Economia

Mantega parte para cima do BC

Contrário às altas sucessivas na taxa de juros, o ministro volta à carga com a tese da inflação sob controle. Mas Meirelles e especialistas não concordam

postado em 10/07/2010 07:51
A despeito do forte recuo da inflação verificado em junho, especialistas acreditam que os riscos da volta dos reajustes de preços são grandes. Com o mundo crescendo mais lentamente e a crise na Europa ainda fora de controle, o Brasil e outros países da América Latina flertam com desequilíbrios internos que podem estimular altas súbitas, o que obrigaria os governos a intensificarem nos próximos meses políticas de defesa das moedas e a elevação das taxas de juros.

No caso brasileiro, a queda acentuada dos preços dos alimentos refletiu de forma positiva no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. A inflação oficial ; utilizada para definir o sistema de metas ; encerrou na menor variação em quatro anos, caindo a zero. No acumulado do ano, o IPCA está em 3,09% e em 12 meses, em 4,84%. A meta inflacionária para 2010 é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo. Mas a perspectiva de piora do cenário de médio prazo apontada pelos analistas independentes coloca em lados opostos o Banco Central e o Ministério da Fazenda.

O ministro Guido Mantega voltou de férias disposto a anular as investidas do BC. Mantega não esconde a insatisfação com os últimos movimentos da cúpula da autoridade monetária, que há várias semanas desqualifica seu discurso. Para o ministro da Fazenda, a alta da inflação nos primeiros meses do ano era esperada, assim como seu arrefecimento motivado pela queda dos itens alimentícios, e agora está acomodada. O BC discorda da análise, ao mesmo tempo em que manda recados cada vez mais claros de que a política de elevação da Selic continuará.

Além das divergências com a Fazenda em relação ao comportamento dos preços, o presidente do BC, Henrique Meirelles, também tem criticado bastante os efeitos dos créditos direcionados ; aqueles com taxas subsidiadas ; oferecidos principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com Meirelles, tais mecanismos acabam obrigando o BC a elevar a taxa básica de juros, hoje em 10,25% ao ano.

A próxima reunião do Comitê de Polícia Monetária (Copom) acontecerá
neste mês. Pelas previsões do mercado, os juros vão subir 0,75 ponto percentual e alcançar 11% ao ano. Estudo elaborado por Bertrand Delgado e por Juan Maldonado Lorenzo, analistas para mercados emergentes do Roubini Global Economics, ressaltou a desaceleração dos principais índices inflacionários do Brasil, destacando o comportamento dos preços dos gêneros alimentícios, dos transportes e do vestuário.

Preocupação
A dupla de especialistas adverte, porém, que a inflação tende a acelerar em agosto frente as pressões de demanda. Delgado e Lorenzo são dois dos maiores especialistas em América Latina da consultoria criada pelo economista Nouriel Roubini, que ganhou notoriedade por ter conseguido prever o estouro da bolha imobiliária norte-americana. ;No Brasil e no México, a inflação continuou a se mover mais lentamente em junho, os preços dos alimentos mantiveram o ajuste, no entanto, acreditamos que a inflação nos dois países vai acelerar em julho ou agosto;, escreveram os especialistas.

Relatório produzido pelo Banco Fibra também reforça a preocupação do mercado com o avanço da alta dos preços. ;Ainda esperamos algum reflexo da desaceleração dos preços de gêneros alimentícios na inflação de julho, entretanto, não acreditamos na manutenção desse cenário benigno para o restante do ano. Os maiores riscos para o cenário prospectivo seguem concentrados na preocupante inflação de serviços, que tende a não ser impactada pelos dados de curto prazo;, justificou o documento. Segundo o banco, à primeira vista, as taxas oficiais apontam para um cenário otimista, mas a inflação de serviços parece trazer cada vez mais riscos.

IGP-M ATINGE 5,84% EM 2010
; A inflação calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e medida pelo Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M) avançou 0,14% na primeira prévia de julho, frente a variação de 2,21% no mesmo período de junho. O índice é usado como referência na maioria dos contratos de aluguel. Nos últimos 12 meses, a variação acumulada é de 5,78% e só em 2010, de 5,84%. A contribuição mais significativa para o recuo do índice partiu do subgrupo materiais e componentes para a manufatura: recuo de 1,58% para 0,14%. O período utilizado para medir a prévia do IGP-M foi de 21 de junho a 10 de julho.

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