Economia

EUA preparam novo choque

BC norte-americano assusta o mercado ao sinalizar com pacote de estímulo à economia e contra a deflação

postado em 22/07/2010 08:25
O Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) está preparado para anunciar um novo pacote com medidas adicionais de apoio à economia dos Estados Unidos caso veja necessidade de um novo impulso à retomada do potencial de produção do país, declarou ontem o presidente da instituição, Ben Bernanke. O duro discurso, que assustou o mercado ; a Bolsa de Nova York caiu 1,07% ;, fez alusão à estabilidade de preços no momento em que a inflação se mantém frágil e dá indicações de permanecer no chão por vários anos. Ou seja, para evitar o pior, um risco de deflação, o comandante da autoridade monetária foi incisivo ao sinalizar que medidas intervencionistas já estão no forno.

;Estamos prontos para tomar medidas adicionais, se for necessário para favorecer o retorno à plena utilização do potencial de produção de nossa nação, em um contexto de estabilidade de preços;, disse Bernanke, diante do Comitê Bancário do Senado norte-americano. Ele não anunciou que medidas seriam essas, mas justificou sua necessidade diante da recuperação norte-americana ainda ;em ritmo moderado;, o que indica lenta recuperação do emprego. O xerife da economia dos EUA advertiu ainda que a velocidade atual da abertura de vagas no setor privado é insuficiente para forçar um recuo no índice atual de desemprego, que ficou 9,5% em junho.

Consumo
Bernanke disse que, ao reconhecer que as perspectivas econômicas continuam incertas, o Fed vem mantendo a ;prudência; para retirar os estímulos da política monetária expansionista. Ainda assim, ele disse que a autoridade monetária acredita que, com ajuda do consumo interno, o país está no caminho da recuperação econômica. ;Embora a política fiscal e a reconstrução de estoques devam fornecer menos ímpeto para a recuperação do que nos trimestres passados, a maior demanda das famílias e dos empresários ajudará a sustentar o crescimento;, avaliou.

Estamos prontos para tomar medidas adicionais, se for necessário para favorecerEm razão do cenário de crescimento tímido, o Fed prevê que as condições econômicas irão requerer uma taxa básica de juros excepcionalmente baixa por um período prolongado, política aplicada nos Estados Unidos há mais de um ano. Bernanke não detalhou quais medidas poderiam ser adotadas se o crescimento se abater. Analistas sugerem que o Fed retomaria a compra de ativos ou reduziria a taxa que paga aos bancos para que deixem no BC os recursos excedentes. ;O depoimento não foi particularmente otimista;, disse à agência Reuters Lawrence Glazer, sócio da Mayflower Advisors, em Boston. ;Isso indica que o Fed tem uma visão relativamente nebulosa do futuro.;

O presidente do Fed argumentou que dispõe de ferramentas para remover as medidas extraordinárias de liquidez implementadas durante a crise de 2007 a 2009. Disse que há ampla concordância de que as vendas de ativos terão um papel nesse movimento, mas acrescentou que qualquer venda será sinalizada com antecedência. Mas, numa previsão sombria, afirmou que ;diversos bancos ainda continuam com muitos ativos desvalorizados em seus balanços;, o que agrava o problema da economia dos Estados Unidos.

Reforma já vigora

O presidente norte-americano, Barack Obama, fez história ontem ao promulgar a maior reforma financeira desde 1929, esperando evitar dessa forma que se repita uma crise devastadora como a que colocou seu país à beira do abismo nos últimos três anos. A lei, que alguns republicanos comprometeram-se a reverter, introduz novas medidas de proteção para os consumidores, reduz o poder dos grandes bancos e ataca práticas enganosas por parte das empresas de cartão de crédito.

;Com essa lei, o povo norte-americano jamais voltará a pagar pelos erros de Wall Street. Não haverá mais resgates com dinheiro dos contribuintes;, declarou Obama. Com o objetivo de restaurar a confiança da população em sua liderança econômica em tempos em que o desemprego beira os 10%, Obama disse que a lei reparará as fraturas e os abusos que geraram a crise financeira. ;Foi uma crise nascida da ausência de responsabilidades, a partir de certos setores de Wall Street até os salões de poder Washington.;

A lei passou pelo Congresso com o apoio de diversos votos de republicanos, já que os opositores não cessaram suas tentativas de bloquear as reformas. Eles condenaram a nova lei, ao afirmar que ela afetará a expansão econômica e irá atenuar a capacidade dos grandes bancos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação