Economia

Motores que estão do outro lado do Atlântico

postado em 19/07/2010 08:28
A África sempre foi conhecida por suas riquezas minerais. Além do petróleo, é possível encontrar nos países da região desde ouro e diamantes até o coltan (columbita-tantalita), muito usado em telefones celulares. Mas o que atrai hoje os empresários que atravessam o oceano Atlântico em busca de negócios é o crescimento econômico.

Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que, em 2008, a Angola cresceu 13%. Após sofrer uma queda de 0,4% do PIB em 2009, a expansão prevista para o país este ano já é de retorno a um patamar de 7%, chegando a 8,3% em 2011. A Líbia amargou salto menor em 2009 devido à queda na receita com o petróleo, mas deve atingir 5,3% este ano. A economia da Namíbia, que também sofreu com a crise internacional, caindo 0,7% em 2009, deverá atingir 1,7% em 2010 e chegar a 2,2% em 2011.

Em outros países, a turbulência global nem sequer fez cócegas. Cabo Verde ampliou seu PIB em 4,1% no ano passado e este ano deve atingir os 5%. Gana também cresceu em 2009 (3,5%) e este ano chegará a cerca de 4,5%. Para 2011, a previsão situa-se em impressionantes 20%. Já Moçambique, que nos últimos três anos vem crescendo na casa dos 6,5%, a estimativa é bater em 7,5% no ano que vem. A Tanzânia, outra promessa continental, cresceu 5,5% no ano passado e deve chegar a 6,2% em 2010 e a 6,7% em 2011.

Anfitriã da Copa do Mundo, a economia da África do Sul sofreu com a crise, caindo 1,8% em 2009 ; neste ano, porém, deverá obter uma recuperação atingindo 2,6%. Em 2011, as previsões apontam para alta de 3,6%. Parte da recuperação será herança da própria Copa. Empresas como a brasileira Othos Telecomunicações, especializada em tecnologia VoIP (transmissão de voz via computador), ampliaram seus contatos durante o evento esportivo e esperaram agora aumentar seus negócios no país. ;Com a Copa, a África do Sul ficou com uma internet de qualidade muito boa, o que abre espaço para os nossos serviços;, afirma a gerente de Marketing da empresa, Charys Oliveira.

Copa do mundo: cartaz em estádio dá as boas-vindas e deseja sorte ao Brasil. PIB sul-africano crescerá em 2010A explicação para a bonança africana está relacionada à melhora da condução da política econômica, que antes era marcada por altíssimos níveis de inflação, e ao fortalecimento da democracia. ;Vários países africanos avançaram muito em relação ao Estado de Direito e passaram por reformas fiscais e monetárias importantes. Congo e Angola, por exemplo, conseguirem empréstimos do FMI em 2009 com condicionantes e estão conseguindo cumprir os acordos. Gana também passou por reformas bem-sucedidas;, afirma a especialista em África Denise Galvão, que é autora do estudo ;Conflitos armados e recursos naturais: as ;novas guerras; na África, pela UnB. O fim de conflitos como o de Angola também tornou o ambiente mais estável para investimentos. É este também o caso da Nigéria, em que o governo negociou com 14 mil rebeldes, no ano passado, a estabilização do país.

China
A crise internacional acabou fazendo da diversificação uma estratégia importante. ;A crise afetou mais os países ricos e os investidores estão se voltando para outros países como os africanos e, inclusive, o Brasil. Com isso, eles tomam mais riscos, mas vale a pena;, afirma Denise. Na opinião da pesquisadora, no entanto, ao optar pela África como mercado as empresas brasileiras precisam estar preparadas para enfrentar a concorrência chinesa. Mas há espaço.

;De certa forma há uma competição desigual entre chineses e brasileiros. Mas a presença da China na África é criticada porque em alguns casos causa danos ambientais sem considerar questões sociais, sem gerar empregos para os africanos. É um modelo que não é muito saudável em termos de desenvolvimento social. Já as brasileiras tem origem em um país com uma democracia consolidada, com uma cultura de mais responsabilidade social;, acredita.

O número
16,6%
Participação do Egito nas exportações brasileiras para a África


Presença dobrada

Estão em processo de abertura mais duas embaixadas brasileiras na África: uma no Burundi e outra em Serra Leoa. Desde o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dobrou o número de representações nacionais no continente, de 17 para 34. Isso é reflexo da política do governo brasileiro de aproximação com os países africanos.

Durante a Cúpula Brasil-União Europeia, na semana passada, o presidente Lula anunciou uma parceria com os europeus para investimentos em uma usina de biocombustíveis em Moçambique. No início do mês, ele esteve na Guiné Equatorial, no Quênia, na Tanzânia, no Zâmbia, na África do Sul e em Cabo Verde onde afirmou ao governo local que pediria à direção da Petrobras que iniciasse conversas com as autoridades cabo-verdianas para fazer prospecção de petróleo nas águas do país.

A Petrobras, que atua no continente desde os anos 1970, concentra suas atividades hoje na costa oeste do continente, especialmente na Nigéria. Mas atua também em Angola, Líbia, Namíbia e Tanzânia, com exploração e produção de petróleo e gás natural.

As atividades das empresas brasileiras vêm se intensificando tanto na África que países como Angola, Moçambique e África do Sul estão entre as prioridades em estudo pelo governo brasileiro para viabilizar um acordo previdenciário segundo o qual o tempo de contribuição dos brasileiros que trabalharem nestes países poderia ser contabilizado no Brasil. (MM)

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