Economia

A inflação que balança o berço

O custo de criar uma criança é alto. Só de fraldas, em seis meses, o gasto alcança R$ 1,5 mil. No último ano, a cesta do bebê subiu 5,3% %u2014 0,66 ponto percentual acima do IPCA-15

postado em 25/07/2010 08:26

O custo de criar uma criança é alto. Só de fraldas, em seis meses, o gasto alcança R$ 1,5 mil. No último ano, a cesta do bebê subiu 5,3% %u2014 0,66 ponto percentual acima do IPCA-15Enquanto o Banco Central sobe juros para controlar os preços, os brasileiros que acabaram de chegar ao mundo nem sonham que existe custo de vida, mas já deixam uma conta pesada para os pais. A Selic em alta não deu conta de ninar a inflação dos bebês e, na média, ter um filho ficou 5,3% mais caro no último ano ; valor 0,66 ponto percentual superior ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo ; 15 (IPCA-15). Na prática, a chegada de um neném na família pode ter um custo imediato de quase R$ 1 mil somente com plano de saúde, enxoval, berço e carrinho para levar a criança.

Especialistas alertam que se as famílias fossem colocar na ponta do lápis o custo para criar um filho, muitos casais desistiriam. Para um bebê que usa até oito fraldas descartáveis por dia, em seis meses ele terá consumido quase R$ 1,5 mil. A dica para minimizar esse tranco no orçamento é fazer o tradicional chá de fraldas. ;Nós conseguimos fraldas suficientes para seis meses. É um armário cheio;, conta Rodrigo Camilo de Aragão, 33 anos, administrador e pai da pequena Rafaella, 12 dias, e da sapeca Manuella, 3 anos.

Planejamento

;Não conheço ninguém que tenha calculado o orçamento antes de ter um filho. O brasileiro é tão desligado com as finanças que não sabe o próprio custo, quanto mais o de ter uma criança;, critica Emerson Castello Branco, consultor de finanças da CBS Consultoria Financeira. Segundo ele, antes de ter uma criança, o casal precisa calcular o próprio orçamento e projetar os gastos de uma vida a três. ;É sempre necessário fazer o planejamento. Se a pessoa não quiser ser muito rigorosa, pode fazer uma planilha mais generalizada, mas de forma que ela sempre saiba como estão as despesas. Ter um filho pode ser bom, mas é algo dispendioso;, alerta o especialista.

Esse custo citado por Castello Branco é alto e, para que os pais não amarguem gastos exorbitantes, é preciso pesquisar(1). O leite em pó, por exemplo, foi encontrado pela reportagem a três valores diferentes. Entre R$ 7 e R$15 ; uma variação encontrada entre hipermercados, farmácias e lojas de bairro. Se for um leite especial, sem lactose, o custo é altíssimo. Uma lata que dura uma semana pode chegar a R$ 82 nos grandes mercados. Em algumas drogarias, o Correio encontrou por quase a metade do preço, entre R$ 50 e R$ 60. No último ano, o leite em pó ficou 6,9% mais caro, enquanto a inflação oficial no período chegou a 4,6%.

Saúde

Um dos custos mensais mais pesados quando se tem um bebê é com saúde. Pediatras, remédios e em alguns casos tratamentos caros podem acabar com o orçamento familiar. Os medicamentos, no último ano, ficaram 3,18% mais caros, por exemplo. ;Saúde é um dos nossos custos mais pesados. Um plano para minhas duas filhas e a esposa custa R$ 500 mensais;, conta Rodrigo Aragão. ;Ter um filho é muito bom, mas dá trabalho e é preciso muita atenção, além de ter que oferecer a elas (as crianças) todos os cuidados necessários;, pondera Lorena Lopes de Aragão, mãe de Rafaella e Manuella.

Segundo especialistas, para os pais que têm condições, ter um plano de saúde para a criança é fundamental. O governo oferece a maioria das vacinas e dos cuidados, mas em um sistema de saúde deficitário, a família acaba tendo de arcar com custos inesperados de determinados exames e até de vacinas específicas. Rodrigo Aragão dá a dica para quem quer ser pai. ;Para ter filho tem de planejar e saber definir prioridades. Não é mais uma vida a dois e, muitas vezes, é preciso abrir mão de certos luxos ou dar um jeito de aumentar a renda para não deixar faltar nada;, afirma Aragão.

Desafios, segundo ele, são creche e babá. Para contratar algum desses serviços é preciso confiança e ter dinheiro. Ter alguém para cuidar do filho em casa ficou 9,7% mais caro no último ano. Para os pais que preferem creche, o custo também se elevou. Em 12 meses, a alta foi de 5,7%. ;Os pais não podem esquecer que depois dessa época vêm a escolinha e os primeiros gastos com lanche da escola, material, uniforme e com os anos da faculdade. Para quem tem controle financeiro, o ideal é fazer uma poupança para o filho logo que ele nascer;, aconselha o especialista Castello Branco.

O custo do bebê no Brasil é extremamente elevado. As roupas para a criança não ficam de fora dessa lista de preços. Como os nenéns crescem rápido, o vestuário se perde rapidamente, em questão de poucos meses. E os preços de algumas peças são os mesmos de roupas de adulto. No último ano, uma bermudinha, por exemplo, subiu 6,5%. Uma camisetinha, 4,86%. ;No nosso caso, conseguimos aproveitar muitas roupas e objetos da Manuella. Quando minha última filha nasceu, não precisamos nem mudar muito o quarto, aproveitamos quase tudo. Só pintamos algumas paredes e colocamos algumas coisas a mais na decoração;, relata Lorena Aragão. A dica da mamãe é boa para quem tem um filho e planeja ter mais. Guardar os pertences do mais velho sempre ajuda a diminuir custos e alivia fortemente o orçamento na chegada de um novo filho.


1 - Andar para economizar
A economia na compra do enxoval do bebê pode ser significativa caso os pais se disponham a bater perna pela cidade e a descartar o que não for essencial. Se eles caírem na armadilha das lojas especializadas e comprarem o que estiver na vitrine, o orçamento vai estourar. Só de modelos de carrinhos e cadeirinhas ; algumas bem sofisticadas que até ninam a criança ; o Correio encontrou mais de uma dezena, e os preços são os mais variados possíveis.

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