postado em 27/07/2010 07:00
A forte disputa travada entre a Portugal Telecom e a Telefônica pela operadora Vivo revelou a importância que o mercado nacional tem para as companhias estrangeiras que atuam no Brasil. A explicação é simples. Com a crise econômica que ainda assombra a Europa, as multinacionais veem no país uma verdadeira tábua de salvação para equilibrar as perdas registradas em outros locais. As matrizes dependem dos lucros obtidos aqui para conseguir fechar os balanços no azul.Os negócios no Brasil já são mais importantes para a sobrevivência da Portugal Telecom do que os feitos na sede. No primeiro trimestre de 2010, enquanto a matriz respondeu por 45% das receitas globais da marca, a participação brasileira da companhia foi responsável por 51,7% do faturamento, num crescimento de 5,9 pontos percentuais em relação ao resultado do ano passado.
Na Telefônica, a realidade é semelhante. No primeiro trimestre, a receita do grupo espanhol registrou expansão de 4,2% na América Latina. O Brasil se consolidou como o principal mercado da região, representando 41% do total das receitas obtidas no continente. Apoiadas no número de assinantes de serviços de telefonia móvel no país, que sobe a uma taxa média anual de 10%, as companhias estrangeiras mantêm uma disputa acirrada por clientes como o gerente de hotel Yuri Bayma, 32 anos, e a estudante Ana Paula Elias, 24 anos. ;A competição é boa para a gente, pois sempre buscamos aquela que oferece tarifas mais baixas;, afirmou Bayma.
Segundo o pesquisador da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e de Globalização Econômica (Sobeet) Pedro Augusto da Silva, enquanto os países mais industrializados ainda vivem a ressaca da recessão, regiões com a América Latina se mostram receptivas a novos negócios, muitos deles vindos da Espanha e de Portugal. ;De maneira geral, no último ano, os investimentos diretos afetaram principalmente as economias desenvolvidas, com queda de 41%, enquanto as nações em desenvolvimento recuaram apenas 21%. Há uma grande tendência de concentração das aplicações globais em mercados com potenciais de crescimento, como o Brasil;, disse.
Na avaliação de Silva, o país vive um momento ;muito bom;, consolidando uma imagem positiva no exterior. ;Os próximos anos devem ser de crescimento em todos os setores. A expansão será guiada principalmente pela expansão interna e pela realização de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Todo mundo quer investir aqui;, completou.
Resistência a crises
O relatório World Investment Report (WIR 2010), da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), divulgado na semana passada, revelou que os investimentos estrangeiros diretos em economias em desenvolvimento já respondem por 25% dos fluxos globais. ;As empresas transnacionais latinas estão sendo favorecidas por baixo endividamento, baixa sensibilidade a ciclos e maior resistência à crise;, apontou o relatório. Segundo o estudo, o Brasil subiu da quarta para a terceira posição no ranking das nações mais interessantes para receber recursos, atrás apenas da Índia e da China.
No primeiro semestre, ingressaram no país R$ 424 milhões vindos de Portugal(1), de acordo com dados do Banco Central (BC) divulgados ontem. Já a Espanha enviou R$ 691 milhões para incrementar os negócios no Brasil. ;Com a consolidação da macroeconomia e, principalmente, do aumento da renda dos trabalhadores, o nosso mercado interno se tornou extremamente aquecido. Desse modo, é pertinente que as filiais brasileiras banquem as quedas nos caixas das matrizes, que vivem dificuldades de expansão em mercados mais maduros;, afirmou Pedro Augusto da Silva, pesquisador da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e de Globalização Econômica (Sobeet).
O consumo interno tem sido o principal fator para as apostas estrangeiras. Segundo projeções da consultoria LCA, em 2020, os lares brasileiros vão gastar R$ 5 trilhões ; 130% mais do que atualmente. Bem antes disso, já em 2014, o Brasil passará a ter o quinto maior mercado consumidor do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Japão, China e Alemanha. ;A longo prazo, a permanência dessas companhias no país se torna algo estratégico e necessário para o crescimento dessas marcas;, completou o pesquisador da Sobeet.
1 - BES confirma interesse na Oi
Caso a compra da Vivo realmente se concretize pela Telefônica, a Portugal Telecom vem demonstrando interesse em permanecer no país. Com o dinheiro da venda, os portugueses voltariam todas as atenções para uma outra operadora, a Oi. O presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, admitiu que as duas empresas vêm mantendo contato nos últimos dias ; o BES é o maior acionista da companhia telefônica portuguesa. ;A Oi tem um grandíssimo potencial;, declarou.