Agência France-Presse
postado em 18/07/2010 10:58
A companhia espanhola Telefónica, que nesse sábado abandonou a oferta feita à Portugal Telecom (PT) pela operadora Vivo, não desistiu de controlar a operadora brasileira, informa a imprensa espanhola neste domingo (18/7).O interesse da Telefónica pela Vivo não acabou, afirma o jornal El País, crescentando que "a operadora espanhola está disposta a redobrar o empenho e endurecer a postura". "Para isso, explora as vias legais para dissolver a Brasilcel".
A Telefónica abandonou no sábado a oferta de 7,15 bilhões de euros à Portugal Telecom para comprar 50% que PT tem na Brasilcel.
O grupo espanhol líder das telecomunicações e a PT têm 50% cada uma da sociedade holandesa Brasilcel, que, por sua vez, controla 60% da companhia brasileira.
"Os serviços jurídicos da Telefónica têm bem estudadas as opções e não haverá anúncio a respeito até que haja uma decisão" sobre a Brasilcel, segundo o jornal, que acrescenta que a decisão de sábado "não significa que todas as pontes com a PT tenham se rompido definitivamente".
Segundo o jornal El Mundo, "à Telefónica restam várias opções para tentar o assalto ao Brasil".
A espanhola acaba de ter concedido um empréstimo de 8 bilhões de euros "para os gastos da operação, que seriam suficientes, inclusive, para lançar uma OPA (oferta pública de adquisição) pela Portugal Telecom".
"A Telefónica também poderia optar por comprar outra operadora na zona", segundo El Mundo, e poderia, da mesma forma, "bloquear o dividendo da Brasilcel, o que suporia um congelamento da metade das rendas da PT", ou, por último, "esperar por uma retificação do governo espanhol para voltar à negociação".
Durante as negociações, o governo português se opôs à operação graças aos direitos especiais concedidos por uma "golden share" (ação dourada) na Portugal Telecom.
No sábado, a Telefónica anunciou ter desistido da oferta de 7,15 bilhões de euros feitas à PT para comprar a participação na operadora brasileira.
A oferta da Telefónica para comprar os 50% da PT na Brasilcel caducava na meia-noite de sexta-feira e, nesse mesmo dia, o conselho de administração da PT se reuniu e não chegou a um acordo a respeito.
A PT pediu na sexta à Telefónica, em uma carta obtida pela AFP, que estendesse a oferta até 28 de julho, depois de afirmar que as conversações entre ambos sobre a oferta do grupo espanhol "avançaram de forma construtiva" e que gostariam de "seguir trabalhando para encontrar um resultado positivo" em relação à oferta do líder espanhol de telecomunicações.
Mas a Telefónica respondeu à PT no sábado, em outra carta, que a oferta expirou em 16 de julho, à meia-noite, prazo que havia anunciado e enfatizado há alguns dias.
A Telefónica apresentou inicialmente uma oferta de 5,7 bilhões de euros que elevou duas vezes: a 6,5 bilhões de euros e, finalmente, a 7,15 bilhões de euros.
A companhia espanhola líder nas telecomunicações já tem no Brasil a filial da telefonia fixa Telesp.
O presidente da Telefónica, César Alierta, havia declarado na terça-feira que "a relação na Brasilcel é entre a Telefónica e a PT, que são os dois sócios, e ninguém mais pode interferir".
Uma "golden share"; é uma parte mínima de ações que um Estado tem em uma empresa pública quando é privatizada e que dá direito de veto.
O Tribunal de Justiça da UE estimou na semana passada ser injustificável que o Estado português vetasse a oferta da Telefónica a PT, depois que a Comissão Europeia se mostrou contra esse direito de veto.
Tanto a Telefónica como a PT sempre declararam considerar o Brasil um dos motores de crescimento.
A Portugal Telecom estimou, em um primeiro momento, que a oferta espanhola "não refletia o valor estratégico desse ativo para a Telefónica".
Além disso, avisou que a "Vivo é um ativo essencial para a estratégia" da PT e que "a venta dessa participação vai contra as perspectivas de desenvolvimento a longo prazo" da empresa.
A Telefónica enfatizou, por sua parte, que a última oferta era impecável.
O líder espanhol teve em 2009 um aumento do benefício líquido de 2,4% impulsionada pelo crescimento do negócio na América Latina, onde os acessos a linhas telefônica aumentaram 6,5%.
No início da noite de sábado, o governo português respondeu à retirada da oferta da Telefónica para "manifestar total confiança e apoio ao Conselho de Administração da PT e à maneira como conduziu todo o processo de negociação com a Telefónica".
"O grupo português sempre atuou de forma a proteger os interesses de todas as partes envolvidas e a promover os objetivos estratégicos da PT, particularmente a vocação de ser uma grande empresa internacional", afirmou o ministério de Transporte e Comunicação em comunicado.