postado em 29/06/2010 08:44
O mercado revisou as estimativas para as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e antecipou o fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) esperado, inicialmente, apenas em dezembro. Os cerca de 100 analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) projetavam dois aumentos de 0,75 ponto percentual nas próximas reuniões, uma pausa em outubro e um novo avanço de 0,25 ponto em dezembro. No relatório divulgado ontem, a previsão dessa última elevação passou para outubro, movimento que seria seguido por uma pausa para avaliar os resultados da política monetária restritiva.Para o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, a mudança demonstra mais coerência. ;Do jeito que estava, não fazia muito sentido, porque o mercado trabalha com dois cenários. No primeiro, haveria uma pausa a partir de setembro, para recomeçar a mexer na taxa só no ano que vem. No segundo, elevação da taxa sem pausa até o fim do ano. Não teria muito sentido uma parada em uma única reunião;, considerou. O mercado também reviu a atuação do BC para o ano que vem e antecipou para janeiro o aumento de 0,25 ponto percentual que estava previsto apenas para março.
As instituições reduziram ainda a perspectiva de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5,61% para 5,55% neste ano, refletindo o bom comportamento dos preços de alimentos. Para Teles, as expectativas devem continuar caindo e vão contribuir para ancorar as estimativas de 2011 ; o mercado já mantém por 11 semanas a previsão de 4,80% de inflação em 2011.
O trabalho da equipe de Henrique Meirelles, no entanto, não deve ser aliviado, mesmo com projeções comportadas para o ano que vem. Além de choques de preços imprevisíveis, o aumento da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas concessões de crédito deve desequilibrar essa balança. O fato ocorre porque, como o banco trabalha com taxas de juros ubsidiadas, quanto mais abrangente é sua atuação, menor é a eficácia dos justes realizados na Selic.
Custo do crédito
Segundo o economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria, o efeito tem aumentado nos últimos anos, com o reforço do governo no caixa do banco. Entre 2009 e 2010, foram aportados R$ 180 bilhões com a emissão de papéis do Tesouro Nacional. ;Na prática, a Selic, que regula o custo do crédito e, portanto, do dinheiro disponível na economia, acaba atuando em uma parcela cada vez menor desses recursos. Para fazer o mesmo efeito, esses ajustes têm que ser cada vez mais fortes;, considerou.
A concessão de crédito do BNDES aumentou 2,7% em maio e 40,8% em 12 meses. Para Andrade, a política de bancar com dinheiro público a diferença dos juros entre o captado no mercado e o cobrado pelo BNDES é positiva, mas a longo prazo, pode ser prejudicial para a administração da dívida.
Na contramão dos preços de alimentos também estão os custos de construção, que avançaram de 0,93% em maio para 1,77% em junho, segundo indicador divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas. O resultado foi puxado pelo índice de custo da mão de obra, que avançou 2,59%, impulsionado por reajustes salariais em Brasília e São Paulo. Os valores de materiais, equipamentos e serviços aumentaram 1,02%.
"Não teria muito sentido uma parada (na política de aumentar os juros) em uma única reunião;
Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management
Crescimento limitado
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu um ritmo mais ;prudente; de expansão da economia no ano que vem. Após o superaquecimento verificado neste ano, com economistas estimando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) ao redor de 7%, ele recomendou ontem o aperto do freio para que a velocidade não passe de 5,5% em 2011.
;Depois de um ano forte, o seguinte tem de dar uma ajustada, mas acho que 5,5% é uma taxa possível (de se alcançar sem provocar inflação). Em 2012, já dá para voltar para 6%, 6,5%;, disse o ministro à agência Reuters na noite de domingo, apostando na melhora da capacidade produtiva da indústria doméstica. ;Eu prefiro crescer um pouco menos e manter o equilíbrio macroecômico. Não é muito prudente crescer mais que isso.;
Um dos primeiros países a se recuperar do declínio provocado pela crise global, o Brasil vive às voltas com temores de aceleração da inflação. O Banco Central (BC) já elevou a taxa básica de juros duas vezes neste ano, chegando aos atuais 10,25%. Os analistas de mercado preveem novas altas até dezembro, que poderiam colocar a Selic em 12%.
Mantega concedeu a entrevista em Toronto com aparatos de chefe de Estado. Substituto oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do G-20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia), discursou no fim de semana ao lado de líderes como o presidente norte-americano, Barack Obama, e o francês, Nicolas Sarkozy.
Bandeira
No Canadá, o ministro vocalizou a bandeira dos países emergentes e dos Estados Unidos de que, para o bem da economia global, é imperativo que o mundo cresça. Para isso, ainda haveria necessidade de aumento dos gastos públicos. A tese encontra resistência na Europa, em ensaio geral para um aperto das contas, o que deve representar retirada dos estímulos à atividade.
Segundo Mantega, os países europeus mais fortes têm de estimular sua demanda doméstica e contribuir para a retomada do comércio internacional, para não deixar o trabalho nas mãos dos países emergentes. Conhecidos pela sigla Bric, Brasil, Rússia, Índia e China vêm puxando a recuperação econômica global. Para o ministro, é prematuro eliminar estímulos e seguir na linha do aperto severo, sob o risco de comprometer parte central da engrenagem econômica mundial.
O número
5,5%
Taxa de expansão
da economia
desejada pelo ministro
da Fazenda para 2011