postado em 26/07/2010 17:46
Dentro da meta de dar eletricidade a todos os bolivianos, o governo da Bolívia entende como estratégica a integração energética com o Brasil e estuda o desenvolvimento de projetos conjuntos, aproveitando a experiência da Eletrobras. Não está descartada, inclusive, a venda de energia excedente para o mercado brasileiro.;Temos que diversificar a matriz energética do país e um dos objetivos é desenvolver projetos com energias alternativas, como hidroeletricidade, geotérmica, potencial eólico (dos ventos) e solar;, disse o vice-ministro de Eletricidade e Energias Alternativas daquele país, Roberto Peredo Echazú, ao participar hoje (26/7) do Seminário Internacional de Integração Energética Brasil-Bolívia.
A Bolívia tem um potencial estimado de 40 gigawatts (GW), do qual apenas 1% é utilizado no momento. Por isso, o governo boliviano desenvolveu uma política intensiva de realização de projetos de centrais hidrelétricas. Parte dessas centrais está localizada próximo da fronteira com o Brasil. ;Portanto, o mercado natural deveria ser o Brasil;, afirmou Echazú.
As embaixadas dos dois países já iniciaram conversações sobre a possibilidade de realização de projetos conjuntos. O vice-ministro assegurou que a experiência da Eletrobras é muito importante para auxiliar na reestruturação da estatal boliviana Empresa Nacional de Eletricidade (Ende). ;A Empresa Nacional de Eletricidade foi uma grande empresa em Bolívia. Mas, produto das políticas neoliberais, acabou quase completamente desmantelada. O Plano Nacional de Desenvolvimento traçou várias políticas para refundar essa empresa;, disse.
Esse seria o início da colaboração energética bilateral, incluindo o intercâmbio de experiências, sinalizou Echazú. Ele não prevê, contudo, financiamento brasileiro à reestruturação da Ende, mas apenas em projetos específicos, associado a investimentos bolivianos. A reestruturação da Ende foi iniciada no dia 1; de maio com a nacionalização das subsidiárias que foram capitalizadas, entre as quais três geradoras de energia. ;Nesse mesmo processo de refundação da Ende, é muito importante para nós conhecermos as experiências dos países vizinhos. E o Brasil é uma referência nesse sentido;, afirmou.
Uma das alternativas é que o Brasil ajude a Bolívia a construir usinas e o governo boliviano venda depois essa energia para o Brasil. ;Pode ser uma opção. Não é a única. E não será efetivada se nós não entendermos assim;. O vice-ministro admitiu que o tratado firmado recentemente pelo Brasil com o Peru poderia servir de base para uma negociação com a Bolívia, embora as condições sejam distintas. Acrescentou que a construção de linhas de transmissão associadas à geração hidrelétrica terá de ser estudada, uma vez que o país não conhece profundamente o mercado brasileiro.
Não há interesse da Bolívia em desenvolver projetos a partir do gás natural em parceria com o Brasil, porque a geração térmica é subvencionada na Bolívia. ;Se vende energia a um preço muito barato;. Echazú esclareceu que o governo de seu país entende como mais lucrativo desenvolver empreendimentos com gás para vender ao exterior, a um preço mais elevado.
O governo de Evo Morales considera mais factível desenvolver fontes alternativas de energia, de modo a poder vender o gás a países da região, entre os quais, além do Brasil, o Chile, Peru, Paraguai e a Argentina, ;que são todos países com problemas energéticos. E essa é uma oportunidade que a Bolívia não pode desprezar;.
Perguntado sobre a possível integração energética com a Bolívia, o superintendente de Operações Internacionais da Eletrobras, Sinval Gama, disse à Agência Brasil que a empresa está participando do seminário mais como ouvinte. ;A Eletrobras veio mais ouvir o que existe de oportunidades na Bolívia, para ver o que é bom e ruim. No fundo, a Eletrobras está ouvindo [para ver] se isso efetivamente é algo que a gente possa maturar mais;, disse Gama.