Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 20/07/2010 08:00
A fonte vai secar. Quem pensa em comprar a sonhada casa própria pode ter problemas daqui a três anos, quando os recursos da caderneta de poupança não devem mais ser suficientes para bancar o financiamento habitacional. A previsão é do vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda. A explicação é simples. Segundo ele, o problema ocorrerá porque o ritmo de expansão dos empréstimos vem superando a velocidade de captação de recursos pela poupança.O alerta se baseia em estudo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que reúne todos os bancos que concedem empréstimo imobiliário com recursos da caderneta. Por esse estudo, em 2013, todas as instituições de crédito terão atingido o limite de aplicação nesse tipo de financiamento. Por determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN), os bancos são obrigados a aplicar, no financiamento habitacional feito segundo as normas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), 65% do dinheiro captado na poupança.
A Abecip estima que os bancos, entre eles a Caixa, consigam emprestar R$ 50 bilhões este ano. No balanço da entidade, o montante das operações atingiu
R$ 4,25 bilhões em maio (último mês do levantamento), superando em 87% o emprestado no mesmo período em 2009. Nos primeiros cinco meses, os financiamentos bancados exclusivamente pela poupança alcançaram R$ 18,58 bilhões, numa alta de 77%. Nos 12 meses encerrados em maio, a variação do saldo da poupança foi positiva em 19,7%.
A Caixa divulgou ontem o balanço desse crédito no primeiro semestre. Os dados mostram o crescimento acelerado dos recursos emprestados e da quantidade de contratos assinados.
Nos seis primeiros meses do ano, o volume na instituição praticamente dobrou em relação a igual período de 2009, atingindo
R$ 34,10 bilhões, numa expansão de 95,1%. Esse montante é maior do que tudo o que foi destinado à rubrica pela Caixa em 2008, que foi de R$ 23,3 bilhões, e superou em quase sete vezes o emprestado em 2003.
Para a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, o desempenho da instituição ;é compatível com o atual ciclo de desenvolvimento econômico e de inclusão social do país;. Esses resultados, porém, vão esbarrar na escassez de recursos. Segundo Hereda, o debate com o governo sobre fontes alternativas para manter o aquecimento do setor imobiliário já começou.
Recebíveis
Ele descartou a possibilidade de a Caixa captar dinheiro no mercado, como o Banco do Brasil fez recentemente ao vender ações. Na visão do vice-presidente, o caminho pode passar por meio de lançamento de títulos no exterior ou pela oferta de Certificados de Recebíveis Imobiliários, que podem ser emitidos até o final do ano. Esses papéis são vendidos no mercado secundário com base na própria carteira de crédito da instituição.
Hereda não informou nem a quantidade nem o volume que a Caixa pretende negociar. Ele se restringiu a dizer que a expectativa para a concessão de crédito imobiliário é crescente, podendo atingir cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015. Hoje, o percentual, em torno de 3% do PIB, ainda é considerado muito baixo.
Dos R$ 34,10 bilhões emprestados no primeiro semestre,
R$ 16,48 bilhões foram destinados ao programa Minha Casa, Minha Vida, que já teve 542 mil contratos assinados desde abril de 2009. Na faixa de renda de até três salários mínimos, a Caixa estima atingir a contratação das 400 mil unidades previstas até o início de setembro. De acordo com Hereda, até o fim do ano cerca de 300 mil unidades serão efetivamente entregues, sendo 140 mil para as famílias na faixa de renda até três mínimos.
Nos diversos programas em andamento, a Caixa prevê a aplicação, até o final do ano, de R$ 60 bilhões. Para chegar a esse montante, ela conta, além dos recursos da poupança ; a instituição detém 34% da captação da caderneta no país ;, com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e, para o Minha Casa, Minha Vida, com dinheiro do Orçamento para os subsídios concedidos nas operações.