postado em 08/07/2010 07:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um alerta: os países desenvolvidos vão tentar tabelar os preços das commodities (produtos primários comercializados nas bolsas de mercadorias), prejudicando as vendas dos emergentes. Em discurso para empresários brasileiros e tanzanianos, em um hotel em Dar es Salaam, na Tanzânia, Lula apostou que o controle começará a ser desenhado pelo G-20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia. Ele pregou a união dos governos de nações em desenvolvimento para evitar eventuais prejuízos nas decisões tomadas em fóruns internacionais.;Nos próximos dias, no G-20, os países ricos vão querer tabelar os preços das commodities, aquilo que os países pobres têm. Eles vão tentar criar confusão com os países pobres, que têm minério para exportar, porque eles querem controlar os preços. Agora, não querem que nós controlemos os preços dos produtos manufaturados que eles exportam;, ressaltou.
Lula também criticou o discurso de defesa do livre comércio de alguns países ricos, que não refletem suas práticas no cenário internacional. ;Se eles acreditassem realmente em livre mercado, nós teríamos feito o acordo da Rodada Doha;, disse. A rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC) para liberalização das exportações, cujas negociações já duram 10 anos, está suspensa por um impasse entre as nações desenvolvidas e as emergentes.
O presidente aproveitou a oportunidade para defender os interesses da Vale, que participará de duas licitações para a exploração de minas de carvão e fosfato na Tanzânia, e os projetos de etanol da Petrobras. Ele sugeriu que os tanzanianos optem pela empresa que mais contrate trabalhadores locais, deixando subentendida uma crítica às companhias chinesas, que dão preferência aos empregados vindos da própria China. Lula está em viagem oficial a seis países africanos.
Brasileiros construirão ponte em Moçambique
A visita do presidente Lula à África já rende frutos ao país. O governo de Moçambique anunciou ontem que construirá uma ponte sobre o rio Zambeze graças a um consórcio brasileiro-português que decidiu tocar a obra. O empreendimento custará US$ 132 milhões e unirá a cidade de Tete com a região de Benga, afirmou o porta-voz do governo, Alberto Nkutumula. A área é estratégica para Moçambique, pois contém as mais importantes reservas de carvão do mundo, estimadas em 2,4 bilhões de toneladas. As obras começarão na semana que vem e devem ser concluídas em 2014. O consórcio terá a concessão por 30 anos. O projeto inclui a restauração das estradas dos arredores e da ponte vizinha Samora Machel, construída nos anos 1970.
Desemprego histórico
Relatório divulgado ontem pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou a situação dramática do emprego em algumas das principais economias do mundo. Segundo o estudo, os 31 países participantes da OCDE precisariam criar 17 milhões de postos de trabalho para voltar aos níveis pré-crise. Na avaliação do secretário-geral da entidade, Angel Gurría, a prioridade dos governos deve ser o estímulo à abertura de vagas nas empresas, mesmo que seja necessário manter os incentivos fiscais que geram desequilíbrios nas contas públicas.
;Reduzir o desemprego e os deficits públicos ao mesmo tempo é um desafio que precisa ser levado adiante. Apesar dos sinais de recuperação, ainda existe o risco de milhões de pessoas continuarem desconectados do mercado de trabalho;, disse. A taxa de desocupação nos países ricos atingiu o pico de 8,6% em maio, o nível mais alto no período pós-Segunda Guerra Mundial. Segundo o estudo, 47 milhões de pessoas estão desempregadas na área da OCDE. Se forem considerados os trabalhadores que desistiram de procurar vagas ou que se dedicam a ocupações de meio período, o montante sobe para 80 milhões de desempregados ou subempregados.
O relatório defende a manutenção das políticas de estímulo ao emprego. ;Dada a gravidade da desaceleração do mercado de trabalho e os riscos sociais e econômicos que isso implica, é importante continuar concedendo fundos apropriados para as políticas de mercado de trabalho;, indicaram os economistas da organização.