postado em 02/07/2010 07:33
Com o mundo crescendo a passos de tartaruga, a balança comercial brasileira encerrou o primeiro semestre com o pior saldo desde 2002. No acumulado do ano, o superavit ficou em US$ 7,8 bilhões, valor 43,3% menor do que o registrado no mesmo período de 2009 (US$ 13,9 bilhões). Exportações e importações aumentaram, mas as compras cresceram mais do que as vendas. Para os próximos seis meses, as previsões do governo são positivas, apesar do câmbio fraco e da crise na Europa.Não fosse a expansão da América Latina, o país teria amargado um resultado ainda mais desanimador. As perspectivas de crescimento do México e da Argentina, entre outros, puxaram o fluxo comercial, compensando quedas identificadas nas trocas com a África e a Ásia. Entre janeiro e junho, foram exportados US$ 89,1 bilhões ; 26,5% a mais do que os US$ 69,9 bilhões do ano passado. As importações saltaram 43,9%: de US$ 56 bilhões para US$ 81,3 bilhões.
A corrente de comércio(1) aumentou 34,2%, saindo de US$ 125,9 bilhões para US$ 170,4 bilhões na comparação entre o primeiro semestre de 2010 e o de 2009. ;Crescer o volume de comércio é o mais importante e isso está acontecendo;, resumiu Fábio Faria, secretário adjunto de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A projeção oficial para as exportações é de US$ 180 bilhões neste ano.
O aquecimento da demanda doméstica e o dólar barato fizeram as importações baterem recordes. Nunca o Brasil comprou tanto de parceiros globais como agora. Os desembarques de bens de consumo, entre os quais automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, combustíveis e lubrificantes e bens de capital foram os principais destaques. Esses produtos entraram no país, na grande maioria, vindos de Estados Unidos, China, Argentina, Alemanha e Coreia do Sul. Segundo Faria, a expansão das compras internacionais respondem a um movimento natural que combina taxa de câmbio e aquecimento econômico. ;Essas duas coisas fazem com que haja um crescimento das importações;, completou o técnico do MDIC.
Do lado das exportações, os resultados obtidos pelo Brasil ao longo do primeiro semestre indicam recuperações de preço e de quantidade nos embarques de itens como soja, minério de ferro, carnes e açúcar. Apesar da volatilidade das cotações dessas commodities registrada nos últimos dois meses, nem todas as encomendas foram entregues, o que, na avaliação do governo, deverá impulsionar os ganhos das exportações nacionais ao longo dos próximos seis meses.
China
Destino e origem de boa parte do que o mundo consome, a China vendeu mais ao Brasil do que o país conseguiu embarcar para a potência asiática. O superavit comercial brasileiro com os chineses caiu no primeiro semestre de 2010 na comparação com igual período do ano passado. Os US$ 4,5 bilhões registrados em 2009 recuaram 40%, para US$ 2,7 bilhões. Entre janeiro e junho, as empresas brasileiras exportaram US$ 13,5 bilhões para o país oriental ; crescimento de 17,9% ante 2009, mas as importações explodiram 57,7%, totalizando US$ 10,7 bilhões.
O desequilíbrio é visto com ressalvas pelos especialistas em comércio exterior. As apostas são de que o Brasil e outras economias emergentes mais cedo ou mais tarde vão encontrar um meio-termo no fluxo de trocas com os chineses. O país ainda tem muito a importar em grãos e em minério de ferro. Fábio Faria crê que o Brasil encerra 2010 com saldo positivo em relação à China, o que contribuirá para um resultado geral da balança positivo. Tal percepção está de acordo com o que esperam os agentes financeiros consultados semanalmente pelo Banco Central. Os analistas, conforme a última previsão, elevaram de US$ 15 bilhões para US$ 15,1 bilhões a estimativa de superavit comercial brasileiro em 2010.
1 - Termômetro
Durante o primeiro semestre de 2010, a corrente de comércio do Brasil com o exterior ; soma das exportações com as importações ; alcançou recorde histórico. Para o governo e os analistas independentes, é esse movimento que garante ao país sustentabilidade à balança comercial. O indicador é uma espécie de termômetro, capaz de medir movimentos futuros de parceiros comerciais. Isso pode dar uma pista aos empresários dos rumos do comércio internacional.
Indústria surpreende
Gabriel Caprioli
A relativa estabilidade da produção industrial no mês passado pegou de surpresa a maior parte do mercado, mas ainda não é considerada uma reversão da tendência de crescimento da atividade econômica. Segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção recuou 0,8% entre abril e maio, mas continua avançando 14,8% quando comparada a maio de 2009 e 17,3% no acumulado do ano. Para o analista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, os dados são favoráveis e apontam para um arrefecimento moderado no segundo semestre, em relação à forte expansão dos primeiros seis meses.
;O avanço da produção de bens de capital em maio aponta mais investimento e, ao mesmo tempo, temos queda na produção de bens de consumo;, avaliou. De acordo com Bacciotti, a retirada de estímulos fiscais da economia deve ter um impacto forte também na produção de bens duráveis, que no mês passado cresceu 0,1%, contribuindo para a acomodação da economia.
Equipamentos
Entre as categorias de produção, apenas a de bens de capital ; que inclui maquinários e equipamentos ; apresentou avanço expressivo (1,2%) na comparação mensal. A produção de bens intermediários e de bens de consumo ficou relativamente estável no mês passado, com alta de 0,1% e queda de 0,5%, respectivamente.
Apesar de também ter sido surpreendido, Henrique Santos, economista da Tendências Consultoria acredita que a estabilidade registrada no mês passado ainda não pode ser considerada uma inclinação. ;É um resultado pontual e não reflete mudanças de cenário;, comentou. Para ele, a queda foi puxada por fatores específicos, como a paralisação de unidades de refino de petróleo e álcool, já programadas. Avaliou também que queda do processamento de alimentos, que também puxou para baixo a atividade industrial, não deve se prolongar. De acordo com o IBGE, 16 setores da indústria registraram avanço na produção em maio, em relação a abril, enquanto 11 tiveram queda. Quando comparados com o mesmo período de 2009, 23 entre os 27 setores pesquisados acumularam crescimento na produção.
BNDES LIBERA 72% A MAIS
; O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 10,4 bilhões em maio, cifra 72% maior que os R$ 6 bilhões emprestados no mesmo mês de 2009. A instituição de fomento informou que, no acumulado do ano, as liberações alcançaram R$ 46 bilhões, uma alta de 41% em relação aos cinco primeiros meses do ano passado. O banco atribuiu o resultado ao êxito do programa BNDES PSI, criado para impulsionar os investimentos no país.