Economia

País tem fuga de US$ 4,2 bi em junho

BC mostra que a saída de recursos volta aos níveis registrados nos momentos mais agudos da crise mundial, no fim de 2008

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas, Vera Batista
postado em 08/07/2010 07:00
O Brasil voltou a registrar saída de dólares em volumes semelhantes aos verificados no auge da crise internacional, no fim de 2008 e no início do ano passado. Em junho, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, o fluxo cambial ; que contabiliza as operações no segmento comercial e também no financeiro ; ficou negativo em US$ 4,27 bilhões. Foi o pior resultado desde dezembro de 2008, quando o movimento de câmbio ficou negativo em US$ 6,37 bilhões.

Pelos dados do BC, o grosso da fuga de recursos se concentrou no segmento financeiro. Nessa conta são registradas as transações de compra e venda de moeda, ações e títulos públicos, além de remessa de lucros e dividendos pelas empresas, entre outras operações. No mês passado, a saída líquida pelo segmento financeiro foi de R$ 3,49 bilhões. Esse resultado só é superado pela sangria de dólares registrada em março de 2009, quando, ainda sentindo o efeito da crise, os investidores retiraram do país US$ 3,90 bilhões. O resultado da balança comercial (diferença entre exportações e importações) também foi negativo em US$ 788 milhões.

O movimento de câmbio permaneceu negativo no início de julho. Nos primeiros dois dias, o BC registrou saída líquida de US$ 980 milhões, sendo US$ 343 milhões pelo segmento financeiro e os demais US$ 565 milhões relativos a importações bastante superiores às exportações. No acumulado do ano, no entanto, a entrada de dólares no país está positiva em US$ 2,62 bilhões. No mesmo período do ano passado, o ingresso de recursos foi menor, de US$ 1,75 bilhão.

Confiança
Mesmo com as fortes retiradas de recursos em junho e no início do mês, Mário Paiva, analista da Corretora Liquidez, vê o movimento como pontual, devido à necessidade de as empresas estrangeiras que operam no país de remeter dólares para as suas matrizes, muitas atoladas em dívidas e enfrentando queda no faturamento. Na avaliação do analista, a situação continuará favorável para o Brasil, tanto que os preços da moeda americana estão comportados.

Para ele, o mercado entendeu que o fluxo cambial já não é tão grande quanto antes da crise econômica global e que o clima não é de desconfiança. Reflete muito mais o momento que o mundo vem passando, de grave crise em quase toda a Europa. ;O Brasil é extremamente atrativo aos olhos dos investidores. E a tendência não vai mudar, a menos que o governo aumente o gasto público e cometa uma irresponsabilidade muito grande;, destacou Paiva.

FUNDOS CRESCEM R$ 39 BILHÕES
; Os fundos de investimento registraram captação líquida de recursos em todos os meses do primeiro semestre deste ano, fato que não ocorria desde 2003, apesar da crise econômica global. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), nos seis meses de 2010, as aplicações nessas modalidades superaram em R$ 39,1 bilhões os saques, saldo 45,9% superior ao registrado no mesmo período de 2009. Apenas em junho, o ingresso de recursos ficou positivo em R$ 4,8 bilhões. Nas contas da Anbima, os fundos de renda fixa acumularam fluxo líquido de R$ 26,4 bilhões no semestre. Com exceção dos fundos DI e dos FIDCs, todas as demais categorias registraram captação positiva no período. Os fundos de ações apresentaram incremento de R$ 2,7 bilhões.

Aposta contra o dólar triplica

Os bancos aumentaram as apostas na queda do dólar ante o real. Segundo o Banco Central, as instituições financeiras quase triplicaram, de maio para junho, o que os analistas chamam de posição vendida. Elas vendem dólares mesmo não os tendo em caixa, acreditando que essas operações vão derrubar os preços e a moeda norte-americana poderá ser recomprada mais à frente com lucro. A posição vendida saltou, no período, de US$ 3,27 bilhões para US$ 9,04 bilhões.

Na opinião dos analistas, os bancos estão acreditando que a economia brasileira continuará atraindo recursos estrangeiros, mantendo a valorização do real frente ao dólar. O fluxo de recursos será inflado pela emissão de ações do Banco do Brasil e pela futura capitalização da Petrobras, operação que pode chegar a US$ 60 bilhões. ;O mercado futuro já corrobora a expectativa de entrada de dólares. Ontem, por exemplo, o preço da moeda caiu 0,96%, cotado a R$ 1,767. Se a tendência fosse de saída de recursos do Brasil, a cotação não caia;, explicou o economista Mário Paiva, da Corretora Liquidez.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que tem sido um dos polos de atração de divisas, a aversão ao risco diminuiu pela falta de notícias negativas tanto no mercado interno quanto no cenário externo. Com isso, o Ibovespa, índice mais negociado no pregão paulista, fechou o dia em alta de 1,96%, nos 63.283 pontos, o melhor resultado desde 28 de junho. Em Nova York, a alta chegou a 2,8%, puxada pela confiança de que não haverá quebras de bancos na Europa.

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