postado em 25/07/2010 08:33
As vendedoras Caroline Alves, 18 anos, Luciana Rodrigues, 20, e Maíara Gomes, 21, fazem parte da primeira geração de um país em desenvolvimento pós crise-inflacionária. Elas são filhas de um período no qual não era comum o hábito de investimentos em educação e qualificação e, por consequência, caíram de paraquedas em um mercado de trabalho exigente. As três jovens, assim como a maioria dos brasileiros, tiveram dificuldades para conseguir o primeiro emprego. Mesmo em um Brasil de mão de obra escassa, passar para o outro lado do balcão ; no caso delas ; não foi algo fácil.;Passei um ano procurando emprego. Não tinha experiência, qualificação e minha idade ainda era um problema. Só tinha 17 anos e ninguém queria me dar uma oportunidade;, lembra Caroline. Ela e as duas amigas são colegas de trabalho em uma loja de roupas. Mesmo sem qualificação, estão no mercado de trabalho. Com tanta demanda por mão de obra no país, o setor produtivo está absorvendo quase todos os que estão dispostos a trabalhar. Para Luciana, o emprego na loja de roupas é o primeiro com carteira assinada. ;Tive as mesmas dificuldades da Carol (Caroline). O mercado é muito exigente;, reconhece. Maíara faz coro. ;A concorrência é enorme. Tem muito processo seletivo, mas é difícil atender as exigências.;
O problema enfrentado pelo trio de vendedoras tornou-se uma barreira endêmica, mais conhecida como falta de treinamento. Em função do problema, especialistas alertam que os R$ 5,5 trilhões a serem investidos até 2016 não serão suficientes para romper as amarras da economia. O país, segundo eles, necessita urgentemente sair da rabeira no ranking da educação. Para superar essa e outras deficiências, os investimentos precisam ser maiores e chegar a pelo menos R$ 10 trilhões nos próximos seis anos. Além do ensino, o dinheiro teria que ser carreado ainda para os setores de infraestrutura de transporte, saúde e desenvolvimento tecnológico.
Escassez
Especialistas chamam a atenção para a necessidade de um esforço monetário gigantesco para apagar as lacunas históricas que hoje impedem o crescimento robusto e sustentável sem a inflação. No Brasil, que pode se expandir 7,3% em 2010, segundo projeções do Banco Central, falta de tudo: de engenheiro a padeiros, de cimento a estradas. Mas, quando se fala em gargalos, o maior deles ainda é o da educação. Em um ranking específico sobre o tema elaborado pelo Fórum Econômico Mundial em parceira com a Fundação Dom Cabral, de 133 países, a bandeira verde e amarela aparece na 119; posição.
Segundo projeções do Banco Santander, os investimentos no Brasil vão avançar, na média, 10% ao ano até 2016. Os recursos irão para as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas marcada para dois anos depois. Não fosse pelas megaeventos, o dinheiro desaguaria em escala bem mais moderada. ;Os jogos são muito importantes, mas o necessário é o Estado recuperar a capacidade de investir;, defende Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. Pelos seus cálculos, para o país superar todas as dificuldades do setor produtivo e de infraestrutura, seria necessário que os investimentos avançassem cerca de 25% ao ano ; atingindo exatamente R$ 10,4 trilhões.
Competição
A dificuldade histórica em investir fica aparente quando a bandeira verde e amarela é comparada às de outros países. Com todos os gargalos no Brasil, o país, a despeito de ser a 10; economia do mundo, ocupa ainda a posição 56 no ranking geral de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Outros entraves também ficam expostos nessas comparações. No quesito burocracia e desperdício de dinheiro público, o país é 129;. Os brasileiros amargam a última colocação quando o tema é o peso dos impostos sobre o setor produtivo. ;Com um sistema complexo, retroativo e prejudicial às camadas de renda menos favorecidas, a carga tributária sobre os negócios no Brasil é a pior do mundo;, destaca o professor Carlos Arruda, em um estudo da Fundação Dom Cabral.
Para um país que já não tinha o costume de devolver os impostos recolhidos em benfeitorias, os anos 1980 e 1990, regidos pela cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI), foram marcados por um austero controle fiscal ; conduta que fortaleceu o hábito de escassas aplicações em áreas básicas, como saúde, educação e infraestrutura. Na avaliação de especialistas, o período foi um remédio amargo que ajudou a tirar o país da crise inflacionaria, evitou uma moratória e fomentou o restabelecimento da cadeia industrial. ;Aproveitamos para montar uma base sólida para o desenvolvimento. O crescimento foi baixo, mas essa base foi construída;, pondera Leite.
Da época dos investimentos mínimos, ficou como herança um país sem profissionais preparados e que sofre para conseguir atender a todo tipo de demanda. Mas é com essa realidade que vão lidar os construtores do futuro. ;Estamos expandindo nossas operações no Brasil por causa da forte demanda por material de construção;, diz Rogério Silva, diretor comercial e de logística da Lafarge, a maior fabricante de cimento do mundo. A empresa aumentará a produção no Brasil de 4 milhões para 7 milhões de toneladas anuais e sabe que, com todos os obstáculos, pode não dar conta de atender as encomendas que não param de crescer.