Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 30/07/2010 06:58
O ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) está próximo do fim ou pode mesmo já ter sido encerrado na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. Essa foi a constatação dos economistas depois de destrincharem, linha por linha, a ata na qual o Banco Central explicou as razões que o levaram a elevar os juros em 0,5 ponto percentual, de 10,25% para 10,75% ao ano. Além de ressaltar os claros sinais de desaceleração da atividade interna e a fraca reação da economia global, a instituição reconheceu que os índices de inflação estão em queda. Para 2011, alvo principal da política monetária neste momento, as projeções encostam no centro da meta definida pelo governo, de 4,5%. No ano seguinte, as estimativas estão abaixo desse patamar.;Há sinais de que a economia tem se deslocado para uma trajetória mais condizente com o equilíbrio de longo prazo. O balanço de riscos para a inflação tende a arrefecer;, destacaram os diretores do BC que integram o Copom. Ou seja, para o Ministério da Fazenda, um aumento adicional da Selic poderia ser considerado um exagero, comprometendo o ritmo atual de expansão da economia, entre 4,5% e 5%.
De posse da ata do Copom, o mercado decidiu se reposicionar quanto à duração e à intensidade da política monetária. A aposta preponderante, agora, é de que o movimento de alta termine em setembro, com mais uma elevação de 0,25 ponto, o que fará os juros chegarem a 11% ao ano. Outra parcela, ainda minoritária, na qual se inclui o Ministério da Fazenda, acredita que os dois pontos de aumento na taxa básica desde abril já foram suficientes para botar a inflação nos eixos. A tese desse grupo é de que o consumo perdeu força, sobretudo por causa do maior nível de endividamento das famílias. O próprio BC reconheceu, na ata, que há ;sinais de expansão mais moderada da oferta de crédito, em especial para as pessoas físicas;. Nesse contexto, as vendas nos supermercados caíram 4,59% em junho ante maio.
Ruído no mercado
A mudança de posição do BC num espaço tão curto de tempo ; a ata da reunião de 9 de junho tinha sido bastante dura, apontando para um cenário de deterioração das expectativas inflacionárias ; desagradou muitos analistas, por criar ruídos. ;O BC está olhando na margem, uma postura diferente da que vinha passando para o mercado;, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. ;A ata não foi surpresa, mas sim a decisão do Copom;, acrescentou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. Para ele, depois da ;surpresa; de reduzir o ritmo de alta da Selic, de 0,75 para 0,5 ponto, era natural que o discurso fosse convergente até mesmo para não restabelecer o ruído da comunicação anterior. ;Se não ocorrerem novas surpresas, o BC deverá elevar os juros em mais 0,25 ponto, finalizando o ciclo de alta em 11% em setembro;, afirmou.
Para Flávio Serrano, economista-sênior do Banco BES Investimento, o BC mudou porque o cenário também mudou. ;A inflação está convergindo e o risco externo diminuiu;, explicou. Ele destacou que, antes da última reunião do Copom, apostava em mais dois aumentos de 0,5 ponto para a Selic. ;Agora, dificilmente, haverá um ajuste adicional a partir de setembro;, disse. E emendou: ;O espaço de uma reunião para outra é pequeno, mas, mesmo assim, o cenário mudou rapidamente. Se tivermos surpresas, agora, será por conta do cenário externo(1). Se lá fora a situação melhorar, poderá produzir um pouco mais de inflação aqui dentro; explicou.
O economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, também ressaltou a mudança significativa entre as duas últimas reuniões do Copom. ;A economia está muito volátil e as informações mudaram bastante nesse período;, pontuou. Para ele, o BC pode, inclusive, ter exagerado no viés de alta da reunião de junho. ;Vai ser muito difícil para o BC alterar de novo o discurso;, observou, referindo-se ao posicionamento mais favorável do último comunicado. Quer dizer: o BC abriu mão dos argumentos para novos arrochos monetários.
1 - Deflação à japonesa
Enquanto, no Brasil, os economistas discutem se a inflação está ou não sob controle, nos Estados Unidos, os riscos são de uma forte queda nos preços, processo que se assemelharia à ;deflação japonesa;, fruto de um longo período de estagnação econômica que arruinaria empresas e levaria a um elevado índice de desemprego. A péssima previsão foi feita pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano.
Aluguel sobe 5,8%
Os brasileiros que vão renovar os contratos de aluguel em agosto devem se preparar: a correção será de 5,79%, alta acumulada pelo Índice Geral de Preços ; Mercado (IGP-M) nos 12 meses terminados em julho. Foi o que informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Neste mês, especificamente, o indicador avançou 0,15%, um alívio se levado em consideração que, em junho, houve um salto de 0,85%. No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, o IGP-M avançou 5,85%.
A boa notícia, segundo os pesquisadores da FGV, é que os três grupos de preços que compõem o IGP-M estão se desacelerando. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) que mede os custos entre as empresas, computou elevação de 0,20% em junho contra o 1,09% do mês anterior. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), por sua vez, registrou alta de 0,62% frente 1,77% de junho. Essa desaceleração decorreu, principalmente, dos materiais e equipamentos, cujos reajustes baixaram de 1,04% para 0,53%, dos serviços, que cederam de 0,92%, para 0,27%, e da mão de obra, de 2,59% para 0,77%.
Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) contabilizou queda de 0,17%, praticamente o mesmo recuo verificado em junho (-0,18%). Mas quatro das sete classes de despesas que formam esse indicador registraram avanços: as despesas diversas passaram de um aumento de 0,44% para 0,85%; a deflação dos alimentos diminuiu de 1,36% para 1,05%; nos transportes, a queda passou de 0,17% para 0,06%; e, na saúde e cuidados pessoais, os reajustes saltaram de 0,46% para 0,54%.
Para os analistas, não há perspectivas de forte aceleração do IGP-M nos próximos meses, pois os preços dos principais produtos agrícolas estão em baixa e não se espera mais grandes saltos nas cotações do minério de ferro. As projeções para o índice neste ano vêm recuando há quatro semanas na pesquisa realizada pelo Banco Central, apontando para alta de 8,57%. Em 2011, as apostas são de incremento de 5%.