Economia

Crise nos mercados tradicionais faz com que brasileiros mirem oportunidades na África

postado em 19/07/2010 07:53
Crise? Que crise? Enquanto vários países europeus derretem com a crise financeira internacional e os Estados Unidos experimentam uma redução da atividade econômica, africanos preparam-se para atingir níveis de crescimento consistentes, próximos a 7% este ano ; o mesmo estimado para o Brasil. De olho nesta tendência, empresários brasileiros estão ampliando os negócios com o continente. A Copa do Mundo acabou, mas o interesse pela África vai além da paixão pelo futebol: em vez arrumar as malas para voltar para o Brasil, eles continuaram com os pés muito bem fincados em solo africano.

Na reunião de seu Conselho Administrativo, que acontece esta semana, a Camargo Corrêa Cimentos vai aprovar o estabelecimento de uma plataforma fixa de trabalho em Moçambique, para acompanhar de perto os mercados da região e as possibilidades de novos negócios ; especialmente na Tanzânia, na Zâmbia e na África do Sul. ;Estamos em processo de prospecção. Temos olhado potenciais fábricas de cimento já existentes. Se houver oportunidade, vamos em frente;, diz o presidente do Conselho Administrativo da empresa, José Édison Barros Franco.

Do novo escritório permanente da empresa será possível prospectar negócios nos países do sul do continente, uma região com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 500 bilhões e uma população de quase 300 milhões de pessoas. No mês passado, a Camargo Corrêa Cimentos comprou do grupo moçambicano Insitec 51% das ações da Cimentos Nacala (Cinac), cimenteira sediada em Moçambique. A empresa adquiriu jazidas de calcário próximas e fará a recuperação da ferrovia que ligará a planta até o porto. A obra também beneficiará o projeto de exploração da Vale na mina de carvão de Moatize. Além disso, em Angola, a cimenteira brasileira tem uma associação com o Grupo Gema em uma nova fábrica da Cimentos Palanca, que está sendo construída em Benguela. ;É só o comecinho;, diz Franco.

Primeira brasileira a aventurar-se em Angola ; em 1984, bem antes da pacificação do país ; a concorrente Odebrecht atua também na Líbia, na Libéria, em Moçambique e no Djibuti. A companhia tem ainda projetos concluídos no Congo, em Botsuana, na África do Sul e no Gabão e está iniciando operação em Gana, com a construção de uma usina de açúcar e etanol. Em 2009, a África foi responsável por um faturamento de R$ 4,2 bilhões, correspondente a aproximadamente 10% do total da organização.

A Odebrecht possui 43 contratos em países africanos. Em Angola, atuou fortemente na reconstrução do país. Em Moçambique, constrói o Aeroporto de Macala e as instalações de Moatize para a Vale ; um projeto cujo investimento total estimado é de US$ 1,3 bilhão. A mineradora, por sua vez, também vem ampliando sua aposta na África e está presente em Moçambique, Angola, Guiné, Gabão e África do Sul.

Etanol
Até mesmo países com regiões de conflito são alvo de investimentos das brasileiras. No ano passado, a Dedini, líder mundial no setor sucroalcoleiro, forneceu uma usina completa para a sudanesa Kenana. ;Fizemos projeto de viabilidade, análise de risco e não tivemos problema algum. As peças foram produzidas no Brasil e os volumes maiores, em campo. Utilizamos engenheiros brasileiros e mão de obra local de empresas terceirizadas;, conta o presidente da Dedini, Sérgio Leme.

Segundo ele, a empresa aposta no potencial da produção de etanol da África, uma vez que o continente já é produtor de cana-de-açúcar. Por isso, tem planos de ampliar as operações em breve no território africano. Já neste semestre, tem entrega prevista de duas plantas completas, para empresas de Angola e de Moçambique. ;Queremos, a curto prazo, estar em Angola, Moçambique, Gana, Nigéria e Serra Leoa;, revela Leme.

Luanda terá centro

Empresários brasileiros estarão circulando durante toda a semana pela Feira Internacional de Luanda (Filda), que começa amanhã em Angola. Não é para menos. Segundo o presidente da Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Alessandro Teixeira, a presença de empresários do Brasil no edição de 2009 da feira gerou negócios que resultaram em US$ 30 milhões em exportações. Diante dos números positivos, a agência decidiu montar em Luanda um centro permanente de negócios.

;Queremos intensificar os contatos na região e fazer análises dos mercados locais;, diz Teixeira. Da Filda deste ano, participarão, por exemplo, empresários do setor de franchising(1), em expansão no continente. ;O franchising está em franco desenvolvimento na África, no Egito, na África do Sul, em Angola e no Marrocos;, ressalta o diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Ricardo Camargo, que está na África desde a semana passada, acompanhado de representantes da escola de idiomas Wizard, da Vivenda do Camarão e da Global Franchising, consultoria do Habib;s e da Hope, de lingeries.

As empresas visam a tendência de crescimento da classe média consumidora africana, decorrente do próprio crescimento dos países da região. Para Camargo, até mesmo a falta de mão de obra qualificada no continente pode abrir novas oportunidades de negócio: ;Empresas que vêm atuando no ramo do ensino profissionalizante, como a Wizard, podem ajudar no aperfeiçoamento da mão de obra;. (MM)

1 - Franquias do Brasil
Em Angola, já estão presentes franquias das brasileiras Sapataria do Futuro, Livraria Nobel, Mundo Verde, Bob;s, Richards, Green (de roupas infantis), Combate (de dedetização) e O Botícário. Na África do Sul, estão Via Uno, O Boticário e Totvs, de computação. Em Moçambique, há Pouco Pano, de moda praia, O Boticário e Totvs.

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