nacional do Petróleo, Alan Kardec, do Maranhão. Agora, Edison Lobão Filho, suplente do pai Edison Lobão, tenta viabilizar outro, Dirceu Amorelli. Na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o presidente do Senado, José Sarney, colocou sua ex-auxiliar Emília Ribeiro. Já na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o ex-senador Wellington Salgado (PMDB-MG) espera a indicação de Jorge Bastos para uma das diretorias da agência. Com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não é diferente: há duas semanas, o senador Edison Lobão incluiu a toque de caixa na comissão de Infraestrutura o nome de André Pepitone da Nóbrega para a direção da agência. Ele foi aprovado no dia 23 de junho.

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