Economia

Duas pesquisas identificam recuo no nível de atividade pelo segundo mês consecutivo

Ainda assim, analistas creem que a redução no ritmo de alta dos juros foi precipitada

postado em 24/07/2010 07:00
Depois de avançar expressivamente no primeiro trimestre, a economia recuou 0,2% em maio, pelo segundo mês consecutivo, segundo pesquisa da Serasa Experian.

A mesma queda foi captada pelo Banco Itaú Unibanco em seu levantamento mensal e reforça a expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas geradas no país) deve ficar no mesmo lugar no segundo trimestre. Os indicadores fortalecem o discurso dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo, de que o Banco Central (BC) não tem mais necessidade de continuar a escalada na taxa básica de juros (Selic).

Analistas, no entanto, alertam que a equipe de Henrique Meirelles no BC pode ter se precipitado ao reduzir o ritmo do aperto monetário na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada na quarta-feira. Nas duas decisões anteriores, a Selic havia aumentado 0,75 ponto percentual, número que caiu para 0,50 ponto agora, indicando o início do fim do atual ciclo de alta. A leitura feita por alguns economistas é de que a retração na atividade e a contenção dos preços, registradas em diversos índices, ainda são frágeis para garantir que a estabilidade não será jogada fora.

;Grande parte da melhora na inflação está apoiada em itens muito voláteis, como os alimentos, e a atividade arrefeceu naturalmente, com o fim dos incentivos fiscais. Há motivos para acreditar que essas quedas são pontuais;, afirmou Felipe França, economista do Banco ABC Brasil. Para ele, a elevação dos juros ainda não afetou a economia, como pregam Mantega e Bernardo. ;É precipitado falar que a desaceleração econômica é consequência da política monetária, uma vez que não percebemos ainda aumento dos spreads bancários (1), o que poderia significar encarecimento do crédito.;

Melhora incipiente
Na avaliação do economista-sênior do Banco Espírito Santo (BES), Flávio Serrano, não há motivos para condenar o BC, mas a redução do ritmo do arrocho já em julho foi um movimento perigoso. ;O balanço de riscos melhorou, não há como negar. Só que a melhora é incipiente e o cenário continua muito incerto. Se o BC tivesse aumentado 0,75 ponto percentual na última reunião, teria assumido menos riscos e teria mais 45 dias para avaliar a trajetória da inflação;, disse.

Segundo Serrano, a queda nos levantamentos mensais do PIB no segundo trimestre era esperada, uma vez que os primeiros três meses surpreenderam. ;Projetamos um crescimento de 0,5% no segundo trimestre, ante 2,7% do primeiro. Sairemos de uma expansão anualizada próxima de 11% para uma de 2%;, previu. O economista, no entanto, lembra que o aquecimento do mercado deve voltar rapidamente. ;O BC fez bem em subir os juros num ritmo forte. O arrefecimento é pontual e tanto a atividade quanto a inflação devem retomar padrões mais normais no segundo semestre.;

A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, compartilha da avaliação e destaca que os dados disponíveis na economia até agora, favoráveis à redução do ciclo de ajustes na Selic, são conjunturais. ;Para o segundo semestre, passado o período de ajuste de estoques, esperamos uma retomada generalizada do crescimento econômico nos diversos setores, configurando um risco ao processo de convergência da inflação à trajetória de metas;, afirmou.

1 - Custo de captação
Spread bancário é a diferença entre o custo que as instituições têm para captarem recursos e o quanto cobram dos clientes que tomam os financiamentos. Ele é composto, entre outras variáveis, pela taxa básica de juros (Selic). Ao elevar os juros, o Banco Central (BC) também aumenta o custo de captação dos bancos, encarecendo o crédito

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