postado em 19/07/2010 08:39
Daqui a duas semanas, o país vai passar por uma nova radiografia. O Censo 2010 ganhará as ruas das 5.565 cidades espalhadas de norte a sul para, depois de uma década, mapear como as pessoas vivem, quanto ganham, o que fazem, se estudam e o que possuem. Essas e outras informações recolhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) devem confirmar mudanças de hábitos importantes, fruto da estabilidade econômica, do controle da inflação e da melhoria da distribuição de renda. A receita para crescer mais e de maneira contínua nos próximos anos dependerá de como os dados serão tratados. O alerta dos especialistas não serve apenas ao Brasil. Até 2012, cerca de 150 outras nações ricas, pobres e em desenvolvimento também pretendem atualizar-se. Para a hondurenha Marcela Suazo, diretora regional para América Latina e Caribe do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), os diagnósticos precisam ter um propósito claro e a melhor difusão possível. ;A informação não serve apenas aos governos para decidir políticas, mas é útil para a cidadania, principalmente, para a sociedade conhecer-se a si mesma;, diz Marcela Suazo.
Diante dos desafios que estão sobre a mesa, a diretora da Unfpa ressalta a grande capacidade instalada disponível em várias regiões para gerar desenvolvimento. Segundo ela, trata-se de uma oportunidade única que deve ser aproveitada ao máximo. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Correio.
Censo 2010
O que não se conta, não existe. Uma vez coletado os dados, é muito importante analisar e focar os espaços onde existam concentrações de populações que não estão recebendo os benefícios do desenvolvimento. E não só geograficamente. Pode-se identificar os grupos e tomar as decisões não só para as políticas públicas, mas olhar as políticas públicas acompanhadas de recursos, de ferramentas, de instrumentos e de mecanismos que vão eliminando as barreiras ao acesso.
Mortalidade materna
É muito importante reconhecer que em países da região as médias de mortalidade materna são um dado em nível geral, mas quando vamos a comunidades específicas, como indígenas e afrodescendentes, esses mesmos números gerais podem subir até 400%. O Brasil fez um esforço nos últimos anos para ir avançando como um compromisso, em um marco mais internacional. Creio que é importante não desvincular as políticas econômicas das plataformas sociais, porque, por um lado, um país precisa crescer e para isso precisa tomar decisões para fazer investimentos. Mas esse crescimento tem de sustentar uma plataforma social, de serviços e de acesso para que essa distribuição do crescimento possa significar ou converter-se em melhores condições para as pessoas.
Crescimento e pobreza
O Brasil são muitos países dentro de um território só. O Censo será importante para o país, que é grande, mas também para os menores e para os menores ainda. Há uma diferenciação de capacidade e possibilidades em países que experimentaram um crescimento do PIB, mas também há experiências existosas em países onde o crescimento é pequeno. Só o crescimento econômico não é o bastante para reduzir a pobreza. Há decisões políticas que precisam ser acompanhadas de pressupostos, de princípios como a universalidade.
Qualidade do investimento
Não necessariamente é preciso haver maiores investimentos, mas melhores investimentos. Como é investido? Em que é investido? Ao analisar as informações do Censo é possível saber onde investir e avaliar os ângulos para saber como investir.
Bônus demográfico
Temos, neste momento, mais gente no mundo em idade de trabalhar, de produzir, temos menos crianças e adultos para cuidar. É uma janela, é uma oportunidade na qual é preciso fazer políticas dirigidas às populações para garantir as oportunidades de capacitação, de formação, para os trabalhos que a produção necessita para gerar oportunidades e fazer a economia crescer. Em 2050 não haverá esse bônus demográfico. Temos uma capacidade instalada para gerar desenvolvimento. É uma oportunidade única e para aproveitar precisamos da informação para saber identificar onde investir, em que e como investir.
Chance única
Há países que se aproveitaram dessa chance, como Chile e Argentina. Há países na região, com mais de 50% da população jovem, que seguem se aproveitando. O Brasil é um bom exemplo porque vem tomando decisões de políticas públicas para integrar o crescimento econômico com uma plataforma social, o que tem contribuído para melhorar seus indicadores.
Caribe
Outros países também estão fazendo censos, mas no Caribe o trabalho será importantíssimo. São muitas nações pequenas, com recursos limitados. Essa rodada de censos é fundamental para termos mais informações sobre a realidade.
Universalização
Uma vez que temos a informação é preciso garantir que ela se distribua. A informação não serve apenas aos governos para decidir políticas, mas é útil para a cidadania, principalmente, para a sociedade conhecer a si mesma. Para a sociedade ter consciência dos espaços, mobilizar-se. É fundamental a participação das pessoas nesse processo e não só na mobilização, mas na garantia da política pública. O acesso à informação é muito importante, assim como a confiabilidade.