postado em 31/07/2010 07:00
Se os ânimos melhoraram para a economia dos Estados Unidos no início de 2010, dando sinais de retomada de crescimento com a alta de 3,7% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, o cenário revelado ontem descortinou um horizonte de preocupações. De acordo com o Departamento de Comércio norte-americano, a locomotiva mundial registrou uma expansão de 2,4% entre abril e junho deste ano, avanço abaixo das estimativas de 2,5% a 2,6% projetadas pelos analistas de Wall Street. Mais do que isso, a revisão dos dados mostrou que a recessão no país, a pior desde a década de 1930, foi muito mais profunda do que calculou, até aqui, o governo de Barack Obama.
Desde o último trimestre de 2007 ; início da retração atual ; até o segundo trimestre de 2009, o país sofreu uma contração de 4,1%, e não de 3,7%, como havia anunciado o Departamento de Comércio. Em todo o ano de 2009, os EUA encolheram 2,6%, e não 2,4%. E em 2008, no lugar do tímido avanço de 0,4%, houve, de fato, uma estagnação. Em 2010, apesar de o desempenho entre abril a junho ter ficado abaixo do aguardado pelo mercado, Obama comemorou. ;Soubemos que nossa economia cresceu 2,4% no segundo trimestre deste ano e isso é um sinal bem-vindo em relação à nossa situação precedente. Mas precisamos aumentar essa taxa e criar empregos, para seguir adiante;, declarou.
Grande parte da perda do ímpeto do PIB se deu pela diminuição dos gastos dos consumidores norte-americanos, considerado um motor fundamental para os EUA e responsável por dois terços do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). Enquanto nos primeiros três meses do ano esse indicador apresentou um aumento de 1,9%, no trimestre seguinte o crescimento caiu para 1,6%. A expansão para o período também foi contida por um salto de 28,8% das importações, que ofuscou o avanço de 10,3% das exportações, o que subtraiu 2,78 pontos percentuais do crescimento.
O economista do Banco Santander Cristiano Souza lembrou que boa parte da expansão dos EUA foi impulsionada pelo pacote do governo de US$ 862 bilhões, dinheiro jogado na economia na forma de estímulos fiscais, cortes de impostos e aumento de gastos. ;Por um tempo, o governo tomou o lugar do setor privado para impulsionar o crescimento do país, mas tudo tem limite. Agora, com os incentivos dados aos setores automobilísticos e imobiliários se esvaindo, surge a preocupação se o setor privado irá conseguir sustentar a recuperação;, alertou.
O principal receio apontado pela diretora de estratégia de renda fixa do Banco Espírito Santo Investimento (BES), Sandra Utsumi, é que, com a falta de participação direta do governo para estimular setores da cadeia produtiva, a economia norte-americana sofra o chamado efeito W ; forma que ilustra o fenômeno de uma recuperação seguida de queda. ;Indicadores que medem a confiança da indústria e do consumidor apontam, há alguns meses, uma queda. Supomos que esse risco realmente existe;, disse Sandra.
Ouça trecho da entrevista com a diretora de estratégia de renda fixa do BES, Sandra Utsumi, sobre a desaceleração da economia norte-americana