Economia

BC indica fim da alta de juro

Dado preliminar aponta para queda da atividade econômica em junho e estagnação em julho. Novo arrocho afetaria o PIB de 2011

postado em 27/07/2010 08:34
Após a redução do ritmo no ciclo do aperto monetário, sinais emitidos pelo Banco Central dentro do governo e para o mercado sugerem que o arrocho na taxa básica (Selic) chegou ao fim na reunião da semana passada, quando os juros foram puxados para cima em 0,5 ponto percentual, alcançando 10,75% ao ano. Na economia real, acumulam-se indicadores favoráveis para a inflação, que convergem para o centro da meta de 4,5%. Mas o dado que assusta é a freada brusca do crescimento econômico. Além da variação zero em maio, informações preliminares de posse do BC apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) ficou negativo em junho e tende a fechar muito próximo à estagnação em julho.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também registrou variação zero no mês passado e a parcial para este mês (IPCA-15) apontou deflação de 0,9%. Soma-se a esses fatores a acomodação da atividade, que, de acordo com projeções do Banco Espírito Santo (BES), não deve passar de 0,5% no segundo trimestre, impondo um novo desafio ao BC comandado por Henrique Meirelles, que perdeu todo o apoio no governo para aumentar os juros.

A tempestividade mostrada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada leva agora os analistas a aguardarem com extraordinária ansiedade a ata do encontro, na qual deverão constar as justificativas para a alta abaixo dos 0,75 ponto anteriormente aguardada. Apesar de estar apoiada em uma aparente alteração de cenário, a estratégia do BC deixou o mercado confuso. ;Não sei bem o que esperar da ata. Nos últimos comunicados, o BC demonstrava um viés bastante preocupado, com descompasso entre oferta e demanda. Precisamos ver o que justificou (a alta de 0,5 p.p.);, sugeriu Inês Filipa, economista-chefe da Icap Brasil.

A seu ver, a conjuntura econômica não se alterou expressivamente desde a reunião de junho e os subsídios atuais sinalizam uma mudança de tendência, mas ainda não a confirmam. ;A preocupação que fica é de que o BC reduza ou interrompa o ajuste agora e, no ano que vem, quando poderia começar a diminuir a taxa, tenha que fazer um novo aumento.;

Além dos índices correntes, o bom comportamento da inflação também já altera a expectativa futura dos analistas. De acordo com o Boletim Focus(1), divulgado ontem, a estimativa para o avanço do IPCA, no fim do ano, foi reduzida pela terceira semana seguida, para 5,35%. Para o ano que vem, as expectativas estão congeladas em 4,8% há 15 semanas. A projeção para o avanço da economia, por sua vez, está estagnada em 7,2% nas últimas três pesquisas.

O economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, também aguarda uma explicação mais clara para a decisão do BC. ;O Copom deve detalhar quais foram esses fatores domésticos e externos que o levaram a elevar menos os juros;, observou. Para ele, os analistas têm tido mais trabalho em interpretar e compreender corretamente os comunicados divulgados pela autoridade monetária. ;O mercado está com dificuldade em identificar a intenção do BC, mas o cenário está mais volátil e mais incerto. Prefiro atribuir essa dificuldade às mudanças rápidas (de conjuntura) do que a alguma falha de comunicação.;

Questão marginal
O economista-sênior do BES, Flávio Serrano, acredita que o Copom deve explicar a influência do cenário externo na inflação doméstica, tratada em comunicados anteriores como uma questão pequena, marginal. ;Se ele (BC) considerar que aumentou a possibilidade de a economia global contribuir com a inflação, aumenta a chance de abreviar o ciclo de ajuste na taxa;, avaliou. Para Neto, no entanto, esta não deve ser a justificativa central. ;O mercado externo é o menos importante. Os fatores de virada (da estratégia) estão focados na economia doméstica e, entre eles, a estagnação da atividade é o que mais pesou;, destacou.

1 - Expectativas do mercado
É a pesquisa que o Banco Central faz semanalmente com 100 instituições do mercado financeiro, na qual colhe as expectativas para os principais indicadores da economia doméstica. Na aplicação da política monetária e no controle da inflação, o BC também considera as projeções do Boletim Focus para tomar suas decisões.

"O mercado está com dificuldade em identificar a intenção do BC, mas o cenário está mais volátil e mais incerto"
Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin

Preço sobe em Brasília

Apesar da trégua dada aos índices de preços pelos alimentos, a inflação em Brasília continua resistente, segundo o Índice de Preços aos Consumidor Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) até 22 de julho. Segundo levantamento nas principais capitais, os preços caíram em quatro delas, chegando a -0,29% no Rio de Janeiro. Na capital federal, o índice subiu 0,19%.

O economista da FGV André Braz atribui a persistência inflacionária em Brasília ao fato de a renda média local ser mais elevada do que em outras regiões. ;Os alimentos puxam a inflação para baixo atualmente, mas pesam mais nos orçamentos das famílias com menor renda. Cidades com rendimento familiar médio mais alto acabam não sendo tão beneficiadas por esse recuo;, explicou. Ainda que continue em elevação, Braz considera a inflação no Distrito Federal em um patamar ainda extremamente baixo. (GC)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação