postado em 05/07/2010 08:31
Preocupada em se livrar dos impactos da crise do euro, a França, a quinta maior economia do planeta, pretende oferecer ao mundo um novo conceito de política macroeconômica. Trata-se da ideia de que é possível implementar medidas de austeridade com os gastos públicos e, ao mesmo tempo, adotar ações para impulsionar o crescimento da economia. Ontem, a ministra da Economia da França, Christine Lagarde, criou uma nova palavra para definir essa combinação: ;rilance;, formada pela junção de ;riguer; (rigor) e ;relance; (renascimento).A ministra inventou o neologismo menos de uma semana depois que o governo francês anunciou um pacote fiscal para economizar mais 10 bilhões de euros (US$ 12,3 bilhões) até 2013. Metade da economia será atingida por meio do corte nos gastos públicos. Outros 3 bilhões de euros virão da redução dos empregos nos serviços públicos. O restante virá de medidas para conter os custos, como a diminuição da frota de automóveis, o aumento do uso de internet e a venda de propriedades imóveis.
O dilema aperto fiscal versus crescimento que os franceses pretendem superar é enfrentado hoje por grandes parte dos países europeus. Com dívidas públicas elevadas, os governos precisam reconquistar a confiança dos investidores quanto à capacidade de honrar seus compromissos futuros. Para afastar o risco de um calote, os 16 países da Zona do Euro criaram um plano de socorro de 110 bilhões de euros para a Grécia e um fundo de estabilização de 750 bilhões de euros.
Receituário
O problema é que o custo a ser pago para ficar de bem com o mercado financeiro é justamente o comprometimento do crescimento da economia, já que o receituário anticrise prevê a redução dos gastos públicos, o aumento de impostos e reformas do sistema previdenciário. Essa é uma realidade que a França, embora longe da mira da desconfiança dos investidores, pretende contrariar. ;Rigor ou crescimento não é uma escolha; não é um nó górdio;, afirmou Christine.
;A política econômica que implementamos na França é uma dose sutil, na qual assumimos responsabilidade em uma situação extremamente difícil. Deixamos o restante do trabalho do plano de crescimento, enquanto aumentamos o financiamento para grandes estratégias;, emendou. Christine citou, entre as ações para impulsionar o investimento e inovação, as mudanças em impostos para empresas e os créditos tributários para inovação.
AS RAZÕES DE SÓCRATES
; O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, defendeu a decisão de seu governo de vetar a venda, por US$ 8,5 bilhões, da participação da Portugal Telecom (PT) na operadora Vivo para a espanhola Telefónica. Ele justificou a decisão com o argumento de que a operadora de telefonia celular brasileira, número um no Brasil e que responde por cerca de 50% do faturamento da PT, é um ;ativo fundamental; para a economia portuguesa. Sócrates disse ainda que a medida não violou lei alguma. ;Estamos defendendo nossos interesses e temos direito a isso. Os direitos especiais que o Estado tem são resultado de uma decisão aprovada pelos acionistas quando se privatizou a Portugal Telecom;, declarou ao jornal espanhol El País. O líder rechaçou as declarações da Comissão Europeia, segundo as quais o governo português se outorgou tais direitos unilateralmente. ;Não é verdade. Os direitos especiais foram decididos pela assembleia geral de acionistas da Portugal Telecom e de acordo com nossas regras de funcionamento de sociedades comerciais;, afirmou.
Trichet prefere a austeridade
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a defender a austeridade fiscal como a principal via de saída para a crise de confiança enfrentada pelos países europeus. Para Trichet, os cortes no orçamento e as reformas estruturais vão cimentar a recuperação. Além disso, os testes de estresse bancário devem ajudar a restaurar a crença no setor financeiro. Ele voltou a se opor à proposta de emissão de títulos da dívida pelos países da Zona do Euro como forma de promover o crescimento. ;Não tenho nenhuma visão positiva de tal ideia. Estamos em um período em que temos que gerir com muito cuidado todos os orçamentos;, disse durante uma reunião em Aix-en-Provence, sul da França.
Na avaliação de Trichet, os cortes nos gastos públicos e o equilíbrio orçamentário não vão sufocar a recuperação da atividade depois da mais séria crise internacional desde os anos 1930, que desnudou os sérios desajustes nas contas públicas dos países europeus. ;Nós vemos as reformas estruturais como fundamentais, se quisermos aumentar o potencial de crescimento econômico da Europa;, emendou.
Otimista, o presidente do BCE afirmou que Europa não está enfrentando um período de recessão. Ele também descartou ontem qualquer risco de uma nova queda no Produto Interno Bruto (PIB) global, mesmo com os mercados financeiros atravessando um momento de preocupação, na semana passada. Os investidores ficaram nervosos com a divulgação de indicadores decepcionantes nos Estados Unidos e das dúvidas quanto à solidez da economia chinesa. ;Não acredito nisso em absoluto;, afirmou, sobre a hipótese de mais um mergulho da economia mundial.