postado em 21/07/2010 07:41
O efeito liquidação pode influenciar a decisão de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom). Ao jogar os preços para baixo, as queimas de estoque deixaram o custo de vida menor e a prévia da inflação oficial registrou queda recorde em julho. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo ; 15 (IPCA-15) ficou negativo em 0,09%, desempenho nunca verificado desde que o levantamento do indicador começou a ser feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em agosto de 2006. No acumulado de 12 meses, o índice caiu para 4,74%, aproximando-se do centro da meta perseguida pela Banco Central, de 4,5%. Com esses resultados, acentuou-se o racha no mercado. Enquanto metade dos analistas acredita em alta da taxa básica de juros (Selic) de 0,75 ponto percentual, de 10,25% para 11%, outra aposta em um salto de 0,50 ponto.Às vésperas do novo aperto monetário, a notícia chega ao BC como argumento para que o arrocho seja menor do que o imaginado inicialmente. A queda na prévia da inflação (1)é atribuída ao custo dos alimentos, que, depois do período de chuvas intensas, tiveram as produções restabelecidas. A oferta maior fez os preços recuarem. As liquidações disseminadas pelo comércio também foram decisivas para o custo de vida menor neste mês. No caso de roupas e calçados, a desova de estoque está resultando em descontos de até 70%. Os lojistas precisam se livrar rapidamente das peças da última estação para trocar de coleções e preencher as prateleiras de produtos.
;O momento está ótimo para comprar;, garante a autônoma Rosângela Cavalcante, 38 anos. Em busca de uma sandália para a filha Thalita Rodrigues, 15, há alguns dias está rodando nos principais centros comerciais da cidade para aproveitar as promoções. ;Vale a pena bater perna. Se não fizer pesquisa, não acha desconto bom;, aconselha Rosângela. Até os carros seguiram essa tendência de preços em baixa. Os novos ficaram 1,16% mais baratos. Os usados, 2,22% mais em conta. Enquanto mãe e filha aproveitavam para gastar dinheiro, os descontos no comércio captados pela inflação fomentavam o debate entre analistas acerca de quão maior ficarão os juros.
Coerência
Para especialistas, a demanda dos consumidores continua forte no país e a política monetária ainda não surtiu o desejado pelo BC. ;A gente mantém um cenário de incerteza olhando o médio prazo. A inflação deve permanecer bem comportada até agosto, mas, daí em diante, deve voltar a ter riscos. Os alimentos talvez voltem a subir;, pondera Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. ;Se o mercado de trabalho continuar apertado, com uma procura grande por mão de obra, há o risco de mais aumentos salariais e mais inflação;, argumenta.
Na visão de Campos, com o desempenho do IPCA-15 de julho, o BC pode encerrar o ciclo de ajuste monetário mais cedo. ;Ele (Banco Central) pode vir a dar um aperto um pouco menor do que deu nas últimas reuniões do Copom e encerrar o ciclo em setembro. Com todas essas informações, acreditamos que a Selic feche o ano em 11,25%;, afirma.
Enquanto o mercado debate juros e fala de aquecimento da demanda, o estudante Renã Martins, 18 anos, só quer saber de aproveitar as promoções. ;Está tendo desconto em tudo. Os tênis baixaram muito e os artigos esportivos estão bem mais em conta;, avalia.
O IPCA-15 confirma a tese do jovem. De nove grupos de produtos avaliados pelos pesquisadores do IBGE, quatro dos mais importantes no orçamento do brasileiro apresentam preços menores. Alimentos e bebidas registraram queda de 0,80%. Vestuário ficou negativo em 0,15%. Transporte, em função dos carros mais baratos, marcou queda de 0,36%. Os produtos relacionados a educação também tiveram queda e recuaram em 0,02%.
Entre as capitais listadas na pesquisa, em apenas três foi registrada inflação. Brasília, com alta de 0,17% foi seguida por Belo Horizonte (com elevação de 0,12%) e Curitiba (0,03%.).
1 - IGP-M desacelera
A segunda prévia de julho do Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M), indicador que serve de parâmetro para o reajuste dos aluguéis, desacelerou, marcando alta de apenas 0,03%. No mesmo período do mês anterior, a taxa, calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), havia ficado em 1,06%. O ritmo menor do indicador foi influenciado pelos mesmos grupos de preços que levaram o IPCA-15 à deflação: alimentação, vestuário, educação e transportes.