Economia

Multinacionais sacam US$ 15 bilhões do país entre janeiro e junho

Filiais de companhias estrangeiras querem melhorar os resultados de suas matrizes

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 27/07/2010 08:02
As filiais de empresas estrangeiras que atuam no Brasil estão se tornando a tábua de salvação para muitas de suas matrizes. Embaladas pelo forte crescimento da economia nacional, têm lucrado como nunca e remetido tudo o que podem para os países de origem como forma de melhorar os resultados de suas controladoras. Somente em junho, as multinacionais retiraram US$ 4,15 bilhões do país, valor sem precedentes para este mês em 63 anos. No acumulado dos seis primeiros meses do ano, os saques totalizaram US$ 14,96 bilhões. As remessas foram comandadas por companhias da Holanda, da Espanha, da Itália, de Portugal e dos Estados Unidos, nações que se têm debatido para sair do atoleiro.

A disposição das multinacionais em retirar dinheiro do Brasil foi tão grande, que o sempre comedido chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, não escondeu a surpresa. ;O movimento surpreendeu.; Segundo ele, as saídas de recursos do país se intensificaram no fim de junho, pois as empresas de setor automobilístico e de produtos químicos botaram o pé no acelerador. ;A indústria automobilística vai muito bem no Brasil, mas essa não é a situação do setor no mercado internacional;, disse. As montadoras remeteram US$ 920 milhões apenas em junho.

Na avaliação de Altamir, essa dependência continuará pelo menos até o fim do ano. Pelas suas contas, as remessas de lucros e de dividendos pelas multinacionais totalizarão o recorde de US$ 32 bilhões em 2010, ante os US$ 25,2 bilhões do ano anterior. Motivo: não há perspectiva de recuperação das principais economias do mundo. O Brasil, porém, avançará pelo menos 7%, o maior salto desde 1986, ajudando a manter os balanços da matrizes das múltis no azul.

Diante desse quadro, as contas externas do Brasil não param de piorar. Em junho, as transações correntes, que contabilizam o vaivém de capitais, computaram rombo de US$ 5,18 bilhões, o pior resultado desde 1947, quando o BC passou a fazer tal levantamento. Nas projeções do banco, o deficit no ano todo baterá em US$ 49 bilhões, também um resultado histórico. Para Altamir, não há com o que se preocupar, pois esse buraco será totalmente coberto por capital vindo de fora. O problema, avaliam analistas, é que o dinheiro a que o técnico do BC se refere é de curto prazo, direcionado à bolsa de valores e a títulos públicos. Ou seja, é capital especulativo, que pode sair a qualquer momento, desestabilizando o país.

O sinal de alerta está ligado. O rombo nas transações correntes com o exterior deveria ser coberto integralmente pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), destinado à produção e à criação de empregos. Esses recursos, contudo, estão caindo vertiginosamente. O BC projetava a entrada de US$ 1,5 bilhão no mês passado, mas só foram computados US$ 708 milhões. Nem mesmo as aplicações em ações (US$ 1,92 bilhão) e em títulos públicos (US$ 1,41 bilhão) foram suficientes para cobrir o deficit. Para o segundo semestre, Altamir garantiu que o quadro é positivo. Até o dia 26 de julho, os investimentos diretos somavam US$ 1,6 bilhão e o BC espera fechar o mês com US$ 2 bilhões.

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