Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 01/07/2010 07:29
Apesar da puxada nos juros dos últimos meses, com o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentando por duas vezes consecutivas em 0,75 ponto a taxa básica de juros (Selic), o Banco Central elevou, mais uma vez, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2010. No relatório trimestral de inflação divulgado ontem, a estimativa de aumento dos preços no cenário de referência (câmbio a R$ 1,80 e Selic a 10,25% ao ano) passou de 5,2% para 5,4%. A inflação também subiu no cenário de mercado (pesquisa semanal Focus). Com isso, ficou mais distante para o BC acertar o centro da meta de inflação para o ano, que é de 4,5%.A nova estimativa reforça a subida da taxa de juros em mais 0,75 ponto percentual, esperada pelo mercado para a reunião do Copom que ocorrerá no fim de julho. ;A ata (do Copom) já tinha sido dura e o relatório ratificou o viés de alta;, resumiu o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho. Mesma avaliação fez a economista Tatiana Pinheiro, do Santander. Ela observou que ambos os cenários ; de referência e de mercado ; apresentaram deterioração em relação ao relatório de inflação divulgado em março. O banco espanhol manteve a visão de que será necessária muita austeridade por parte do BC para conseguir fazer a inflação convergir para a meta também no próximo ano.
Levando-se em conta um câmbio a R$ 1,80 e a taxa de juros anuais a 10,25%, a expectativa de inflação para 2011 subiu de 4,9% para 5%. No contexto que considera as consultas realizadas pelo BC junto aos agentes de mercados, a estimativa para o IPCA em 2010 passou de 5,2% para 5,3%. Para 2011, a inflação acumulada avançou de 4,4% para 4,6%.
Nilson Teixeira, economista- chefe do Credit Suisse, disse que o relatório reforça que o aumento da inflação correspondeu ao descompasso entre o crescimento da demanda doméstica e a capacidade de expansão da oferta. Nesse sentido, o documento apontou para o surgimento de ;pressões inflacionárias decorrentes da crescente utilização dos fatores de produção;. Para ele, as condições do mercado de trabalho, com desemprego em baixa e massa salarial crescente, também estão pressionando a inflação.
Ameaças
O relatório do BC aponta diversos fatores de risco para a subida da inflação, entre eles a escalada dos preços ao produtor, a persistência da alta inflação de serviços, a elevação dos preços das commodities e o aumento da aversão ao risco internacional ; tendo como consequência a depreciação cambial. O documento também aponta para o efeito ambíguo que uma nova crise global teria sobre a inflação. De um lado, a desaceleração da atividade e a diminuição dos valores das commodities reduziriam a escalada dos preços mas, do outro, o menor apetite ao risco resultaria em depreciação cambial, contribuindo para o aumento da inflação.
Os economistas do Credit Suisse mantêm a expectativa de juros em 0,75 ponto em julho. Para o ano, no entanto, o banco está mais otimista. Ainda projeta uma Selic de 11,5% para o fim de 2010, embora ressalte que o relatório de inflação de junho leve a uma leitura mais desfavorável sobre o risco de recrudescimento inflacionário.
RECEIO DE NOVA ESCALADA
; O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, chamou a atenção para o fato de a inflação não ter desacelerado após a crise em muitos países, inclusive o Brasil. Durante a divulgação do Relatório de Inflação, o representante da autoridade monetária brasileira disse que, graças à ação dos governos, a saída da última crise foi mais rápida em vários aspectos, como, por exemplo, no que diz respeito à recuperação das bolsas e do comércio. Sobrou, portanto, a tarefa de combater a inflação. O diretor do BC mostrou preocupação especial com a escalada de preços no segmento serviços. ;A inflação de serviços tem se mostrado bastante resistente;, reconheceu.