postado em 22/07/2010 08:02
Ameaças de demissão e condutas inadequadas de superiores colocaram o Banco do Brasil (BB) em uma nova saia justa. Uma ex-funcionária acusa a instituição de ter sido impelida a deixar o cargo e a pedir aposentadoria antecipada após episódios de assédio moral sofridos no trabalho.A denúncia foi documentada em cartas ; às quais o Correio teve acesso ; direcionadas ao Conselho de Administração do banco, à Ouvidoria-Geral da União (OGU) e ao Sindicato dos Bancários de Brasília. Nos textos, Vânia Venâncio, ex-gerente da Ouvidoria do BB, departamento responsável justamente por receber e apurar irregularidades internas na instituição, queixa-se da falta de experiência gerencial do chefe imediato, um sindicalista que teria adotado uma espécie de ;política de Salomé;, como conta a própria funcionária.
;Fui comunicada pelo gerente-executivo a que estava subordinada (...) que ;tinham pedido minha cabeça;, mas que ele iria me manter no cargo e analisar meu desempenho. Creditei essa forma inadequada de condução à sua pequena experiência gerencial no BB. Essa alusão a uma política de Salomé, que tem como premissa o corte de cabeças, deu o tom de nossa relação ao longo dos meses;, relatou em um dos comunicados.
Sindicato vai à Justiça
A funcionária que acusa o Banco do Brasil de assédio moral preferiu não comentar as denúncias, alegando já ter enviado as solicitações aos órgãos competentes. Em uma das cartas, ela relata a dificuldade que a Ouvidoria (1)tem em apurar irregularidades. ;A localização da Ouvidoria Interna no quinto escalão da arquitetura organizacional do BB traz dificuldades previsíveis de cunho político-institucional. Como uma gerente de divisão vai conduzir denúncias de superintendentes, gerentes-executivos, diretores e demais funções estratégicas?;
A OGU, órgão subordinado à Controladoria-Geral da União (CGU), confirmou o recebimento das denúncias no mês passado e ressaltou que, ao relatar o pedido de aposentadoria, a ex-funcionária enfatizou a falta de autonomia operacional como um dos principais problemas que a expunham ao assédio moral. A OGU pediu explicações ao banco, que ainda não respondeu à acusação. Ao Correio, a assessoria da instituição informou que ;a demanda da funcionária aposentada refere-se a processos internos e está sendo avaliada por instâncias internas, que tratam de tais assuntos;.
O caso também foi levado ao Sindicato dos Bancários de Brasília, que prepara a documentação para acionar o BB na Justiça. De acordo com o diretor do sindicato, Rafael Zanon, casos envolvendo denúncias de assédio moral ainda são de difícil resolução. ;O assunto é novo e ainda há uma certa dificuldade em resolver esses casos administrativamente. O que a gente normalmente faz, com a autorização do funcionário, é mandar para o Judiciário.;
Recentemente, o BB foi condenado pela 6; vara do trabalho a pagar R$ 200 mil a uma funcionária que afirmou sofrer constantes retaliações por parte do banco após participar de uma greve, em 2008. Na época, ela teve seus pertences retirados do local de trabalho e foi vítima de campanhas difamatórias. Ao responder a muitos dos pontos da ação, o banco afirmou que se tratavam de ;devaneios; da funcionária.
De acordo com a OGU, a solicitação da funcionária pode resultar na abertura de uma sindicância para investigação no banco. Caso seja constatado o assédio moral, a instituição pode sofrer um processo administrativo disciplinar. O BB informou, por meio da assessoria de imprensa, que o Conselho de Administração, presidido pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, recebeu as reclamações e as encaminhou aos departamentos do banco que têm competência para a análise. (GC)
1 - Apuração
A existência de uma área em cada instituição para apurar irregularidades internas é uma determinação do Banco Central. A ouvidoria é responsável sempre por receber as reclamações e averiguá-las. A denúncia então é repassada para a Auditoria, responsável por julgar e aplicar sanções administrativas.